sábado, 29 de março de 2014

Quanto mais algo é inteligível, mais facilmente se retém, e, ao contrário, quanto menos, mais facilmente o esquecemos.
Spinoza


O que será, pois, a memória? Nada mais do que a sensação das impressões do cérebro junto com o pensamento de uma determinada duração da sensação; o que também a reminiscência mostra. Realmente, nesta a alma pensa nessa sensação, mas não sob uma contínua duração; e assim a idéia desta sensação não é a própria duração da sensação, quer dizer, a própria memória.
Spinoza


Eu sempre tive um enorme desejo de aprender a diferenciar o verdadeiro do falso, para ver claramente minhas ações e caminhar com segurança nesta vida.
Descartes


Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz.
Epicuro

do it Lenine



escravo se rebele...
As Escolhas de Uma Vida
 
A certa altura do filme Crimes e Pecados,
o personagem interpretado por Woody Allen diz:
"Nós somos a soma das nossas decisões". Essa frase acomodou-se na minha massa cinzenta
e de lá nunca mais saiu.

Compartilho do ceticismo de Allen:
a gente é o que a gente escolhe ser,
o destino pouco tem a ver com isso.

Desde pequenos aprendemos que,
ao fazer uma opção,
estamos descartando outra,
e de opção em opção vamos tecendo essa teia que
se convencionou chamar "minha vida".

Não é tarefa fácil.
No momento em que se escolhe ser médico,
se está abrindo mão de ser piloto de avião.
Ao optar pela vida de atriz,
será quase impossível conciliar com a arquitetura.

No amor, a mesma coisa:
namora-se um, outro, e mais outro,
num excitante vaivém de romances.
Até que chega um momento em que é
preciso decidir entre passar o resto da vida
sem compromisso formal com alguém,
apenas vivenciando amores
e deixando-os ir embora quando se findam,
ou casar, e através do
casamento fundar uma microempresa,
com direito a casa própria, orçamento
doméstico e responsabilidades.
As duas opções têm seus prós e contras:
viver sem laços e viver com laços...

Escolha:
beber até cair ou virar vegetariano e budista?

Todas as alternativas são válidas,
mas há um preço a pagar por elas.
Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses,
ser casados de segunda a sexta
e solteiros nos finais de semana,
ter filhos quando se está bem-disposto
e não tê-los quando se está cansado.

Por isso é tão importante o auto conhecimento.
Por isso é necessário ler muito,
ouvir os outros,
estagiar em várias tribos,
prestar atenção ao que
acontece em volta e não
cultivar preconceitos.

Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas,
elas têm que refletir o que a gente é.
Lógico que se deve reavaliar decisões e
trocar de caminho:
Ninguém é o mesmo para sempre.
Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar,
e não para anular a vivência do
caminho anteriormente percorrido.

A estrada é longa e o tempo é curto.
Não deixe de fazer nada que queira,
mas tenha responsabilidade e maturidade
para arcar com as
conseqüências destas ações.

Lembrem-se:
suas escolhas têm 50% de chance de darem certo,
Mas também 50% de chance de darem errado.

A escolha é sua...

(Martha Medeiros).
 

quinta-feira, 20 de março de 2014

Na declaração dos direitos do homem esqueceram-se de incluir o direito a contradizer-se.
Baudelaire

quarta-feira, 19 de março de 2014



No campo de concentração, eu aprendi a acreditar no homem. ..................... Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem. .................................................... Ainda que fôssemos surdos e mudos como uma pedra, a nossa própria passividade seria uma forma de ação. .................................................... Não fazemos o que queremos e, no entanto, somos responsáveis pelo que somos: eis a verdade.
Sartre

sábado, 15 de março de 2014

assim me tornei louco.
e encontrei tanto liberdade como segurança na loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido,
pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

(gibran kahlil gibran)

vida real

Assim como a cera, naturalmente dura e rígida, torna-se, com um pouco de calor tão moldável que se pode levá-la a tomar a forma que se desejar, também se pode, com um pouco de cortesia e amabilidade, conquistar os obstinados o os hostis
Schopenhauer
"Eu faço minhas coisas e você faz as suas coisas.
Não estou neste mundo para satisfazer as suas expectativas e você não está neste mundo para satisfazer as minhas.
Você é você, e eu sou eu. E se por acaso nos encontrarmos será maravilhoso.
E se não, não há nada para fazer.
Se eu faço unicamente o meu, e você o teu, corremos o risco de perder um ao outro e a nós mesmos.
Não estou neste mundo para preencher tuas expectativas...
Somos plenamente nós mesmos, somente em relação um ao outro.
Eu não te encontro por acaso, te encontro mediante uma vida, atenta, um lugar onde as coisas acontecem passivamente.
Posso e devo agir, intencionalmente, para que aconteçam.
Devo começar comigo mesma a verdade.. Mas não devo terminar aí. A verdade começa a dois!"


