segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Como poderíamos descrever o gosto do sal para alguém que nunca o experimentou?
No máximo, o que poderíamos dizer é que
o gosto do sal é “salgado”



Será mais nobre sofrer na alma
pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias -
E, combatendo-o, dar-lhe fim?” ATO III – CENA I – (Solilóquio de Hamlet- William Shakespeare)

E.A

A ESCURIDÃO É OFUSCANTE...
TALVEZ, POR ISSO
GRANDE PARTE DOS ACHADOS
QUE ESCREVESTES...
NÃO COMPREENDI !!!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento…

Mário Quintana

nietzche

“Conheço minha sina. Um dia, meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo — de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciências, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, requerido. (…) Tenho um medo pavoroso de que um dia me declarem santo: perceberão que publico este livro antes, ele deve evitar que se cometam abusos comigo. (…) Pois quando a verdade sair em luta contra a mentira de milênios, teremos comoções, um espasmo de terremoto, um deslocamento de montes e vales como jamais foi sonhado. A noção de política estará então completamente dissolvida em uma guerra de espíritos, todas as formações de poder da velha sociedade terão explodido pelos ares — todas se baseiam inteiramente na mentira: haverá guerras como ainda não houve sobre a Terra.”
Todos os Fins São Neutralizados

Todos os fins são neutralizados, e os juízos de valor viram-se uns contra os outros:
Dizemos bom aquele que só escuta o seu coração, mas também aquele que só escuta o seu dever;
Dizemos que é bom o indulgente, o pacífico, mas também dizemos que é bom o valente, o inflexível, o rígido;
Dizemos bom aquele que não pratica a violência contra si próprio, mas também dizemos bom o herói, que triunfa de si mesmo;
Dizemos bom o amigo da verdade absoluta, mas também dizemos bom o homem piedoso, que tudo transfigura;
Dizemos bom aquele que é altaneiro, mas também dizemos bom o homem piedoso;
Dizemos bom o homem distinto, o aristocrata, mas também dizemos bom aquele que não é, nem desdenhoso, nem arrogante;
Dizemos bom o homem cordato, que evita conflitos, mas também dizemos bom o que deseja a luta e a vitória;
Dizemos bom aquele que quer ser sempre o primeiro, mas também dizemos bom aquele que não deseja sobrepor-se a ninguém.

Friedrich Nietzsche, in ‘A Vontade de Poder’
“Viveu oitenta anos”

Diariamente criticamos o destino: “Porque foi este homem arrebatado a meio da carreira? E aquele, porque não morre, em vez de prolongar uma velhice tão penosa para ele como para os outros?” Diz-me cá, por favor: o que achas tu mais justo, seres tu a obedecer à natureza ou a natureza a ti? Que diferença faz sair mais ou menos depressa de um sítio de onde temos mesmo de sair? Não nos devemos preocupar em viver muito, mas sim em viver plenamente; viver muito depende do destino, viver plenamente, da nossa própria alma. Uma vida plena é longa quanto basta; e será plena se a alma se apropria do bem que lhe é próprio e se apenas a si reconhece poder sobre si mesma. Que interessa os oitenta anos daquele homem passados na inacção? Ele não viveu, demorou-se nesta vida; não morreu tarde, levou foi muito tempo a morrer! “Viveu oitenta anos!”. O que importa é ver a partir de que data ele começou a morrer. “Mas aquele outro morreu na força da vida”. É certo, mas cumpriu os deveres de um bom cidadão, de um bom amigo, de um bom filho, sem descurar o mínimo pormenor; embora o seu tempo de vida ficasse incompleto, a sua vida atingiu a plenitude.
“Viveu oitenta anos”. Não, existiu durante oitenta anos, a menos que digas que ele viveu no mesmo sentido em que falas na vida das árvores. Peço-te insistentemente, Lucílio: façamos com que a nossa vida, à semelhança dos materiais preciosos, valha pouco pelo espaço que ocupa, e muito pelo peso que tem. Avaliemo-la pelos nossos actos, não pelo tempo que dura. Queres saber qual a diferença entre um homem enérgico, que despreza a fortuna, cumpre todos os deveres inerentes à vida humana e assim se alça ao seu supremo bem, e um outro por quem simplesmente passam numerosos anos? O primeiro continua a existir depois da morte, o outro já estava morto antes de morrer! Louvemos, portanto, e incluamos entre os afortunados o homem que soube usar com proveito o tempo, mesmo exíguo, que viveu. Contemplou a verdadeira luz; não foi um como tantos outros; não só viveu, como o fez com vigor.

