terça-feira, 29 de dezembro de 2009



UM POUCO DE QUINTANA.

DAS ILUSÕES

MEU SACO DE ILUSÕES, BEM CHEIO TIVE-O.
COM ELE IA SUBINDO A LADEIRA DA VIDA.
E, NO ENTRETANTO, APÓS CADA ILUSÃO PERDIDA...
QUE EXTRAORDINÁRIA SENSAÇÃO DE ALIVIO.


DA BOA E DA MÁ FORTUNA

É SEM RAZÃO, E É SEM MERECIMENTO,
QUE A GENTE A SORTE MALDIZ:
QUANTO A MIM, SEMPRE ODIEI O SOFRIMENTO,
MAS NUNCA SOUBE SER FELIZ...


DA MEDIOCRIDADE

NOSSA ALMA INCAPAZ E PEQUENINA
MAIS COMPLACÊNCIA QUE IRRISÃO MERECE;
NINGUÉM É TÃO BOM QUANTO IMAGINA.
TAMBÉM NÃO É TÃO MAU QUANTO PARECE.


DO ETERNO MISTÉRIO

“UM OUTRO MUNDO EXISTE...
UMA OUTRA VIDA...”
MAS DE QUE SERVE IRES PARA LÁ???
BEM COMO AQUI , TU’ALMA
ATONITA E PERDIDA
NADA COMPREENDERÁ.


DA CONTRADIÇÃO

SETE CONTRADISSESTE E ACUSAM-TE...
SORRI.
POIS NADA HOUVE EM REALIDADE
TEU PENSAMENTO É QUE CHEGOU POR SI,
NO OUTRO POLO DA VERDADE.


DO ESPETÁCULO DA VIDA

IMPOSSÍVEL SERÁ QUE MELHOR VIDA EXISTA.
ENQUANTO O MUNDO ASSIM SE DISTRIBUIR:
NO PALCO A ESTUPIDEZ PARA SER VISTA,
E A INTELIGÊNCIA NA PLATÉIA A RIR.


DAS FALSAS POSIÇÕES

COM A PELE DO LEÃO VESTIU-SE O BURRO UM DIA
PORÉM NO SEU ENCALÇO, A CADA INSTANTE E HORA,
“ OLHA O BURRO! FIAU, FIAU! ” – GRITAVA A BICHARIA...
TINHA O PARVO ESQUECIDO AS ORELHAS DE FORA!


DA FELICIDADE

QUANTAS VEZES A GENTE, EM BUSCA DA VENTURA,
PROCEDE TAL E QUAL O AVOZINHO INFELIZ:
EM VÃO POR TODA PARTE OS ÓCULOS PROCURA,
TENDO OS NA PONTA DO NARIZ!


DA CONDIÇÃO HUMANA

SE VARIAM NA CASCA, IDÊNTICO É O MIOLO,
JULGUEM-SE EMBORA DE DIVERSA TRAMA.
NINGUÉM MAIS SE PARECE UM VERDADEIRO TOLO
QUE O MAIS SUTIL DOS SÁBIOS QUANDO AMA...

" NÃO SEJAS MUITO JUSTO; NEM MAIS SÁBIO DO QUE É NECESSÁRIO,
PARA QUE NÃO VENHAS A SER ESTÚPIDO. "

( ECLESIASTES CAP.7 VERS.16 ).


" SOIS VÓS TÃO INSENSATOS QUE, TENDO COMEÇADO PELO ESPIRITO,
ACABEIS AGORA PELA CARNE? "

(GÁLATAS CAP.3 VARS.3 ).

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Recuerda que cada tic tac es un segundo de la vida que pasa y que no se repite, hay en ella tanta intensidad, tanto interés, que solo es el problema de saberla vivir. Que cada uno la resuelva como pueda.
Frida Kahlo

Tudo quanto penso
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou
Fernando Pessoa
" A vida não dá nem empresta
não se comove nem se apieda
Tudo quanto faz é
retribuir e transferir
Tudo quanto lhe oferecemos!"
( Albert Einstein)
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!



Mário Quintana
Eu me despeço.
Volto à minha casa, em meus sonhos.
Volto à Patagônia, aonde o vento golpeia os estábulos e salpica de frescor o Oceano.
Sou nada mais que um poeta: amo a todos, ando errante pelo mundo que amo.
Em minha pátria, prende-se mineiros e os soldados mandam mais que os juízes.
Entretanto, amo até mesmo as raízes de meu pequeno país frio.
Se tivesse que morrer mil vezes, ali quero morrer.
Se tivesse que nascer mil vezes, ali quero nascer.
Perto da araucária selvagem, do vendaval que vem do sul,
das campanas recém compradas.
Que ninguém pense em mim.
Pensemos em toda a terra, golpeando com amor a mesa.
Não quero que volte o sangue...
a molhar o pão, os feijões, a música:
quero que venha comigo o mineiro,
a criança, o advogado, o marinheiro, o fabricante de bonecas.
Que entremos no cinema e bebamos o vinho mais tinto.
Eu não vim para resolver nada.
Vim aqui para cantar e quero que cantes comigo.

Pablo Neruda
OFERTA

O que tenho para te dar? Uma gramática de sentimentos,
verbos sem o complemento de uma vida, os substantivos
mais pobres de um vocabulário íntimo - o amor, o desejo,
a ausência. Que frase construiremos com tão pouco? A
que léxico de paciência iremos roubar o que nos falta?

Então, ofereço-te uma outra casa. As paredes têm a
consistência do verso; o tecto, o peso de uma estrofe.
Abro-te as suas portas; e o sol entra pela janela de
uma sílaba, com o seu fogo vocálico, como se uma
palavra pudesse aquecer o frio que te envolve.

E pergunto-te: que outras palavras queres? A música
sonora de um ócio? O espesso manto com que o veludo
se escreve? O fundo luminoso do azul? Poderia dar-te
todas as palavras na caixa do poema; ou emprestar-te
o canto efémero em que se escondem do mundo.

Mas não é isso que me pedes. E a vida que pulsa
por entre advérbios e adjectivos esfuma-se depressa,
quando procuramos seguir a linha do verso. O que fica?,
perguntas-me. Um encontro no canto da memoria. Risos,
lágrimas, o terno murmúrio da noite. Nada, e tudo.

Nuno Júdice, in O Estado dos Campos
Nunca mais esquecerei esta noite, a primeira noite no campo, que fez da minha vida uma noite longa e sete vezes aferrolhada.
Nunca mais esquecerei aquele fumo.
Nunca mais esquecerei as pequeninas caras das crianças cujos corpos eu tinha visto transformarem-se em espirais sob um azul mudo.
Nunca mais esquecerei estas chamas que consumiram para sempre a minha Fé.
Nunca mais esquecerei este silêncio nocturno que me privou, para a eternidade, do desejo de viver.
Nunca mais me esquecerei estes momentos que assassinaram o meu Deus e a minha alma, e os meus sonhos, que tomaram a aparência de um deserto.
Nunca mais esquecerei isto, mesmo que tenha sido condenado a viver tanto tempo quanto o próprio Deus. Nunca mais.

Elie Wiesel in Noite
A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre.

Oscar Wilde

IDEM CRISTIAN RIBAS

LUAR EM BRANCO E PRETO

Deixo as roupas atiradas. Não reparo nos objetos que abandonaram seu lugar. A TV não me diz nada em seu silêncio. As panelas ecoam por uma refeição. O relógio corre distante dos meus olhos. Hoje, nesse mero instante em que o destino traça novos rumos para meu caminho, não me importo com o que me cerca.
Estou aqui sentado. Busco palavras na minha cabeça que combinem com os ecos do meu coração. Sem teorias cristãs ou rimas politicamente corretas. Apenas, me liberto. Faz algum tempo que abandonei o calendário. Deixo que o tempo corra livre, para que meu coração se liberte também. Não há queixas, brigas, lamentações entre nós. Tão somente, respeito. Um consentimento voluntário do que nos falta. E o que nos sobra, derramamos ao solo. Na esperança de acalentar os corações partidos que necessitam de nossa fé.
Minha mente fica vaga. As palavras que somem. Os traços que não continuam. Os pontos distantes das vírgulas. Mas nada sem final. Uma mera pausa de descanso. Um instante em que meus olhos procuram os céus. Contando as estrelas como os amores perdidos. E refaço a contagem pelos tantos outros que irei encontrar. Desejo que não seja um amor para cada mulher, mas sim, todas em uma só. Da mesma forma que reinventarei a lógica dos amantes. Na minha devoção. Na minha entrega. Na minha admiração. Nas formas e nos contornos. Nas danças sem melodia. Nos acordes sem instrumentos. Nos gritos sem voz. Tão somente amor. Nada mais.
Cada dia, eu me surpreendo. Nada de vangloriar-se, soberba ou vaidade. Mas sim, na multiplicidade do amor e suas nuances. Independente dos corpos, das formas, das vozes, dos olhos, mas na alma. Na esperança. Na voracidade. Na luxúria. No desejo colorido no luar em branco e preto. Onde meus olhos não vêem as cores, mas meu coração, na sua molequice, inventa matizes, descobre traços, decanta versos que jamais conheci, mas que sinto, tão intenso quanto seu nobre pulsar.
Cristian Kiko Ribas

Correção de Rota

Parece um tango inacabado,
melodia triste e esquecida,
em alguma rua por Gardel.
Uma paixão que não acende.
Uma ação inconsequente
de quem procura
e não sabe o que quer encontrar.
Talvez, porque nem sei quem sou.
É uma branda cegueira,
incapaz de ver os puros.
Uma necessária bebedeira,
que busca no fundo do copo
as respostas que estão no fundo da alma,
no reflexo dos olhos
que teimam em não encarar no espelho.
É hora de pensar
e ver onde nos perdemos no caminho.
Pois, por mais que as placas apontem a direção,
somente nós poderemos corrigir o destino.

MÁRIO QUINTANA

Eu Escrevi um Poema Triste

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

domingo, 27 de dezembro de 2009

E.A

E A CAIXA DE PANDORA,
AINDA ESTÁ ABERTA.
ARRE, PARA QUE A ESPERANÇA???

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Lucidez Perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço.
Além do que:que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Clarice Lispector
Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade
Álvaro de Campos

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido,
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso, e foi afinal o melhor de mim, é que nem os Deuses fazem viver…
Se em certa altura
Tivesse voltado para esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também….
Tenho tanto sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal. Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

(Fernando Pessoa)
Não sei se acredito em amor à primeira vista… Mas um conselho: há na vida ao menos uma pessoa que, se não quiser ser condenado a passar os dias pensando nela, melhor conhecê-la de olhos fechados!
Todo o meu esforço canalizo para a vida. Não para o equilíbrio, não para as certezas. Sigo suportando nas costas todo o peso da desesperança, pois que a esperança, é ridículo, dramático, que a humanidade ainda precise dela.
Esperança em quê? Em remédios que curem?… Em poemas que se dão de mão em mão? E as cartas sem resposta? E os becos sem saída? E a nova hipocrisia?
E o deus-dinheiro que nos espreita a cada esquina?… E a áfrica? E a américa latina?…
E todas essas universidades e tantos analfabetos?…
Toda gente sabe a extensão da verdade: surpreendendo a paisagem esfomeada, o gatilho já não precisa do dedo de ninguém.
Cruzeiro Seixas
Exigências da vida moderna (quem agüenta tudo isso???)

Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C.

Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água.
E depois uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém
sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também.
Uma de vinho branco pro sistema nervoso.
Um copo de cerveja, para… Não lembro bem para o que, mas faz bem.
O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e
tiver um derrame, nem vai perceber………

Todos os dias deve-se comer fibra.
Muita, muitíssima fibra.
Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.
E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada.
Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia. UFA !!!

E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.
Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da
laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes,
passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.
Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um
equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai
passar ali várias horas por dia…

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia,
mais as cinco comendo são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito. TÁ DIFICILLLLL

As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia.
Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora
(por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a
voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser
regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar das minhas
amizades quando eu estiver viajando.

Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia
para comparar as informações.

Ah! E o sexo!!!!
Todos os dias, um dia sim, o outro também, tomando o cuidado de não se
cair na rotina.

Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução.

Dizer EU TE AMO, toda hora, ”ainda pego quem inventou essa
neura…que saco!!!” isso leva tempo e nem estou falando de sexo
tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e
espero que você não tenha um bichinho de estimação.
Se tiver tem que brincar com ele, pelo menos meia hora todo dia, para
ele não ficar deprimido….

Na minha conta são 29 horas por dia.

A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!!!

Tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os
dentes ao mesmo tempo.

Chame os amigos e seus pais, seu amor, o sogro, a sogra, os cunhados…
Beba o vinho, coma a maçã e dê a banana na boca da sua mulher.
Não esqueça do EU TE AMO, (Vou achar logo quem inventou isso, me aguarde).

Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se
sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.

Agora voce tá ferrado mesmo é se tiver criança pequena, ai lascou de
vez, porque o tempo que ia sobrar para voce… Meu já era.

Criança ocupa um tempo danado.

Agora tenho ir.

É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir
ao banheiro e correndo.

E já que vou, levo um jornal…

Tchau….

Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.

[Luís Fernando Veríssimo]
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!

Florbela Espanca


Quero grandes histórias e estórias
Quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada
Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira
Mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer
E me fazer crêr que é para sempre
Quando eu digo convicta que “nada é para sempre”.

Gabriel Garcia Marquez
Quem fez da modéstia uma virtude esperava que todos passassem a falar de si próprios como se fossem idiotas.
O que é a modéstia senão uma humildade hipócrita, através da qual um homem pede perdão por ter as qualidades e os méritos que os outros não têm?

Arthur Schopenhauer
“Sou a soma dos restos de tudo que já fui um dia”
A escolha inteligente

Uma vida bem sucedida depende das escolhas que fizermos. Temos de saber o que é ou não importante para nós. A escolha inteligente implica um sentido realista dos valores e um sentido realista das proporções. Este processo de escolha – de aceitação por um lado e de rejeição pelo outro – começa na infância e continua pela vida fora. Não podemos ter tudo o que ambicionamos. O homem de negócios que procura o sucesso financeiro tem muitas vezes de abandonar os seus interesses de ordem desportiva ou cultural. Os que preferem servir os interesses espirituais, culturais ou políticos da sociedade – sacerdotes, escritores, artistas, militares, homens de estado e funcionários públicos em geral – têm quase sempre de relegar para segundo plano o bem-estar financeiro.

Com uma vida limitada não podemos ser ou fazer tudo. Estamos constantemente a ter de escolher com que e com quem passar o nosso tempo. Cultivar amizades toma tempo. Às vezes temos de recusar encontros e desapontar muitas pessoas para termos tempo de alcançar os nossos fins. Todos os dias temos de escolher entre as coisas que estão à venda. Não podemos ter o mundo inteiro, tal como uma criança não pode comprar todos os rebuçados da doçaria se tiver apenas um tostão. Esta é uma das grandes lições da vida. Temos de escolher na altura própria, e o destino é a seara que cresce da semente da escolha. A fórmula para uma escolha inteligente exige não só um profundo conhecimento de nós próprios como uma afirmação da nossa própria maneira de ser.

Alfred Montapert, in ‘A Suprema Filosofia do Homem’
Liberdade de vontade

Onde um homem chega à convicção fundamental de que é preciso que mandem nele, ele se torna “crente”; inversamente seria pensável um prazer e uma força de autodeterminação, uma liberdade de vontade, em que um espírito se despede de toda crença, de todo desejo de certeza, exercitado, como ele está, em poder manter-se sobre leves cordas e possibilidades, e mesmo diante de abismos dançar ainda. Um tal espírito seria o espírito livre “par excellence”
(“A Gaia Ciência”, quinto livro, parágrafo 347)
A esperança

Pandora trouxe o vaso que continha os males e o abriu. Era o presente dos deuses aos homens, exteriormente um presente belo e sedutor, denominado “vaso da felicidade”. E todos os males, seres vivos alados, escaparam voando: desde então vagueiam e prejudicam os homens dia e noite. Um único mal ainda não saíra do recipiente: então, seguindo a vontade de Zeus, Pandora repôs a tampa, e ele permaneceu dentro. O homem tem agora para sempre o vaso da felicidade, e pensa maravilhas do tesouro que nele possui; este se acha à sua disposição: ele o abre quando quer; pois não sabe que Pandora lhe trouxe o recipiente dos males, e para ele o mal que restou é o maior dos bens – é a esperança. – Zeus quis que os homens, por mais torturados que fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem a se deixar torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens.
(Friedrich Nietzsche, “Humano, demasiado humano”,
Noite

Há tantas coisas germinando na noite, que nem sei como enumerá-las. À noite nascem as revoluções tanto as que vão triunfar como as que só se realizam em pensamento, e são quase todas. Os revolucionários viram-se, inquietos, na cama. E também os que se converterão, pela manhã, a religiões novas. E os amorosos. Análises emocionais levadas ao extremo da tortura arrastam-se pela horas lentas da noite. Como a noite é rica! A noite é o tempo de não dormir; é o de velar e procurar; de criar mundos.

Demétrio quis prolongar a noite obturando todas as frestas do quarto, para que não entrasse a luz. Luz não entrou. Demétrio gozou da noite plena, continuada, e todos os pensamentos lhe floresciam. Construiu sistemas filosóficos. A escuridão era propícia a teorias políticas. Nenhum crítico foi mais perspicaz do que Demétrio, na literatura e nas artes. Aquela noite era fantástica. Demétrio quis experimentar as sensações de horror, êxtase, humilhação, glória, poder e morte. Morreu, mesmo no escuro. Tendo sentido a morte em seu interior físico, não pôde mais tirá-la de si. É o único morto, conscientemente morto, de que já ouvi falar nesta vida. A noite é fantástica.

Carlos Drummond de Andrade
” Quando digo o que sou, de alguma forma eu o faço para também dizer o que não sou. O ‘não ser está no avesso do ser’, assim como o tecido só é tecido porque há um avesso que o nega, não sendo outro, mas completando-o. O que não sou é também uma forma de ser. Eu sou eu e meus avessos.”

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A Máquina do Mundo

Carlos Drummond de Andrade



E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,

assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,

a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
"O que procuraste em ti ou fora de

teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,

olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,

essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo

se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste... vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.”

As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge

distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos

e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber

no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar,
na estranha ordem geométrica de tudo,

e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que todos
monumentos erguidos à verdade:

e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,

tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.

Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,

a esperança mais mínima — esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;

como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face

que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,

passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes

em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,

baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.

A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,

se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.


O Rappa
Composição: O Rappa

Monstro invisível que comanda a horda
Arrasando tudo o que é de praxe
Eu tô laje acima, no cerol que traz a vida pra baixo
Brilhante idéia de uma cabeça nervosa
Grafitando um outro muro de raiva
Eles já sabiam, mas deixaram a sina guiar a sorte

Vejo a minha história com a sua comungar

Poço lado e sujo, cria do descaso
Alimentando folhas em branco e preto
Outra epidemia desanima quem convive com medo
Botões e atalhos amplificam a distância
E a preguiça de estar lado a lado veste a armadura
Esse é o poder solitário

Vejo a minha história com a sua comungar

Monstro invisível que comanda a horda
Arrasando tudo o que é de praxe
Eu tô laje acima, no cerol que trás a vida pra baixo
Brilhante idéia de uma cabeça nervosa
Grafitando um outro muro de raiva
Eles já sabiam, mas deixaram a sina guiar a sorte

Vejo a minha história com a sua comungar

Monstro invisível arrasando tudo como é de praxe
Tudo como é de praxe, é de praxe
Eu tô laje acima e o cerol que traz a vida pra baixo, pra baixo, pra baixo, pra baixo
O ANTROPÓFAGO

Giovanni Papini

Pedi amor aos contemporâneos? O amor não se pede, mas se ganha, às vezes sem merecimento e, quando não se ganha, metade da culpa é de quem não é amado. Os pouquíssimos que me amaram, amaram-me até demais, em todo caso muito mais do que merecia a minha soturnidade. Portanto não me queixo. E não se queixam também aquêles temerários que souberam encontrar – milagres da ousadia! – um pouco de doçura sob a casca espinhenta.