Séneca, in ‘Cartas a Lucílio’
O doido da garrafa

Adriana Falcão


Ele não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas as outras pessoas do mundo insistiam em dizer que ele era doido.

Depois que se apaixonou por uma garrafa de plástico de se carregar na bicicleta e passou a andar sempre com ela pendurada na cintura, virou o Doido da Garrafa.

O Doido da Garrafa fazia passarinhos de papel como ninguém, mas era especialista mesmo em construir barquinhos com palitos. Batizava cada barco com um nome de mulher e, enquanto estava trabalhando nele, morria de amores pela dona imaginária do nome. Depois ia esquecendo uma por uma, todas elas, com exceção de Olívia, uma nau antiga que levou dezessete dias para ser construída.

Batucava muito bem e vivia inventando, de improviso, músicas especialmente compostas para toda e qualquer finalidade, nos mais variados gêneros. Uai aí aquela da mulher de blusa verde atravessando a rua apressada, e o Doido da Garrafa imediatamente compunha um samba, uma valsa, um rock, um rap, um blues, dependendo da mulher de blusa verde, do atravessando, da rua e do apressada. Geralmente ficava uma obra-prima.

Gostava muito de observar as pessoas na rua, do cheiro de café, de cantar e de ouvir música. Não gostava muito do fato de ter pernas, mas acabou se acostumando com elas. De cabelo ele gostava. Em compensação, tinha verdadeiro horror a multidão, bermudão, tubarão, ladrão, camburão, bajulação, afetação, dança de salão, falta de educação e à palavra bife.

Escrevia cartas para ninguém, umas em prosa, outras em poesia, como mero exercício de estilo.

Tinha mania de dar entrevistas para o vento e já sabia a resposta de qualquer pergunta que porventura alguém pudesse lhe fazer um dia.

Ajudava o dicionário a explicar as coisas inventando palavras necessárias, como dorinfinita.

Adorava álgebra, mas tinha particular antipatia por trigonometria, pois não encontrava nenhum motivo para se pegar pedaços de triângulos e fazer contas tão difíceis com eles.

Conhecia mitologia a fundo.

Tinha angústia matinal, uma depressão no meio da tarde que ele chamava de cinco horas, porque era a hora que ela aparecia, e uma insônia crônica a quem chamava carinhosamente de Proserpina.

Sentia uma paixão azul dentro do peito, desde criança, sempre que olhava o mar e orgulhava-se muito disso.

Acreditava no amor, mas tinha vergonha da frase.

Às vezes falava sozinho, Preferia tristeza à agonia.

Todas as noites, entre oito e dez e meia, era visto andando de um lado para o outro da rua, método que tinha inventado para acabar de vez com a preocupação de fazer a volta de repente, quando achava que já tinha andado o suficiente. (Preferia que ninguém percebesse que ele não tinha para onde ir.) Enquanto andava, repetia dentro da cabeÇa incessantemente a palavra ecumênico sem ter a menor idéia da razão pela qual fazia isso.

Durante o dia o Doido da Garrafa trabalhava numa multinacional, era sujeito bem visto, supervisor de departamento, ganhava um bom salário e gratificações que entregava para a mulher aplicar em fundos de investimento.

No fim do ano ia trocar de carro.

Era excelente chefe de família.