E nem pedi justiça, pois na terra pertence ao tempo e em todo o lugar a Deus sòmente. Não conheço a estratégia dos astutos que sabem rogar e captar benevolências úteis e as indulgências. Não pratico a engenhosíssima contabilidade de certos emprestadores espirituais, habilíssimos em administrar a própria fama como um patrão avaro administra suas magras terras. Não sei tirar lucro de minhas afeições naturais, ignoro a arte dos feitores infiéis e cultivo, pelo contrário, com sorte inaudita, as inimizades dos califas do dia. Se de vez em quando fizeram-me um pouco de justiça é bondade exclusiva dos bons: o meu consôlo foi tanto maior quanto mais raro.

Não gemo e não grito, portanto, se os meus contemporâneos me grudaram nas costas, como asas de morcêgo, duas lendas paralelas que me ofendem. Disse que não gemo; não posso dizer que goste. Aceito êsses malignos apêndices como castigo antecipado de outras culpas de que não me acusam e talvez mais graves; aceito-as quase de boa vontade se pensar que são, normalmente, o acompanhamento e a pena da fama. O homem de gênio é aquêle inteiramente consciente do seu não-ser gênio; e só as injúrias, os escárnios, as calúnias, a sanha dos inimigos (e também dos amigos) o consolam, no seu desespêro, assegurando-lhe que, mesmo não chegando àquela grandeza que sente, está pelo menos um pouco acima daqueles que o rodeiam. E isso, para mim, é soberba, mas seria ainda mais soberbo se fingisse parecer mais humilde do que eu realmente sou. Quando me comparo aos grandes e especialmente àquela alta e total perfeição que às vêzes fulgura diante de mim, jogo-me ao chão e sinto não ser mais do que um farrapo enlameado. Quando me comparo aos outros, especialmente a certos insetos que cospem no prato onde comeram, então um demônio pior do que o pesadelo me instiga assim: “Deixe que façam e digam, pois você não é nem o último nem o penúltimo e com tôdas as pedras que lhe arremessam êsses tais inocentes você poderá sempre erguer um belo túmulo.” Neste caso leio um capítulo da Imitação ou um canto da Comédia e salvo-me da melhor maneira possível, até outra ofensiva.

O homem, por natureza indolente, e tendo que, em nossos tempos, cuidar de inúmeras coisas, tem o mau costume – absolutamente não filosófico – de reduzir tôdas as pessoas a uma ou duas características fixas, que nem sempre são as mais marcantes. Para êles o leão é maxilar, o burro orelhas, a águia bico e assim por diante. Dêste modo, para só falar dos modernos, Carducci era um bêbado que rugia, Pascoli um lagrimatório para tentilhões, Oriani uma tempestade de retórica, Fogazzaro um carola de alcova e um D. João de sacristia.
A mim deram a honra de epigrafar-me canibal e girândola. Se dermos ouvidos aos discursos de certos consertadores de consciências, eu seria o mais voraz antropófago que se salvou das carabinas dos civilizadores. Ou melhor, um Morgante exterminador e esfolador que abre caminho e massacra a todos com uma caneta mergulhada no curare ou no ácido prússico. Se lhe dermos ouvidos, depois da minha passagem a literatura universal assemelha-se à carnificina de Roncesvales, e a filosofia aos campos Catalaunos. Hércules com a clava, Polifemo com o rochedo, Sansão com o maxilar de um burro, nada são comparados a mim. Sei apenas conjugar o verbo “decepar” e da minha bôca só saem víboras e chamas.

De nada me vale dizer que dessa maneira tornam-me mais forte do que sou e que arriscam aumentar o meu orgulho (aos assaltos de um cachorrinho ninguém liga); não me adianta apontar que nos meus livros há talvez mais mel do que vinagre, mais carícias do que tapas, e não sabem ou não lembram ou fingem não saber e não lembrar que é por minha causa se alguns hoje são mais familiares e mais acatados do que eram, e que me empenhei, e mais no comêço, para fazer conhecer os obscuros e negligenciados, para soerguer os desprezados, para tomar a defesa dos fracos. Nem o afeto, a admiração, a saudade dos amigos me valeram para atenuar a condenação, e nem ter eu consagrado os dois livros por mim compostos com mais amor, um ao agradecimento de um poeta, outro à celebração de um Deus. Aquêles que dispensam a uma dócil clientela as suas mornas lavagens de morna sabedoria, e nunca tiveram fogo para queimar os ídolos, lembrem, se quiserem, a antiga experiência, ainda hoje possível de ser repetida, que ensina que os mais amorosos são os mais furiosos e que não é capaz de amar quem não sente de vez em quando a vontade de morder. Lembrar as cordoadas de Jesus nos mercadores ou as críticas violentas de Dante até lá em cima das esferas do Paraíso, seria sacrilégio, mas também aqui embaixo, no nosso mundo de mesquinhos, exemplos semelhantes são tão abundantes como as flôres-de-lis no trigo de maio. Mas querer desiludir êsses meus batizantes é como querer lavar um prêto com a lixívia: animal feroz pareço e animal feroz serei. Na fauna de certos lugares, melhor ser lôbo do que lêsma.

Não penso em negar e reconheço que negar seria impossível, que já agarrei e caluniei alguns de meus semelhantes, e pode ser que algumas vêzes tenha ultrapassado os têrmos da discrição e da justiça como muitos outros ultrapassam, a cada nascer de sol, os têrmos da bajulação e da vileza. Mas sempre isso me acontece por muito amor à arte ou àquelas que a mim pareciam ou parecem leis da verdade e honestidade; nunca por ódio às pessoas ou por desejo de escândalo lucrativo ou sujeiras parecidas. E quero também dizer isto: jamais assaltei alguém por quem no íntimo não provasse uma certa estima e até simpatia: tanto que, acabando o desabafo, parecia-me amá-lo mais do que antes e mesmo podê-lo admirar naquilo que êle tivesse de bom, com maior liberdade. Os outros, porém, não são obrigados a conhecer êste meu sentimento e comento-o só para aquêles que recolhem observações sôbre o misterioso emaranhado que é o coração humano.

Em todo caso, pareceu-me sempre que enfrentar de frente e em público os que julgamos falsos ou perniciosos seja infinitamente menos torpe do que agredi-los, como faz a maioria das pessoas, pelas costas, com opiniões mais atrozes do que as minhas públicas, e pronunciadas, às vêzes, pelos mesmos lábios que no dia anterior trilaram a serenata debaixo das persianas do semideus ou semi-homem que seja.

Das minhas quartãs de ferocidade acuso-me agora diante de todos, também se algumas vêzes não foram injustas nem inúteis; também se foram acompanhadas e superadas por febres de afeto. E daqui por diante, quando me der o prurido de repreender alguém, contentar-me-ei em copiar algumas páginas dos Profetas ou os discursos de Jesus contra os Escribas e os Fariseus. Mudando um ou outro nome, o resto serve muito bem ainda hoje.





A dor da solidão é pior que o corte da navalha na carne.
É lânguida, mas transpassa toda a carne, artérias e veias.
Assim ela chega e se aloja no coração.
A dor é hemorragia. É pesadelo. É desconforto.
Cada dia da minha dor, eu envelheço.
A solidão é como uma criança que foi abandonada no frio.
Tanto faz se é noite ou é dia. Apenas é solidão.
A dor da solidão vem da injustiça dos homens.
A dor da solidão vem do filho que nunca mais procurou seu pai.
Solidão é o julgamento dos ímpios.
Que fica pisando a todo instante na cabeça, até matar.Momento de profunda solidão.
Em situações de desespero extremo, eu orei.
( ANA A. S. CESAR ).
Lições do Natal

- A iconografia cristã tem dois momentos fundamentais: a criança recém-nascida na estalagem de Belém, tendo a aquecê-la o hálito de um burro e de uma vaca; e o corpo nu e maltratado de um homem coberto de chagas e opróbrio.

Entre as duas imagens, a história que mudaria a história para a grande parcela da humanidade concentrada no Ocidente.

Giovanni Papini inicia famoso livro sobre a vida de Cristo narrando o seu nascimento: "O presépio não é o pórtico airoso com que os pintores da Renascença, envergonhados com a pobreza de seu Deus, criaram para o consumo dos crentes".

Bem verdade que, antes mesmo da Renascença, a tradição apoiada nos evangelhos coloca fatos maravilhosos em torno da gruta de Belém: os pastores avisados pela milícia celeste, cantando a glória de Deus nas alturas e a paz aos homens de boa vontade.

Houve também a estrela que guiaria os Reis Magos para a oferta do ouro, do incenso e da mirra: "Vimos sua estrela no Oriente e viemos com presentes adorá-lo". Os exegetas deste versículo bíblico tiram duas lições desta simples frase: a ida e os presentes. Não adianta ver um sinal, é preciso ir em busca dele, tentar conhecê-lo e interpretá-lo.

Tampouco esta ida, este movimento de um ponto a outro não deve ser feita de mãos vazias, apenas para receber sem nada dar em troca. Os Magos foram "cum muneribus", com presentes, na velha tradição oriental.

Esquecendo o episódio cristão em si, tudo na humanidade implica uma viagem em busca de um sinal, não exatamente a viagem da alucinação química (drogas) ou da religiosa (preces), mas na capacidade de caminhar na direção da esperança.