Não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas sempre que ele passava as outras pessoas do mundo pensavam, lá vai o Doido da Garrafa, e assim se esqueciam das suas próprias garrafas um pouquinho.
Pense sobre religião… dispense certas armas…

Eu tenho uma religião, a minha religião, e mesmo até mais do que todos eles, com as suas mesmices e charlatanices.
Eu creio em Deus! Creio no Ente Supremo, em um Criador, qualquer que seja, pouco importa, que nos pôs neste mundo para desempenharmos os nossos deveres de cidadãos e de pais de família; mas o que não preciso é ir a uma igreja beijar as salvas de prata, engordar com a minha algibeira uma súcia de farsantes que vivem muito melhor do que nós!
Porque o podemos venerar de qualquer maneira, em um bosque, em um campo, ou mesmo contemplando a abóbada celeste, como faziam os antigos.
O meu Deus, é o Deus de Sócrates, de Franklin, de Voltaire e de Béranger!
Eu sou pela “profissão de fé do vigário saboiano” e pelos princípios imortais de 1789!
Por isso não admito um Deus que passeie no seu jardim de bengala na mão, que aloje amigos no ventre das baleias, morra soltando um grito e ressuscite ao fim de três dias: coisas absurdas por si mesmas e completamente opostas, além disso, a todas as leis da física; o que nos demonstra, de resto, que os padres têm sempre permanecido em uma ignorância torpe, na qual se esforçam por mergulhar as populações.”

Trecho do Livro ” Madame Bovary de Gustave Flaubert – 1857)
Que a mulher que eu amo
seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade

(Oswaldo Montenegro)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

William Shakespeare





Não é digno de saborear o mel aquele que se afasta da colméia com medo das picadelas das abelhas.

William Shakespeare
Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...

William Shakespeare

sábado, 19 de setembro de 2009

Contam que um dia se reuniram num lugar da terra todos os sentimentos e qualidades humanas. Quando o Tédio se apresentou pela terceira vez, a Loucura, como sempre um pouco fora de propósito, disse: “Vamos jogar às escondidas?”

O Interesse levantou o sobrolho e a Curiosidade sem poder conter-se perguntou: “Ás escondidas? De que se trata?”

“É um jogo” explicou a Loucura “Eu tapo os olhos e conto até 1.000.000, enquanto vocês se escondem e, quando tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar fica no meu lugar para continuar o jogo.”

O Entusiasmo pôs-se a dançar, acompanhado pela Euforia.

A Alegria deu tantos saltos que acabou por convencer a Dúvida e até a Apatia, à qual o jogo não interessava nada.

Mas nem todos quiseram participar. A Verdade preferiu não se esconder. E se no fim todos a descobrem? A Soberba pensou que era um jogo maçador (mas no fundo o que a aborrecia era não ter sido uma ideia sua) e a Covardia preferiu não arriscar.
“Um, dois, três…” começou a contar a loucura. A primeira a esconder-se foi a Preguiça que se deixou cair por trás da primeira pedra que encontrou no caminho. A Fé voou até ao céu e a Inveja escondeu-se na sombra do Triunfo que com a própria força conseguiu subir a árvore mais alta. A Generosidade quase não se conseguia esconder, pois cada lugar que encontrava lhe parecia perfeito para algum dos seus amigos. Que dizer de um lago cristalino? Ideal para a Beleza. O tronco de uma árvore? Perfeito para a Timidez. As asas de uma borboleta? O melhor para a Alegria. Um sopro de vento? Magnífico para a Liberdade. Assim a Generosidade acabou por se esconder num raio de sol.

O Egoísmo, pelo contrário encontrou imediatamente um bom esconderijo, arejado, confortável e só para si. A Mentira escondeu-se no fundo do oceano (na verdade, escondeu-se dentro do arco íris). A Paixão e o Desejo no centro de um vulcão. O Esquecimento… não me lembro onde… Quando a Loucura chegou a 999.999 o Amor ainda não tinha encontrado um esconderijo pois estavam todos ocupados, por fim descobriu uma roseira e decidiu esconder-se no no meio das flores.

“Um milhão!” disse a Loucura. Começou então a procurar. A primeira a aparecer foi a Preguiça, só a três passos de uma pedra. Depois a Fé, que estava a discutir com Deus sobre questões de teologia, e sentiu vibrar a Paixão e o Desejo no fundo do vulcão. Por acaso encontrou a Inveja e pode deduzir onde estava o Triunfo. O Egoísmo não conseguiu encontrá-lo. Tinha fugido do seu esconderijo porque reparou que tinha um ninho de vespas. Depois de tanto caminhar, a Loucura tinha sede e ao aproximar-se do lago descobriu a Beleza. Com a Dúvida foi ainda mais fácil, porque estava sentada numa cerca sem ter ainda decidido onde esconder-se.