Ainda que não se encontre a salvação, o simples fato de "ir" justifica grande parte da miséria humana.



CARLOS HEITOR CONY

Folha de São Paulo, December 25, 2008
"O presépio não é o pórtico airoso com que os pintores da Renascença, envergonhados com a pobreza de seu Deus, criaram para o consumo dos crentes".

( GIOVANNI PAPPINI ).
QUANDO VC ACHOU TER TODAS AS RESPOSTAS,
O QUE MAIS PODERIA LHE FALAR ???

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

" É possível amar e não ser feliz, é possível ser feliz e não amar, mas amar e simultaneamente ser feliz, isso seria milagre. "
(Honoré de Balzac)


" O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma, de nos tornarmos um mundo para o ser amado. É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes. "
(Rainer Maria Rilke)


" Na raiz de quase todas as misérias materiais e, sobretudo, morais, está uma falta de amor, uma fome de afeição que não foi satisfeita. "
(Georges Arnold)
" A vida revela-se ao mundo como uma alegria. Há alegria no jogo eternamente variado dos seus matizes, na música das suas vozes, na dança dos seus movimentos. A morte não pode ser verdade enquanto não desaparecer a alegria do coração do ser humano. " (Rabindranath Tagore)

sábado, 28 de novembro de 2009

Basta Pensar em Sentir

Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.
Viver é não conseguir.

Fernando Pessoa

FALKNER

Meu sonho de ti

Deixei nas tuas mãos
Parte de mim que perdi,
Parte que de mim se perdeu.

Repousa agora em ti,
Repousa agora para ti,
O que disse, o que pensei,
Parte do que sonhei.

Sonho, meu sonho de ti,
Sonho que guardo em mim.
Sonho que por ti sonharei.
HÁ COISAS, QUE MESMO SENDO DITAS; PELO GRANDE PERCENTUAL DE INDIFERENTES, PRECISA SEMPRE SER RELEMBRADA!!!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

sobre a verdade [pathos]
“em algum remoto recanto do universo, que se deságua fulguramente em inumeráveis sistemas solares, havia uma vez um astro, no qual animais astuciosos inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais audacioso e hipócrita da “história universal”: mas, no fim das contas, foi apenas um minuto. Após alguns respiros da natureza, o astro congelou-se, e os astuciosos animais tiveram de morrer.

Alguém poderia, desse modo, inventar uma fábula e ainda assim não teria ilustrado suficientemente bem quão lastimável, quão sombrio e efêmero se destaca o intelecto humano no interior da natureza; houve eternidades em que ele não estava presente; quando ele tiver passado mais uma vez, nada terá ocorrido.”

[sobre verdade e mentira. nietszche.]
sono/vigília
teeteto: certamente não posso me comprometer a demonstrar que os loucos ou os que sonham acreditam no que pensam quando imaginam, alguns deles, que são deuses, e outros que podem voar, e estão voando em seus sonhos

sócrates: vês uma outra pergunta que pode ser suscitada sobre esses fenômenos, em especial sonhar e estar desperto?


teeteto: que pergunta?

sócrates: uma pergunta que, me parece, deves ter ouvido pessoas fazerem dezenas de vezes: como podes tu determinar se neste momento estamos dormindo, e todos os nossos pensamentos são um sonho; ou se estamos despertos, e conversando um com outro no estado de vigília:

teeteto: realmente, sócrates, não sei como provar nem uma coisa nem outra; pois em ambos os casos os fatos correspondem precisamente; e não há dificuldade alguma em supor que durante toda esta discussão estivemos falando um com o outro em sonho; e quando num sonho parecemos estar narrando sonhos, a semelhança entre os dois estados é realmente espantosa.

sócrates: vês, portanto, que uma dúvida sobre a realidade dos sentidos é facilmente suscitada, já que pode haver dúvida até quanto estarmos despertos ou num sonho. E como nosso tempo é igualmente dividido entre o sono e a vigília, em ambas as esferas da existência a alma sustenta que os pensamentos presentes em nossas mentes no momento são verdadeiros; e durante uma metade de nossa vidas afirmamos a verdade de uma, e, durante a outra metade, da outra; e temos plena confiança em ambas.

teeteto: a mais pura verdade.

sócrates: e não pode o mesmo ser dito da loucura e das outras desordens? a única diferença é que os tempos não são iguais.

[alice no país das maravilhas - edição comentada. pág. 64-65, nota 9.]
AMOR
Ela: Você me ama mais do que tudo?
Ele: Amo.
Ela: Paixão, paixão?
Ele: Paixão, paixão mesmo.
Ela: Mais do que tudo no mundo todo?
Ele: No mundo todo e fora dele.
Ela: Não acredito.
Ele: Faz um teste.
Ela: Eu ou fios de ovos.
Ele: Você, fácil.
Ela: Daqueles com calda grossa, que a gente chupa o fio e a calda escorre pelo queixo.
Ele: Prefiro você.
Ela: Futebol.
Ele: Não tem comparação.
Ela: Você esta caminhando, vem uma bola quicando, a garotada grita “Devolve tio!” e você domina, faz dezessete embaixadas e chuta com perfeição.
Ele: Prefiro você.
Ela: São Paulo e Milan em Tóquio pelo campeonato do mundo, passagem e entrada de graça.
Ele: Você vai junto?
Ela: Não.
Ele: Pela televisão se vê melhor.
Ela: Faz muito calor. Aí chove, aí abre o sol, aí vem uma brisa fresca com aquele cheiro de terra molhada, aí toca uma musica no rádio e é uma nova do Paulinho. É Sexta-feira e a televisão anunciou um Hitchcock sem dublagem para aquela noite… e o Itamar está dando certo.
Ele: Você.
Ela: Voltar a infância só pra poder pisar na lama com o pé descalço e sentir a lama fazer squish entre os dedos.
Ele: Você, longe.
Ela: A Sharon Stone telefona e diz que é ela ou eu.
Ele: Que dúvida. Você.
Ela: Cheiro de livro novo. Solo de sax alto. Criança distraída. Canetinha japonesa. Bateria de escola de samba. Lençol recém-lavado. Hora no dentista cancelada. Filme com escadaria curva. Letra do Aldir Blanc. Pastel de rodoviária.
Ele: Você, você, você, você, você, você, você, você, você e você, respectivamente.
Ela: A Sharon Stone telefona novamente e diz que se você se livrar de mim ela já vem sem calcinha.
Ele: Desligo o telefone.
Ela: Fama e fortuna. A explicação do universo e do mercado de commodities, com exclusividade. A vida eterna e um cartão de credito que nunca expira.
Ele: Prefiro você.
Ela: Uma cerveja geladinha. A garrafa chega estalando. No copo, fica com um quarto de espuma firme. O resto é ela, só ela, dizendo “Vem”.
Ele: Hummm…
Ela: Como, hummm? Ela ou eu?

…. Silêncio de 5 segundos …

Ele: Qual é a marca?
Ela: Seu cretino!

Luis Fernando Veríssimo
Leminski…

enchantagem

de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima

de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito

pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito

que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar

tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade

o pau na vida
o vinagre
vinho suave

pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
do amor
Não falo do amor romântico, aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento. Relações de dependência e submissão, paixões tristes. Algumas pessoas confundem isso com amor. Chamam de amor esse querer escravo, e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida, explicada, entendida, julgada. Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro, antes de ser experimentado.

Mas é exatamente o oposto, para mim que o amor se manifesta. A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado, modificado. O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita. O amor é um móbile. Como fotografá-lo Como percebe-lo Como se deixar sê-lo E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine

Minha resposta O amor é desconhecido. Mesmo depois de uma vida inteira de amores, o amor será sempre um desconhecido. A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão. A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação. O amor quer ser interferido, quer ser violado, quer ser transformado a cada instante.

A vida do amor depende dessa interferência. A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, decidimos caminhar em linha reta ele nos oferece seus oceanos e mares revoltos e profundos e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim. Não. Não podemos subestimar o amor. Não podemos castrá-lo.

O amor não é orgânico. Não é meu coração que sente o amor. É minha alma que o saboreia. Não é no meu sangue que ele ferve. O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito. Sua força se mistura com a minha, e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu como se fossem novas estrelas recém – nascidas.

O amor brilha. Como uma aurora colorida e misteriosa. Como um crepúsculo inundado de e despedida. O amor grita seu silêncio e nos dá a sua música. Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos alimento preferido do amor. Se estivemos também a devorá-lo.

O amor, eu não conheço. E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo. Me aventurando ao seu encontro. A vida só existe quando o amor navega. Morrer de amor é a substância de que a vida é feita. Ou melhor, só se vive no amor. E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

Moska
“Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?”

“Depende bastante de para onde quer ir”, respondeu o gato

“não me importa muito para onde”, disse alice

“então não importa o caminho que tome”, disse o gato

“contanto que eu chegue a algum lugar”, alice acrescentou à guisa de explicação

“oh, isso você certamente vai conseguir”, afirmou o gato, “desde que ande bastante”

[alice no país das maravilhas - lewis carrol]

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A PONTE TEM UMA FALSA PROMESSA ROMÂNTICA

EU ERA INTELIGENTE.
DIZIAM QUE EU TINHA TUDO PARA VENCER,
MAS O QUE ACONTECEU ???
( GENE IN A PONTE/. ESCRITO ANTES DE COMETER SUICÍDIO ).

TENHO 50 ANOS.
NÃO TENHO DINHEIRO, COMPANHEIRA, CASA.
EU ME ODEIO, SOU UM FRACASSADO INÚTIL...
( DAVID IDEM GENE ).