Foi descobrindo todos: o Talento na erva fresca, a Angústia numa gruta triste, a Mentira dentro do arco íris e por fim o Esquecimento que se tinha esquecido que estava escondido. Só o amor não aparecia em parte alguma. A loucura procurou por trás de cada árvore, por trás de cada pedra, em cima dos montes e quando estava a dar-se por vencida descobriu a roseira e começou a mexer nos ramos. Quando, de repente, se ouviu um grito de dor: os espinhos tinham ferido os olhos do Amor…! A Loucura não sabia mais o que fazer para se desculpar: chorou, rezou, implorou, pediu perdão e por fim prometeu-lhe que dai em diante ficaria sua guia. Até agora, desde a primeira vez que se jogou às escondidas na terra, o Amor é cego e a Loucura acompanha-o sempre!

(texto atribuído à "maman", sem outras referências).





"Com efeito, o que é a vida se suprimis seus prazeres? Merece ela então o nome de vida?... Vós me aplaudis, meus amigos! Ah! Eu sabia o quanto éreis todos muito loucos, isto é, muito sábios, para não compartilhar meu pensamento... Os próprios estóicos amam o prazer; eles não poderiam odiá-lo. Por mais que dissimulem, por mais que difamem a volúpia aos olhos do vulgo, cumulando-a de injúrias as mais atrozes, é puro fingimento! Tratam de afastar os outros dela para que eles próprios a usufruam com mais liberdade. Mas por todos os deuses! Que eles me digam então qual instante da vida não é triste, tedioso, desagradável, insípido, insuportável se não for temperado pelo prazer, isto é, pela loucura. Eu poderia contentar-me aqui em citar o testemunho de Sófocles, esse grande poeta que nunca se terá louvado bastante, e que fez de mim um tão belo elogio quando disse: A vida mais agradável é a que transcorre sem nenhuma espécie de sabedoria. (...)"

Extraído de Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam – 1508.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

depois de um amor dito impossível, houve
dor, houve incompreensão, houve silêncios
e houve o desterro. houve forte por dentro
a sensação de que nada nem ninguém jamais
abarcaria o vazio deixado, houve o vínculo
ferido, houve a racionalização do desejo,
e então nasceu uma suprema esperança de
que tudo não passasse de atração proibida.

houve a insana crença em um amanhã que
redimisse e apagasse os erros do hoje,
a necessidade de se procurar no mundo
exterior algo que suprisse o vácuo que
um sentimento instintivo e louco deixou
num coração então ainda despreparado
para lidar com a força desse elo vital
que se tornou um canal de transcendência,
um meio de sobrevivência.

toda a energia represada então se tornou
lirismo, se desfez em emoção. conectada
afinal com o fundo de uma alma angustiada,
sozinha para pôr em ordem tantos elementos
incongruentes, me vi livre pela primeira
vez, de culpas, tormentos, dores e perdas
que desde sempre me atormentam sem solução
e assim o caso entrou naturalmente na conta
dos meus já inúmeros fracassos, quem sabe
o mais lindo de todos.

by 愛 dani weber 愛

"ando muito completo de vazios.
meu órgão de morrer
me predomina.
estou sem eternidades
não posso mais saber
quando amanheço ontem.
está rengo de mim o amanhacer.
ouço o tamanho oblíquo de uma folha
atrás do ocaso foram os insetos.
enfiei o quanto que pude
dentro de um grilo o meu destino
essa coisas me mudam para cisco.
a minha independência tem algemas."

(manoel de barros,
in 'ignorãças'1993)
A amizade e a lealdade residem numa identidade de almas raramente encontrada.

Epicuro
O Jardim do Amor





Tendo ingressado no Jardim do Amor,

Deparei-me com algo inusitado:

Haviam construído uma Capela

No meio, onde eu brincava no gramado.

E ela estava fechada; "Tu não podes"

Era a legenda sobre a porta escrita.

Voltei-me então para o Jardim do Amor,

Onde crescia tanta flor bonita,

E recoberto o vi de sepulturas

E lousas sepulcrais, em vez de flores;

E em vestes negras e hediondas os padres faziam rondas,

E atavam com nó espinhoso meus desejos e meu gozo.

William Blake



A Tradição Ancestral que o mundo será consumido no fogo ao final de seiscentos anos é verdadeira, como ouvimos lá no Inferno. Para os Anjos com suas espadas de fogo será necessário baixar sua guarda em prol da Árvore da Vida, e quando ele chegar, toda a criação será consumida a se desvelará o Infinito, e o sagrado dará lugar ao finito e perverso. Todo o crivo deverá ser o melhoramento do Prazer Sensual. Mas a primeira noção que o homem tem para poder distinguir seu corpo de sua alma,será riscada, assim eu o farei, utilizando o metodo infernal, por corrosão, o que aqui no Inferno é salutar e medicinal, derretendo suas cascas e exibindo o infinito que ali reside. Quando as portas da percepção forem abertas, tudo será como é: Infinito! Para o homem fechado em si mesmo, avise-o para olhar através das brechas de sua própria caverna.

( WILLIAM BLAKE )


O amor não busca agradar a si mesmo / Nem destina qualquer cuidado a si próprio / Mas se dá facilmente ao outro, / E constrói um Paraíso no desespero do Inferno.

( WILLIAM BLAKE )

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Espaço Liso

Paulinho Moska

Composição: Moska

Eu amo a causa, e não a conseqüência
Eu amo o Pensamento, e não a inteligência
Eu amo a Loucura, e não a consciência
Eu amo a paciência, eu amo a paciência

Eu amo o deserto, a não a muralha
Eu amo o mergulho, e não a medalha
Eu amo suor, e não a toalha
Eu amo a batalha, eu amo a batalha

Eu amo a alma, e não a pessoa
Eu amo a cara, e não a coroa
Eu amo a corrida, e não a linha de chegada
Eu amo a estrada, eu amo a estrada

Eu amo o agora, e não a memória
Eu amo a luta, e não a vitória
Eu amo o fato, e não a história
Eu amo a trajetória, eu amo a trajetória

Eu amo o bem forte, e não o assim
Eu amo o papel, e não o cetim
Eu amo pra onde vou, e não de onde eu vim
Eu amo o meu meio, e não o meu fim

terça-feira, 15 de setembro de 2009

RAINER MARIA RILKE
DIA DE OUTONO

Senhor: é mais que tempo. O verão foi muito intenso.
Lança a tua sombra sobre os relógios de sol
e por sobre as pradarias desata os teus ventos.

Ordena às últimas frutas que fiquem maduras,
dá-lhes ainda mais uns dois dias de calor,
leva-as à completude e não deixes de pôr
no vinho pesado sua última doçura.

Quem não tem casa não a irá mais construir.
Quem está sozinho vai ficá-lo ainda mais.
Insone, há de ler, escrever cartas torrenciais
e correr as aléias num inquieto ir-e-vir
enquanto o vento carrega as folhas outonais.
perguntam-me como me tornei louco.
aconteceu assim:

um dia, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras
tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado
em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias gritando:

'ladrões, ladrões, malditos ladrões!'

homens e mulheres riram e alguns correram para casa, com medo de mim.
e quando cheguei à praça do mercado, um garoto gritou de cima de um telhado:

'é um louco!'

olhei para cima, para vê-lo.
pela primeira vez, o sol beijava minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,e não desejei mais minhas máscaras.
e, como num transe, gritei:

'benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!'

assim me tornei louco.
e encontrei tanto liberdade como segurança na loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido,
pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

(gibran kahlil gibran)
"lá bem no alto
do décimo segundo andar do ano
vive uma louca chamada Esperança
e ela pensa que quando
todas as sirenas
todas as buzinas
todos os reco-recos tocarem
atira-se e

— 'ó delicioso vôo!'

ela será encontrada
miraculosamente incólume na calçada,
outra vez criança...
e em torno dela indagará o povo:

— 'como é teu nome,
meninazinha de olhos verdes?'

e ela lhes dirá
(é preciso dizer-lhes tudo de novo!)
ela lhes dirá bem devagarinho,
para que não esqueçam:
— o meu nome é ES-PE-RAN-ÇA..."