Uma das principais atrações turísticas de San Francisco, nos Estados Unidos, esconde em meio à névoa uma estatística nada atraente desde sua abertura em 1937. A Golden Gate Bridge conta com um suicida a cada 15 dias pulando de seu deck a cerca de 80 metros acima da água. É uma queda de 4 a 7 segundos, quase sempre mortal e a aproximadamente 200 km/h.

O inicio deste cenário bucólico caminha lado a lado com o charme e a beleza desta obra que é símbolo da cidade e até do país. Sabe-se que o primeiro suicida já inaugurara esta história acabando com a própria vida dias após a inauguração da ponte. Nos Estados Unidos esta é a estrutura mais fotografada do país. Além disso, também é visitada por aqueles que calculam com frieza absoluta uma morte certa. E fornece, tanto para foto quanto para a morte vários ângulos possíveis.

Já nas locadoras, A Ponte conta várias histórias de familiares e amigos daqueles que colocaram um fim à angústia desta vida jogando-se da ponte Golden Gate. Este documentário analisa a grande atração exercida pela ponte, sua imponência e sua característica de cartão postal em contrapartida a história de tragédia e morte que está ligada a ela. Memórias daqueles que a procuram, especificamente com a intenção de acabar com tudo entre seus pilares.

Não é por acaso, que vários dos entrevistados confessam que a pretensão dos amigos ou familiares suicidas revelavam-se tendenciosas em relação a Golden Gate. Alguns até viajaram a São Francisco especificamente para pular da ponte. Outros narram o instantâneo fascínio de quem a conhece pela primeira vez, alguns o levam as últimas conseqüências, encarando-a como o trampolim perfeito.

Os motivos são quase sempre os mesmos que movem a grande maioria dos suicidas. Um quadro extremamente complexo ao qual não cabe comentário aqui, mas que, para a maioria dos especialistas, quase nunca tem cura. Porém, em uma das histórias há um sobrevivente, que em sua terceira tentativa, escolheu a ponte e sobreviveu com algumas seqüelas para contar a sinistra experiência.



A Ponte (The Bridge, 2006. RU, EUA)
Diretor: Eric Steel
Duração: 93 min.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ah, esse vácuo medonho que sinto no meu seio!
Muitas vezes penso… Se pudesses uma vez, uma só vez,
apertá-la ao peito, todo esse vácuo haveria de se encher.

J. W. Goethe in Os Sofrimentos do Jovem Werther


Que a vida humana é apenas um sonho outros já disseram, mas também a mim esta idéia persegue por toda a parte. Quando penso nos limites que circunscrevem as ativas e investigativas faculdades humanas; quando vejo que esgotamos todas as nossas forças em satisfazer nossas necessidades, que apenas tendem a prolongar uma existência miserável; quando constato que a tranquilidade a respeito de certas questões não passa de uma resignação sonhadora, como se a gente tivesse pintado as paredes entre as quais jazemos presos com feições coloridas e perspectivas risonhas ─ tudo isso, Guilherme, me deixa mudo. Meto-me dentro de mim mesmo e acho aí um mundo! Mas antes em pressentimentos e obscuros desejos que em realidade e ações vivas. E então tudo paira a minha volta, sorrio e sigo a sonhar, penetrando adante no universo. {…}


J. W. Goethe in Os sofrimentos do jovem Werther

De que é composto um intelectualóide

Cultura se compra. A inteligência, que nada mais é que a sensibilidade vestida com o humanismo, não se adquire no mercado. Possuindo dinheiro, qualquer pessoa pode compor uma biblioteca de clássicos da arte universal. Com duas horas diárias debruçado nos livros a decorar epígrafes dos gênios, a repetir para o espelho gestos calculados, está pronto um intelectualóide. Em três meses, ao passar na rua, comadres mumificadas que levantam a bandeira da "cultura para todos" - almejando, intimamente, a projeção de suas figuras - dirão: Lá se vai um homem inteligente!

É fácil reconhecer um intelectualóide. Em geral, eles são extremamente vaidosos. Os melhores livros são os que leram (à superfície, quando não apenas, as ore-lhas das publicações), os melhores filmes os que assistiram,os melhores compositores os que apreciam. Para defender seus parcos conhecimentos e a teoria que dispõem, são capazes de qualquer coisa.

Recentemente, num conhecido bar da cidade (intelectualóides são boêmios, porque copiam, no mais das vezes, a geração dos poetas românticos), contemplei uma discussão acalorada de duas espécimes desta linhagem. Entre citações de Balzac e Proust (um preferia este, o outro aquele), quase se estapea-ram. Até que o balzaquiano tomado de ira, deixou o recinto.
Intelectualóides, quando se aventuram nos subterrâneos da criação artística, frustram-se.

Quase sempre, suas obras ou não são compreendidas, ou são compreendidas demais. No primeiro caso, alegam com seus floreios e arrogância usuais, que o "populacho" ainda não está apto a receber seu grande talento. No segundo, disparam o clichê "o sentido da arte deve ser captado democraticamente", como se o público só pudesse entender o que é óbvio e ruim.

Os pseudo-intelectuais seriam até engraçados, não fosse a misantropia de que são portadores. Quando se olham ao espelho, na sua vã ilusão, enxergam gênios renascentistas. Assim, isolam-se do coletivo, pairando soberanos sobre a grande massa, a que denominam inculta. São incapazes de ver a si mesmos, nos outros. As interpretações errôneas a que subjugaram a pobre e indefesa Musa, expurgaram a sua compaixão e solidariedade.

A advertência está feita, caro leitor. Se por acaso deparar-se com uma máquina ambulante de repetição de epígrafes, fuja, sem demora, fuja! Sob pena de ser alcunhado de asno por desconhecer a métrica de Camões.

By Carlos Araújo

Trechos de "Werther", de Goethe

"Hoje não pude ir ver Carlota, uma visita inesperada me segurou em casa. Que havia de fazer? Mandei o meu criado ao encontro dela, só para ter junto de mim alguém que tivesse estado em sua presença. Com que impaciência o esperei, com que alegria tornei a vê-lo! Não tivesse vergonha e teria me atirado ao seu pescoço e coberto seu rosto de beijos.
Falam que a pedra de Bolonha, quando exposta ao sol, absorve seus raios e reluz por algum tempo durante a noite. Dava-se o mesmo comigo e aquele rapaz. A lembrança de que os olhos de Carlota haviam pousado em seu rosto, em suas faces, nos botões de sua casaca e na gola de seu sobretudo, tornava-o tão querido, tão sagrado para mim! Naquele momento não daria aquele rapaz nem por mil táleres! Me sentia tão bem em sua presença...Deus te livre de rir disso, Guilherme! Serão sempre fantasmas os responsáveis por nos sentirmos bem?"
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"Ah, como vocês são sensatos! Paixão! Ebriedade! Loucura! Vocês, defensores da moral, tudo contemplam com tanta calma, tão indiferentes, vocês recriminam o bêbado, desprezam o louco (…) Eu me embriaguei mais de uma vez na vida, minhas paixões nunca estiveram distantes da loucura e não me arrependo. (…) É insuportável ouvir gritarem, quando alguém se comporta de maneira livre, nobre, inesperada:'Esse homem bebeu demais, está louco! Vocês, homens tão sóbrios e sábios deviam envergonhar-se!"
_________________________________

"Ela não me vê, não sente que prepara um veneno que vai nos destruir ambos. E eu bebo com volúpa a taça em que ela me oferece a morte? Por que olha, tantas vezes, de um jeito tão bondoso? Nem sempre, mas enfim, às vezes. Por que essa complacênia com que aceita as expressões involuntárias dos meus sentimentos, e a compaixão pelo sofrimento que transparece em seu rosto?Ontem, ao sair, ela estendeu-me a mão dizendo: "Adeus, querido Werther!" Querido Werther! É a primeira vez que me chama assim, e a alegria que me senti penetrou-se até a medula dos ossos. Repeti a palavra centenas de vezes e, à noite, ao deitar-me, eu disse "boa noite, querido Werther!", e não pude deixar de rir de mim mesmo. "
_________________________________

"Que a vida do ser humano não passe de um sonho, eis uma impressão que muitas pessoas já tiveram, e eu também vivo permanentemente com essa sensação. Quando observo as limitações que cerceiam as forças ativas e criadoras do homem, quando vejo como toda a atividade se resume em satisfazer as nossas necessidades, que, por sua vez, não visam outra coisa senão prolongar nossa pobre existência; quando percebo que todo apaziguamento em relação a determinados pontos de nossas buscas constitui apenas uma resignação ilusória, uma vez que adornamos com figuras coloridas e esperanças luminosas as paredes que nos aprisionam -- tudo isso, Wilhelm, me faz emudecer. Volto-me para mim mesmo, e encontro todo um mundo dentro de mim! Novamente, vejo-o mais a partir de pressentimentos e de vagos desejos, muito mais do que nitidamente contornado e povoado de forças vivas. Tudo então passa a flutuar diante dos meus sentidos, e prossigo sorrindo e sonhando na minha jornada pelo mundo.
Todos os pedagogos eruditos são unânimes em afirmar que as crianças não sabem por que desejam determinada coisa; mas também os adultos, como as crianças, andam ao acaso pela terra, e, tanto quanto elas, ignoram de onde vêm ou para onde vão; como elas, agem sem propósito determinado e, igualmente, são governados por biscoitos, bolos e varas de marmelo: eis uma verdade em que ninguém quer acreditar, embora ela seja óbvia, no meu entender.
Concordo -- pois já sei o que me vais responder -- que os mais felizes são aqueles que, como as crianças, vivem a esmo dia após dia, carregando suas bonecas, vestindo e despindo-as, rondando respeitosos a gaveta onde a mãe guardou o pão doce, e gritando, com a boca cheia, quando finalmente conseguem o que cobiçavam: "Quero mais!" Estes são felizes. Também são ditosos aqueles que dão títulos pomposos às suas míseras ocupações ou até mesmo às suas paixões, alegando que se trata de empreendimentos gigantescos, destinados à salvação e ao bem-estar da humanidade. Bem-aventurado aquele que consegue ser assim! Mas aquele que humildemente percebe a que leva tudo isso, vendo como o cidadão, quando satisfeito, transforma o seu pequeno jardim num paraíso, como, por outro lado, até mesmo o deserdado da fortuna carrega corajosamente o fardo e segue o seu caminho, e como todos, afinal, desejam igualmente enxergar a luz do sol por um minuto mais -- quem observa a tudo isso recolhe-se no silêncio, molda o seu mundo à semelhança de seu próprio íntimo, e também é feliz porque é um ser humano. E então, por mais limitado que seja, guarda sempre no coração a doce sensação da liberdade, sabendo que poderá livrar-se do cárcere quando quiser. "

BALZAC

“As Ilusões Perdidas”

"Em literatura, meu pequeno, todas as idéias têm direito e avesso. Tudo é bilateral no domínio do pensamento. As idéias são binárias. Jano é o mito da crítica e o símbolo do talento. Triangular não há senão Deus!"