( mario quintana )
eu...


???!!!???

terça-feira, 8 de setembro de 2009

PRIMEIRA ELEGIA

Quem se eu gritasse, me ouviria pois entre as ordens
Dos anjos? E dado mesmo que me tomasse
Um deles de repente em seu coração, eu sucumbiria
Ante sua existência mais forte. Pois o belo não é
Senão o início do terrível, que já a custo suportamos,
E o admiramos tanto porque ele tranqüilamente desdenha
Destruir-nos. Cada anjo é terrível.
E assim me contenho pois, e reprimo o apelo

De obscuro soluço. Ah! A quem podemos
Recorrer então? Nem aos anjos nem aos homens,
E os animais sagazes logo percebem
Que não estamos muito seguros
No mundo interpretado. Resta-nos talvez
Alguma árvore na encosta que diariamente
Possamos rever. Resta-nos a rua de ontem
E a mimada fidelidade de um hábito,
Que se compraz conosco e assim fica e não nos abandona.
Ó e a noite, a noite, quando o vento cheio dos espaços
Do mundo desgasta-nos o rosto -, para quem ela não é /sempre a desejada,
Levemente decepcionante, que para o solitário coração
Se impõe penosamente. Ela é mais leve para os amantes?
Ah! Eles escondem apenas um com o outro a própria sorte.
Não o sabes ainda? Atira dos braços o vazio
Para os espaços que respiramos; talvez que os pássaros
Sintam o ar mais vasto num vôo mais íntimo.

Sim, as primaveras precisavam de ti.Muitas estrelas
Esperavam que tu as percebesses. Do passado
Erguia-se uma vaga aproximando-se, ou
Ao passares sob uma janela aberta,
Um violino se entregava. Tudo isso era missão.
Mas a levaste ao fim? Não estavas sempre
Distraído pela espera, como se tudo te ansiasse
A bem amada? (onde queres abrigá-la
Então, se os grandes e estranhos pensamentos entram
E saem em ti e muitas vezes ficam pela noite.)
Se a nostalgia te dominar, porém, cantas as amantes; muito
Ainda falta para ser bastante imortal seu celebrado sentimento.
Aquelas que tu quase invejaste, as desprezadas, que tu
Achaste muito mais amorosas que as apaziguadas. Começa
Sempre de novo o louvor jamais acessível;
Pensa: o herói se conserva, mesmo a queda lhe foi
Apenas um pretexto para ser : o seu derradeiro nascimento.
As amantes, porém, a natureza exausta as toma
Novamente em si, como se não houvesse duas vezes forças para realizá-las.
Já pensaste pois em Gaspara Stampa
O bastante para que alguma jovem,
A quem o amante abandonou, diante do elevado exemplo
Dessa apaixonada, sinta o desejo de tornar-se como ela?
Essas velhíssimas dores afinal não se devem tornar
Mais fecundas para nós? Não é tempo de nos libertarmos,
Amando, do objeto amado e a ele tremendo resistirmos Como a flecha suporta à corda, para, concentrando-se no salto Ser mais do que ela mesma?
Pois parada não há em /parte alguma.

Vozes, vozes.Escuta, coração como outrora somente
os santos escutavam: até que o gigantesco apelo
levantava-os do chão; mas eles continuavam ajoelhados,
inabaláveis, sem desviarem a atenção:
eles assim escutavam. Não que tu pudesses suportar
a voz de Deus, de modo algum. Mas escuta o sopro,
a incessante mensagem que nasce do silêncio.
Daqueles jovens mortos sobe agora um murmúrio em direção /a ti.
Onde quer que penetraste, nas igrejas
De Roma ou de Nápoles, seu destino não falou a ti, /tranqüilamente?
Ou uma augusta inscrição não se impôs a ti
Como recentemente a lousa em Santa Maria Formosa.
Que eles querem de mim? Lentamente devo dissipar
A aparência de injustiça que às vezes dificulta um pouco
O puro movimento de seus espíritos.

Certo, é estranho não habitar mais terra,
Não mais praticar hábitos ainda mal adquiridos,
Às rosas e outras coisas especialmente cheias de promessas
Não dar sentido do futuro humano;
O que se era, entre mãos infinitamente cheias de medo
Não ser mais, e até o próprio nome
Deixar de lado como um brinquedo quebrado.
Estranho, não desejar mais os desejos. Estranho,
Ver tudo o que se encadeava esvoaçar solto
No espaço. E estar morto é penoso
E cheio de recuperações, até que lentamente se divise
Um pouco da eternidade. - Mas os vivos
Cometem todos o erro de muito profundamente distinguir.
Os anjos (dizem) não saberiam muitas vezes
Se caminham entre vivos ou mortos. A correnteza eterna
Arrebata através de ambos os reinos todas as idades
Sempre consigo e seu rumor as sobrepuja em ambos.

Finalmente não precisam mais de nós os que partiram cedo,
Perde-se docemente o hábito do que é terrestre, como o /seio materno
suavemente se deixa, ao crescer.Mas nós que de tão grandes
mistérios precisamos, para quem do luto tantas vezes
o abençoado progresso se origina - : poderíamos passar /sem eles?
É vã a lenda de que outrora, lamentando Linos,
A primeira música ousando atravessou o árido letargo,
Que então no sobressaltado espaço, do qual um quase /divino adolescente
escapou de súbito e para sempre, o vazio entrou
naquela vibração que agora nos arrebata e consola e ajuda?

( Rainer Maria Rilke ).
O que Nietzsche chamou de "ressentido" é retratado magistralmente nesse texto de Dostoiévski. Seguem trechos selecionados:


"Sou um homem doente... um homem mau. Um homem desagradável."

"Sou desconfiado e me ofendo com facilidade."


"Afinal de contas, eu provavelmente nunca saberia o que fazer com minha magnanimidade – nem perdoar, porque meu ofensor pode ter me esbofeteado em obediência às leis da natureza; nem esquecer, pois, mesmo que se trate das leis da natureza, ainda assim é ofensivo."


"Em toda a minha vida, não pude começar nem acabar coisa alguma. Admitamos, admitamos que eu seja um tagarela, um tagarela inofensivo, magoado, como todos nós. Mas que fazer, se a destinação única de todo homem inteligente é apenas a tagarelice, uma intencional e vazia tagarelice."


"Ali, no seu ignóbil e fétido subsolo, o nosso camundongo, ofendido, machucado, coberto de zombarias, imerge logo num rancor frígido, envenenado e, sobretudo, sempiterno. Há de lembrar, quarenta anos seguidos, a sua ofensa, até os derradeiros e mais vergonhosos pormenores; e cada vez acrescentará por sua conta novos pormenores, ainda mais vergonhosos, zombando maldosamente de si mesmo e irritando-se com a sua própria imaginação. Ele próprio se envergonhará dessa imaginação, mas, assim mesmo, tudo lembrará, tudo examinará, e há de inventar sobre si mesmo fatos inverossímeis, com o pretexto de que também estes poderiam ter acontecido, e nada perdoará."


"Podeis cobri-lo de todo os bens terrestres, afogá-lo em felicidade, de tal modo que apenas umas bolhazinhas apareçam na superfície desta, como se fosse a superfície da água: dar-lhe tal fartura, do ponto de vista econômico, que ele não tenha mais naa a fazer a não ser dormir, comer pão-de-ló e cuidar da continuação da história universal - pois mesmo neste caso o homem, unicamente por ingratidão e pasquinada, há de cometer alguma ignomínia."