"- Você liga então importância às coisas que escreve? - perguntou-lhe Vernou com ar de zombaria. - Mas nós somos negociantes de frases e vivemos de nosso comércio. Quando você quiser fazer uma grande e bela obra, um livro, enfim, poderá colocar nele os seus pensamentos, sua alma, amá-lo, defendê-lo; mas artigos, lidos hoje e amanhã esquecidos, esses não valem a meus olhos senão aquilo que por eles nos pagam "
Go - Nick Farewell

- É isso que vocês precisam fazer. Lutar por isso. Lembrar em cada momento da vida o que realmente vale a pena. O que faz você respirar e ter vontade de escrever. Saiba que quando vocês escreve, qualquer coisa que escreva, tem que ter fogo. Lembre-se que Fahrenheit 451 é também a temperatura que você precisa sentir por dentro para escrever suas coisas. De dentro para fora, de fora para dentro. Tem que entender que ali há uma mistura bruta de vida. Tem que me fazer sentir, fazer outro sentirem e ser capaz de encendiar tudo que está a sua volta. Isso é sobre a vida. Isso é sobre a arte que tanto quer alcançar. Isso é sobre a nossa sobrevivência.

domingo, 15 de novembro de 2009

A Censura Existe Em Todo o Lado

Eu acho que a censura existiu sempre e provavelmente vai existir sempre. Porque a censura para o ser não necessita de ter claramente uma porta aberta com um letreiro, onde se diga que ali há pessoas que lêem livros ou vão ver espectáculos. Não! A censura existe de todas as maneiras, porque todas as pessoas, nos diferentes níveis de intervenção em que se encontram, por boas ou más razões, seleccionam, escolhem, apagam, fazem sobressair. E isso são actos de ocultação ou de evidenciação que, no fundo, em alguns casos, são actos formais de censura.

(Quanto à censura oficial dos tempos de ditadura) Aquilo que a censura demonstrou e demonstra, em qualquer caso, é que felizmente os escritores, dependendo das situações em que se encontram, são muito mais ricos de meios, de processos de fazer chegar aquilo que querem dizer aos outros, do que se imagina. Evidentemente, numa situação de censura, o escritor é obrigado a usar a escrita para comunicar isto ou aquilo ou aqueloutro, de uma maneira disfraçada, subterrânea, oculta; mas o que é importante não é que a censura o esteja a obrigar a fazer isso. O que é importante é que ele seja capaz de o fazer. E isso não vai em abono da censura como agente capaz de estimular a criatividade de um escritor, vai, sim, no sentido de reconhecer no escritor capacidades de expressão que ele usará ou não consoante a situação concreta em que se encontre. Agora, se me pergunta: a escrita sai melhor de uma maneira ou sai de outra, eu diria que provavelmente alguns dos livros que escrevi numa situação de liberdade de expressão, provavelmente num regime de censura eu não pensaria em escrevê-los.

José Saramago, in "Diálogos com José Saramago"
O Solitário

O solitário leva uma sociedade inteira dentro de si: o solitário é multidão. E daqui deriva a sua sociedade. Ninguém tem uma personalidade tão acusada como aquele que junta em si mais generalidade, aquele que leva no seu interior mais dos outros. O génio, foi dito e convém repeti-lo frequentemente, é uma multidão. É a multidão individualizada, e é um povo feito pessoa. Aquele que tem mais de próprio é, no fundo, aquele que tem mais de todos, é aquele em quem melhor se une e concentra o que é dos outros.

(...) O que de melhor ocorre aos homens é o que lhes ocorre quando estão sozinhos, aquilo que não se atrevem a confessar, não já ao próximo mas nem sequer, muitas vezes, a si mesmos, aquilo de que fogem, aquilo que encerram em si quando estão em puro pensamento e antes de que possa florescer em palavras. E o solitário costuma atrever-se a expressá-lo, a deixar que isso floresça, e assim acaba por dizer o que todos pensam quando estão sozinhos, sem que ninguém se atreva a publicá-lo. O solitário pensa tudo em voz alta, e surpreende os outros dizendo-lhes o que eles pensam em voz baixa, enquanto querem enganar-se uns aos outros, pretendendo acreditar que pensam outra coisa, e sem conseguir que alguém acredite.

Miguel de Unamuno, in 'Solidão'
A Verdadeira Religião

Nunca me esquecerei do dia em que, dizendo-lhe «Mas, senhor padre Manuel, a verdade, a verdade, acima de tudo», ele, a tremer, sussurou-me ao ouvido - e isso apesar de estarmos sozinhos no meio do campo: - «A verdade? A verdade, Lázaro, é porventura uma coisa terrível, uma coisa intolerável, uma coisa mortal; as pessoas simples não conseguiriam viver com ela.»
«E porque é que ma deixa vislumbrar agora aqui, como confissão?», perguntei-lhe. E ele respondeu: «Porque se não atormentar-me-ia tanto, tanto, que eu acabaria por gritá-lo no meio da praça, e isso nunca, nunca, nunca. Eu estou cá para fazer viver as almas dos meus paroquianos, para os fazer felizes, para fazer com que se sonhem imortais e não para os matar.

O que aqui faz falta é que eles vivam sãmente, que vivam em unanimidade de sentido, e com a verdade, com a minha verdade, não viveriam. Que vivam. E é isto que a Igreja faz, fazer com que vivam. Religião verdadeira? Todas as religiões são verdadeiras enquanto fazem viver espiritualmente os povos que as professam, enquanto os consolam de terem tido de nascer para morrer, e para cada povo a religião mais verdadeira é a sua, a que ele fez. E a minha? A minha é consolar-me em consolar os outros, embora o consolo que eu lhes dê não seja o meu.»
Nunca esquecerei estas suas palavras.

Miguel de Unamuno, in 'São Manuel Bom, Mártir'
O Paradoxo da Leitura

O sábio lê livros, mas lê também a vida. O universo é um grande livro e a vida é uma grande escola.
(...) Quanto mais leio mais ignorante fico. A escolha que hoje se depara a qualquer homem educado é entre a inocência que não lê e a ignorância que lê muito.
(...) É possível sustentar com alguma aparência de exactidão que a imprensa de hoje mata a leitura e a leitura mata o pensamento.

Lin Yutang, in 'A Importância de Viver' e 'Com Amor e Ironia'
A Luta pela Recordação

Os meus pensamentos foram-se afastando de mim, mas, chegado a um caminho acolhedor, repilo os tumultuosos pesares e detenho-me, de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida. Só vivi ontem. Ele tem agora essa nudez à espera do que deseja, selo provisório que nos vai envelhecendo sem amor.
Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes que, chegados como eu a este caminho, com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam. E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atónitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes. Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...

Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer"

eis a vida...

sábado, 14 de novembro de 2009

Sonhos sem Ilusões

Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos. Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentimentos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde.

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'
É Possível Estarmos Todos Errados?

É possível (...) que não se tenha visto, conhecido e dito nada de real e importante? É possível que se tenha tido milénios para olhar, reflectir e anotar e que se tenha deixado passar os milénios como uma pausa escolar, durante a qual se come fatias de pão com manteiga e uma maçã?
Sim, é possível.
É possível que, apesar das investigações e dos progressos, apesar da cultura, da religião e da filosofia, se tenha ficado na superfície da vida? É possível que até se tenha coberto essa superfície - que, apesar de tudo, seria qualquer coisa - com um pano incrivelmente aborrecido, de tal modo que se assemelhe aos móveis da sala durante as férias de Verão?
Sim, é possível.
É possível que toda a História Universal tenha sido mal-entendida? É possível que o passado seja falso, precisamente porque sempre se falou das suas multidões, como se dissertasse sobre uma aglomeração de pessoas, em vez de falar de uma única, em torno da qual elas estavam, porque se tratava de um desconhecido que morreu?
Sim, é possível.

É possível que se tenha julgado ser preciso recuperar o que aconteceu antes de se ter nascido? É possível que se tivesse de lembrar a cada um que ele, de facto é proveniente de todos os antecessores, tendo ele disso conhecimento e não devendo dar ouvidos a outros que soubessem outras coisas?
Sim, é possível.
É possível que todas estas pessoas conheçam em pormenor um passado que nunca houve? É possível que todas as realidades nada sejam para elas; que a sua vida decorra, desligada de tudo, como um relógio numa sala vazia?
Sim, é possível
É possível que nada se saiba das raparigas que, no entanto, vivem? É possível que se diga «as mulheres», «as crianças», «os rapazes» e não se faça a mínima ideia (apesar de toda a cultura não se faça a mínima ideia) de que há muito que estas palavras não têm plural, mas apenas inúmeros singulares?
Sim, é possível.
É possível que haja gente que diga «Deus» e julgue que se trate de algo comum a todos? - E veja-se apenas dois rapazinhos de escola: um compra um canivete, e o seu vizinho compra outro tal qual no mesmo dia. E uma semana depois mostram um ao outro os dois canivetes, e acontece que eles só muito de longe se parecem - tão diferentemente evoluíram em mãos diferentes. (Ora, diz a mãe de um deles a esse respeito: vocês têm sempre por força de desgastar logo tudo!). Ah, pois: é possível acreditar que se possa ter um Deus sem se recorrer a Ele?
Sim, é possível.
Porém, se tudo isto é possível, se tem mesmo só uma aparência de possibilidade - então, por tudo o que há no mundo, é preciso que aconteça alguma coisa. O primeiro indivíduo, o que teve estes pensamentos inquietantes, deve começar a fazer alguma coisa do que se perdeu; mesmo que seja um qualquer, certamente o menos indicado: mais nenhum há que o possa fazer.

Rainer Maria Rilke, in 'As Anotações de Malte Lauridis Brigge'



As nações apenas possuem grandes homens sem a sua intervenção - como as famílias. Fazem todos os esforços para não tê-los. E, assim, o grande homem precisa, para existir, de possuir uma força de agressão maior do que a força de resistência desenvolvida por milhões de indivíduos.

Charles Baudelaire, in "Diário Íntimo"
Esqueço do Quanto me Ensinaram

Deito-me ao comprido na erva.
E esqueço do quanto me ensinaram.
O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio,
O que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa.
O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos.
O que me apontaram nunca estava ali: estava ali só o que ali estava.

Alberto Caeiro, in "Fragmentos"
Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'


Os Malefícios da Rivalidade na Escola

Poucas serão as escolas em que o mestre não anime entre os alunos o espírito de emulação; aos mais atrasados apontam-se os que avançaram como marcos a atingir e ultrapassar; e aos que ocuparam os primeiros lugares servem os do fim da classe de constantes esporas que os não deixam demorar-se no caminho, cada um se vigia a si e aos outros e a si próprio apenas na medida em que se estabelece um desnível com o companheiro que tem de superar ou de evitar.
A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; esforço de vencer, temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle» que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam.
Quem não sabe combater ou não tem interesse pela luta ficará para trás, entre os piores; e é certamente esta predominância dada ao espírito de batalha um dos grandes malefícios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos; não se trata de ajudar, nem de ser ajudado, de aproveitar em comum, para benefício de todos, o que o mundo ambiente nos oferece; urge chegar primeiro e defender as suas posições; cada um trabalhará isolado, não amigo dos homens, mas receoso dos lobos; o saber e o ser não se fabricam, para eles, no acordo e na harmonia; disputam-se na luta.
Urge quanto antes alargar a reforma radical que as escolas novas fizeram triunfar na experiência; que só haja dois estímulos para o trabalho nas sulas: a comparação de cada dia com o dia anterior e com o dia futuro e o desejo de aumentar o valor, as possibilidades do grupo; por eles se terá a confiança indispensável na capacidade de realizar e a marcha irresistível da seta para o alvo; por eles também o sentido social, o hábito da cooperação, a tolerância e o amor que gera a convivência em vez de um isolamento de caverna e de uma agressividade permanente; a vitória de uma ideia de paz sobre uma ideia de guerra.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'
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O Engano da Bondade

Endureçamos a bondade, amigos. Ela também é bondosa, a cutilada que faz saltar a roedura e os bichos: também é bondosa a chama nas selvas incendiadas para que os arados bondosos fendam a terra.
Endureçamos a nossa bondade, amigos. Já não há pusilânime de olhos aguados e palavras brandas, já não há cretino de intenção subterrânea e gesto condescendente que não leve a bondade, por vós outorgada, como uma porta fechada a toda a penetração do nosso exame. Reparai que necessitamos que se chamem bons aos de coração recto, e aos não flexíveis e submissos.
Reparai que a palavra se vai tornando acolhedora das mais vis cumplicidades, e confessai que a bondade das vossas palavras foi sempre - ou quase sempre - mentirosa. Alguma vez temos de deixar de mentir, porque, no fim de contas, só de nós dependemos, e mortificamo-nos constantemente a sós com a nossa falsidade, vivendo assim encerrados em nós próprios entre as paredes da nossa estuta estupidez.
Os bons serão os que mais depressa se libertarem desta mentira pavorosa e souberem dizer a sua bondade endurecida contra todo aquele que a merecer. Bondade que se move, não com alguém, mas contra alguém. Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida.
E, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra.

Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer"
A Arte de Viver

A arte de viver - dado que para viver é preciso fazer sofrer os outros (ver vida sexual, ver comércio, ver qualquer actividade) - consiste em habituarmo-nos a fazer todas as patifarias sem abalar o nosso equilíbrio interior. Ser capaz de todas as patifarias é a melhor bagagem que um homem pode possuir.

Cesare Pavese, in "O Ofício de Viver"
Hino à Tolerância

Já será grande a tua obra se tiveres conseguido levar a tolerância ao espírito dos que vivem em volta; tolerância que não seja feita de indiferença, da cinzenta igualdade que o mundo apresenta aos olhos que não vêem e às mãos que não agem; tolerância que, afirmando o que pensa, ainda nas horas mais perigosas, se coíba de eliminar o adversário e tenha sempre presente a diferença das almas e dos hábitos; dar-lhe-ão, se quiserem, o tom da ironia, para si próprios, para os outros; mas não hão-de cair no cepticismo e no cómodo sorriso superior; quando chegar o proceder, saberão o gosto da energia e das firmes atitudes. Mais a hão-de ter como vencedores do que como vencidos; a tolerância em face do que esmaga não anda longe do temor; então, antes os quero violentos que cobardes.
Mas tu mesmo, Marcos, com que direito és tolerante? Acaso te julgas possuidor da verdade? Em que trono te sentaram para que assim olhes de cima o resto dos humanos e todo o mundo em redor? Por que tão cedo te separas de compreender e de amar? Tens a pena do rico para o pobre, dás-lhe a esmola de lhe não fazer mal; baixaste a suportar o que é divino como tu; e queres que te vejamos superior porque já te não deixas irritar por gestos ou palavras dos irmãos. Mais alto te pretendo e mais humilde; à tolerância que envergonha substitui o cálido interesse pedagógico, o gosto fraternal de aprender e de guiar; não levantes barreiras, mas abate-as; se consideras pior o caminho dos outros vai junto deles, aconselha-os e guia-os; não os deixes errar só porque os dominarias, se quisesses; transforma em forte, viva chama o que a pouco e pouco se dirige a não ser mais que um gelado desdém.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

A Felicidade Pertence aos que se Bastam a si Próprios

Cada um deve ser e proporcionar a si mesmo o melhor e o máximo. Quanto mais for assim e, por conseguinte, mais encontrar em si mesmo as fontes dos seus deleites, tanto mais será feliz. Com o maior dos acertos, diz Aristóteles: A felicidade pertence aos que se bastam a si próprios. Pois todas as fontes externas de felicidade e deleite são, segundo a sua natureza, extremamente inseguras, precárias, passageiras e submetidas ao acaso; podem, portanto, estancar com facilidade, mesmo sob as mais favoráveis circunstâncias; isso é inevitável, visto que não podem estar sempre à mão.

Na velhice, então, quase todos se esgotam necessariamente, pois abandonam-nos o amor, o gracejo, o prazer das viagens, o prazer da equitação e a propensão para a sociedade. Até os amigos e parentes nos são levados pela morte. É quando, mais do que nunca, importa saber o que alguém tem em si mesmo. Pois isso se conservará por mais tempo. Mas também em cada idade isso é e permanece a única fonte genuína e duradoura da felicidade. Em qualquer parte do mundo, não há muito a buscar: a miséria e a dor preenchem-no, e aqueles que lhes escaparam são espreitados em todos os cantos pelo tédio. Além do mais, via de regra, impera no mundo a malvadez, e a insensatez fala mais alto. O destino é cruel e os homens são deploráveis. Num mundo com tal índole, aquele que tem muito em si mesmo assemelha-se ao iluminado recanto de Natal, aquecido e aprazível no meio da neve e do gelo da noite de dezembro. Por conseguinte, ter uma individualidade meritória e rica e, em especial, muita inteligência, é sem dúvida a sorte mais feliz sobre a terra, por mais diversa que possa ser da sorte mais brilhante.

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
É preciso ler histórias de crimes e descrições de situações anárquicas para saber do que o homem é realmente capaz no que diz respeito à moral. Esses milhares de indivíduos que, diante dos nossos olhos, empurram-se desordenadamente uns aos outros no trânsito pacifíco devem ser vistos como tigres e lobos, cujos dentes são protegidos por fortes focinheiras.

Arthur Schopenhauer, in "A Arte de Insultar"

MARCEL PROUST

Para quem ama,
não será a ausência a mais certa,
a mais eficaz, a mais intensa,
a mais indestrutível,
a mais fiel das presenças ?
Mundo Grande



Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.