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Álvaro de Campos

Apontamento




A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

sábado, 5 de setembro de 2009

QUISERA EU,
SER ALGO BOM E ASCESSÍVEL
EM QUE PUDESSES POUSAR OS OLHOS.
Meu Mundo É O Barro
O Rappa


Moço, peço licença
Eu sou novo aqui
Não tenho trabalho, nem passe, eu sou novo aqui
Não tenho trabalho, nem classe, eu sou novo aqui

Eu tenho fé
Que um dia vai ouvir falar de um cara que era só um Zé
Não é noticiário de jornal, não é
Não é noticiário de jornal, não é

Sou quase um cara
Não tenho cor, nem padrinho
Nasci no mundo, sou sozinho
Não tenho pressa, não tenho plano, não tenho dono

Tentei ser crente
Mas, meu cristo é diferente
A sombra dele é sem cruz, dele é sem cruz
No meio daquela luz, daquela luz

E eu voltei pro mundo aqui embaixo
Minha vida corre plana
Comecei errado, mas hoje eu tô ciente
Tô tentando se possível zerar do começo e repetir o play

Não me escoro em outro e nem cachaça
O que fiz tinha muita procedência
Eu me seguro em minha palavra
Em minha mão, em minha lavra


Dezembros
Fagner
Composição: Fagner/Zeca Baleiro/Fausto Nilo

Nunca mais a natureza da manhã
E a beleza no artifício da
cidade
Num edifício sem janelas,
desenhei os olhos dela
Entre vestígios de bala
e a luz da televisão
Os meus olhos tem a fome do horizonte
Sua face é um espelho sem promessas
Por dezembros atravesso
Oceanos e desertos
Vendo a morte assim tão perto
Minha vida em suas mãos
O trem se vai na noite sem estrelas
E o dia vem,nem eu nem trem
nem ela

Nunca mais a natureza nunca mais...


E.A

O QUE POSSO LHE PEDIR ?!?
ATÉ ONDE VEJO,( SE É QUE ISTO É VISÃO ).
TUAS MÃOS ANDAM TÃO VAZIAS QUANTO AS MINHAS,
SE EM TUA DISPENSA NADA HÁ...
SE ATÉ MESMO O SANGUE DE TEU ROSTO, O MESMO QUE LHE RUBORIZAVA OU
MOSTRAVA TEU ASPECTO NA CÓLERA EU ROUBEI !!!

O QUE MAIS POSSO LHE PEDIR ?!?

TENHO SIDO UM CÍNICO,
DESSES QUE ENTENDE DE PREÇOS MAS SEQUER COMPREENDE VALORES...

QUE EU DEIXE DISSO:
- QUE ESQUEÇA DE PEDIDOS E PERMISSÕES E TORNE-ME UM HOMEM GRATO.
POIS TENHO EM MEU INTIMO,
A DIREÇÃO DE SEUS OLHOS...
COMO PONTO DE PARTIDA
E ESPERANÇA.


sexta-feira, 4 de setembro de 2009

E.A

ORA,
A NAVALHA EM MINHAS MÃOS...
O PULSO É MEU,
AO MENOS A MATÉRIA ACREDITA SER.
A IDEIA JÁ NÃO, AS MÃOS QUEIMAM !!!

QUAL O PROBLEMA ENTÃO
DE CORTAR-SE UM POUQUINHO,
DE NÃO TER MEDO DA DOR E,
ATÉ LEMBRA-LÁ COM CERTO FASCÍNIO ?!?

E SENTIR, NÃO COMO OS OUTROS SENTEM
E NEM COMO EU MESMO SEI SENTIR,
ENQUANTO O SANGUE SE ESVAI

EU APRENDI TUDO ERRADO!!!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Existência


Sinto, ainda que vegete nessa vida!
E a dor que invade o meu peito iludido, o transforma em lama.
Desgastando-o e tirando de mim todo amor.
Queria ver o mundo do alto!
Enxergar a beleza que se esvai aos poucos.
Cair nas asas do mistério e saborear um pouco de toda loucura.
Viver uma vida diferente, incomum.
Poder relembrar minha historia, mas deixá-la para trás.
Seguir outros momentos, imaginando novos caminhos.
Construir um novo destino.
Conhecer minha própria razão.
Seguir meu próprio rumo ou não seguir rumo algum.
Deixar-me levar pela grande poesia da vida e ainda,
ser quem sempre sonhei.
Voar, quando me faltar o chão.
Isolar-me, quando me sentir aflita
e nunca me deixar levar apenas pela emoção.
Enlouquecer, mas saber controlar-me.
Crescer!
Tornar meus sonhos realidade.
Chorar de medo, de raiva...
De culpa. Aprender que não existe a perfeição.

(Rejane Gomes)