Carlos Drummond Andrade

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Certo homem que viveu doze anos em uma prisão me disse uma coisa, depois. Ele era, como eu, um dos clientes do meu professor. Também tinha ataques e, às vezes, ficava excitado; chorava, queria matar-se. A sua vida na cadeia foi uma vida miserável asseguro-lhes, mas não, absolutamente, sem sentido. Imaginem que seus únicos amigos eram uma aranha e uma árvore que crescia debaixo da sua janela gradeada. Mas o melhor é deixar de lado este caso e lhes contar como vim a encontrar, no ano passado, um outro homem em cuja vida houve uma circunstância bem estranha, pelo fato de ser daquelas que raramente acontecem. Esse homem fora, uma vez, conduzido com mais outros ao cadafalso, levado por uma sentença de morte. Ia ser fuzilado por causa de uma ofensa política. Vinte minutos mais tarde, porém, lhe era lida a comutação da pena de morte pela de degredo. Todavia, no intervalo entre as duas sentenças, vinte minutos, ou talvez um quarto de hora, teve ele a convicção firme de que ia morrer. Sempre o escutei sequiosamente, quando se punha a recordar as sensações dessa ocasião e, muitas vezes, depois, eu o interrogava a respeito. Lembrava-se de tudo com perfeita exatidão e costumava dizer que lhe era impossível esquecer aqueles vinte minutos. A vinte passos do cadafalso, a cuja volta soldadesca e povaréu permaneciam, havia três postes fincados no chão, pois se tratava de vários condenados. Os três primeiros foram conduzidos até aos postes e amarrados, com a túnica dos condenados (um camisolão branco), os capuzes puxados bem por sobre os olhos para que nada vissem, sendo que então uma companhia de vários soldados se postou diante de cada poste. O meu amigo era o oitavo da lista e portanto tinha de ser um dos do terceiro turno. O padre se acercou de cada um, com a cruz. Ele só dispunha de cinco minutos mais para viver. Contou-me que aqueles cinco minutos lhe pareceram um infinito e vasto tesouro. Sentia tantas vidas naqueles cinco minutos que não precisava se incomodar com o último momento, tanto mais que havia subdividido o seu tempo da seguinte maneira: dois minutos para se despedir dos companheiros. Outros dois para o seu último pensamento geral. E, depois, o último, o quinto, para olhar em redor de si pela derradeira vez. Lembrava-se muito bem dessa extravagante subdivisão do seu tempo. Ia morrer aos vinte e sete anos, moço, forte e em plena saúde. Ao se despedir dos camaradas ocorreu-lhe perguntar a um deles qualquer coisa inadequada à circunstância, e achou muito curiosa a resposta. Após as despedidas, vieram os tais dois minutos que reservara para pensar em si mesmo. Sabia de antemão em que devia pensar. Desejava atinar, da maneira mais clara e pronta possível, como é que estava existindo agora, isto é, vivendo, e como é que dentro de três minutos seria qualquer outra coisa, alguém ou nada! E isso, como e onde? Resolvera solucionar tudo, de vez, naqueles dois únicos e últimos minutos. Não longe dali havia uma igreja cuja cúpula dourada cintilava aos raios solares. Como se lembrava de se ter posto a fixar, fascinado, aquela cúpula fulgurante de luz! Não podia tirar os olhos de lá! Era como se aqueles raios fossem já a sua outra futura natureza, visto como, dentro de três minutos, ele de um certo modo se iria fundir neles…
A incerteza e um como que sentimento de pavor pelo mistério em que já estava quase ingressando foram terríveis. Disse-me, porém, que nada foi tão cruel naquele momento como este contínuo pensamento em forma de interrogação: “E se eu não morrer? Se eu for devolvido à vida? Ah! Que eternidade! Tudo seria meu! Eu transformaria cada minuto em outras tantas eternidades! Não desperdiçaria um segundo sequer! Contaria cada minuto que fosse passando, sem desperdiçar um único!” Disse-me que esta idéia lhe veio com tal furor, que desejou ser imediatamente fuzilado, logo, logo!…

O Príncipe foi então perguntado se o homem “Viveu, de fato, contado cada minuto?”:

- Qual nada! Disse-me depois. (…) Muito pelo contrário: perdeu muitos e muitos minutos...

( Dostoiévski in crime e castigo ).
"Escute-me só por um momento! Perdoe-me se lhe digo mais uma coisa... É o seguinte: não posso deixar de aqui voltar amanhã. Sou um sonhador; a minha vida real tão reduzida que momentos como estes que agora vivo são para mim de tal modo preciosos que não poderei evitar de os reproduzir nos meus sonhos. Sonharei consigo toda a noite, toda a semana, todo o ano. Voltarei obrigatoriamente aqui amanhã, justamente aqui, a este mesmo local, a esta mesma hora, e sentir-me-ei feliz por recordar o que hoje aconteceu. Doravante, este lugar é sagrado para mim."

( DOSTOIÉVSKI IN NOITES BRANCAS ).

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

"As únicas pessoas que me interessam são as loucas, aquelas que são loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas; as que desejam tudo ao mesmo tempo. As que nunca bocejam ou dizem algo desinteressante, mas que queimam e brilham, brilham, brilham como luminosos fogos de artifícios cruzando o céu.”
Jack Kerouac


"...Não quero possuir coisa alguma até que saiba que encontrei o lugar onde eu e as coisas pertencemos.
Ainda não tenho certeza de onde fica esse lugar.
Mas sei como ele é..."
O meu mundo não é como o dos outros,
quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito,
uma angústia constante que nem eu mesmo compreendo,
pois estou longe de ser uma pessimista;
sou antes uma exaltada, com uma alma intensa..."
Florbela Espanca
"A sensação de que existia um vasto mundo não me saía da cabeça e o desejo de ir vê-lo me levava em direção a outros horizontes"
Pierre Verger

SARTRE

"Somos responsáveis por nossas emoções, visto que há maneiras que escolhemos para reagir frente ao mundo. Somos também responsáveis pelos traços duradouros da nossa própria personalidade. Não podemos dizer "sou tímido", como se isto fosse um fato imutável, uma vez que nossa timidez representa a forma como agimos, e que podemos escolher agir diferentemente.Nossos atos nos definem. Na vida, o homem se compromete, desenha seu próprio retrato e não há mais nada senão esse retrato. Nossas ilusões e imaginação a nosso respeito, sobre o que poderíamos ter sido, são decepções auto-infligidas. Permanentemente estamos a nos fazer do modo que somos. Uma pessoa "corajosa" é simplesmente alguém que geralmente age com bravura. Cada ato contribui para nos definir como somos, e em qualquer momento podemos começar a agir de modo diferente e desenhar um retrato diferente de nós mesmos.Há sempre uma possibilidade de mundança, de começar a fazer um tipo diferente de escolha. Temos o poder de nos transformar indefinidamente..."
Um senador está andando tranqüilamente quando é atropelado e morre.
A alma dele chega ao Paraíso e dá de cara com São Pedro na entrada.

-"Bem-vindo ao Paraíso!"; diz São Pedro
-"Antes que você entre, há um probleminha.

Raramente vemos parlamentares por aqui, sabe, então não sabemos bem o
que fazer com você.

-"Não vejo problema, é só me deixar entrar", diz o antigo senador.

-"Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores. Vamos fazer o
seguinte:

Você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Aí, pode escolher onde
quer passar a eternidade.

-"Não precisa, já resolvi. Qu ero ficar no Paraíso diz o senador.

-"Desculpe, mas temos as nossas regras. "

Assim, São Pedro o acompanha até o elevador e ele desce, desce, desce
até o Inferno.

A porta se abre e ele se vê no meio de um lindo campo de golfe.

Ao fundo o clube onde estão todos os seus amigos e outros políticos com
os quais havia trabalhado.

Todos muito felizes em traje social.

Ele é cumprimentado, abraçado e eles começam a falar sobre os bons
tempos em que ficaram ricos às custas do povo.

Jogam uma partida descontraída e depois comem lagosta e caviar.

Quem também está presente é o diabo, um cara muito amigável que passa o
tempo todo dançando e contando piadas.

Eles se divertem tanto que, antes que ele perceba, já é hora de ir
embora.

Todos se despedem dele com abraços e acenam enquanto o elevador sobe.

Ele sobe, sobe, sobe e porta se abre outra vez. São Pedro está esperando
por ele.

Agora é a vez de visitar o Paraíso.

Ele passa 24 horas junto a um grupo de almas contentes que andam de
nuvem em nuvem, tocando harpas e cantando.

Tudo vai muito bem e, antes que ele perceba, o dia se acaba e São Pedro
retorna.

-" E aí ? Você passou um dia no Inferno e um dia no Paraíso.

Agora escolha a sua casa eterna." Ele pensa um minuto e responde:

-"Olha, eu nunca pensei .. O Paraíso é muito bom, mas eu acho que vou
ficar melhor no Inferno."

Então São Pedro o leva de volta ao elevador e ele desce, desce, desce
até o Inferno.

A porta abre e ele se vê no meio de um enorme terreno baldio cheio de
lixo.

Ele vê todos os amigos com as roupas rasgadas e sujas catando o entulho
e colocando em sacos pretos.

O diabo vai ao seu encontro e passa o braço pelo ombro do senador.

-" Não estou entendendo", - gagueja o senador - "Ontem mesmo eu estive
aqui e havia um campo de golfe, um clube, lagosta, caviar, e nós dançamos e
nos divertimos o tempo todo. Agora só vejo esse fim de mundo cheio de lixo e
meus amigos arrasados!!!"

O diabo olha pra ele, sorri ironicamente e diz:

-"Ontem estávamos em campanha.
Agora , já conseguimos o seu voto..."
Você pode ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas
vezes, mas não se esqueça de que sua vida é a maior empresa do mundo.

E você pode evitar que ela vá a falência.

Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por você.

Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz não é ter um
céu sem tempestade, caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas,
relacionamentos sem desilusões.

Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas,
segurança no palco do medo, amor nos desencontros.

Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas refletir sobre a
tristeza.

Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos.

Não é apenas ter júbilo nos aplausos, mas encontrar alegria no
anonimato.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor
da própria história.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um
oásis no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um não.

É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora
dentro de cada um de nós.

É ter maturidade para falar eu errei.

É ter ousadia para dizer me perdoe.

É ter sensibilidade para expressar eu preciso de você.

É ter capacidade de dizer eu te amo.

É ter humildade da receptividade.

Desejo que a vida se torne um canteiro de oportunidades para você
ser feliz . .

E, quando você errar o caminho, recomece.

Pois assim você descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita.

Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância.

Usar as perdas para refinar a paciência.

Usar as falhas para lapidar o prazer.

Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.

Jamais desista de si mesmo.

Jamais desista das pessoas que você ama.

Jamais desista de ser feliz, pois a vida é um obstáculo imperdível,
ainda que se apresentem dezenas de fatores a demonstrarem o
contrário.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo ...

Fernando Pessoa