Frederick Perls


Sobre a “Oração da Gestalt”

Por Alina Purvinis (CRP: 06/1828-1)

A assim chamada “Oração da Gestalt”, um pequeno poema escrito por Frederick Perls, e considerada uma síntese da sua visão sobre as relações interpessoais, tem sido, na minha opinião, muitas vezes mal interpretada.
Tenho ouvido críticas a ela, afirmando que Fritz prega um individualismo exacerbado, enfatizando o “eu” e o “tu”, e deixando de dar importância ao “nós”, á interdependência que existe entre todos os seres humanos.

EU NÃO ENTENDO A ORAÇÃO DESTA MANEIRA.

Ao contrário, considero que a posição afirmada por Perls é a de um respeito total pela individualidade, pela aceitação das diferenças individuais e pelo reconhecimento e aceitação plenos dos limites inerentes a qualquer relacionamento.
Explicitando melhor cada parte da oração:

“Eu sou eu”: o primeiro pré-requisito para qualquer relacionamento maduro e saudável é que eu saiba quem sou, que eu reconheça e aceite todas as partes que compõem minha individualidade (tanto minhas qualidades e recursos, quanto meus defeitos e limitações), e que eu assuma totalmente a responsabilidade por tudo que sinto, penso e faço.

“Você é você”: o segundo pré-requisito (que depende do primeiro) é ser capaz de ver o outro, reconhecer o outro como outro, diferente de mim. Temos a tendência de projetar nossos sentimentos, expectativas, conflitos, significados, na outra pessoa, principalmente quando não temos uma consciência clara desses aspectos. Interpretamos muitos comportamentos das outras pessoas como algo dirigido a nós, quando, na maior parte das vezes, esses comportamentos têm a ver com o referencial delas, não tem nada a ver conosco.

“Eu faço minhas coisas, você faz as suas”: costumo comparar as duas pessoas envolvidas num relacionamento com dois círculos. Se eles estão completamente separados, não existe relação. Se eles estão superpostos, isso configura uma confluência (fusão, simbiose), em que a individualidade dos dois está anulada. Se eles têm um espaço de intersecção, existe uma interdependência – cada um tem o seu espaço individual, em que desenvolve seus próprios interesses e preferências, e existe o espaço comum aos dois, em que fazem coisas juntos e compartilham experiências.

“Não estou neste mundo para viver de acordo com suas expectativas, e você não está neste mundo para viver de acordo com as minhas”: quando iniciamos um relacionamento, podemos ficar extremamente preocupados em relação ao que o outro espera de nós; algumas pessoas (especialmente as mulheres) parecem ter desenvolvido “antenas” para captar as necessidades do outro e tentam satisfazê-las, na expectativa de assim obter seu afeto e aprovação. No entanto, agir dessa maneira é uma armadilha, por várias razões: em primeiro lugar, aquela pessoa única e interessante que despertou atração simplesmente desaparece, transforma-se num “zero á esquerda”, extremamente desinteressante; em segundo lugar, a pessoa que se anula e dá demais cria expectativas de receber muito também e se frustra – temos uma idéia errônea de que seremos tratados da mesma maneira como tratamos o outro, e na verdade somos tratados pelo outro da mesma maneira que nós nos tratamos; em terceiro lugar, a pessoa nunca vai se sentir realmente amada ou valorizada, pois não está sendo ela mesma no relacionamento, está mostrando uma falsa imagem; e, finalmente, ninguém consegue sufocar suas verdadeiras necessidades e sentimentos para sempre, então esse relacionamento é uma “ bomba relógio”, aquilo que a pessoa faz para manter a harmonia, para evitar brigas, é exatamente o que vai levar á ruptura.

“E se por acaso nos encontramos, é lindo. Se não, nada há a fazer”: este final, que ás vezes é considerado pessimista, simplesmente afirma uma verdade. Ninguém pode se obrigar a querer aquilo que não quer, a ser aquilo que não é, a passar por cima dos seus limites, a ceder onde não dá para ceder. E, por mais que duas pessoas tenham afinidades e gostem uma da outra, elas jamais conseguirão ter as mesmas necessidades, na mesma hora, com a mesma intensidade...O que podemos fazer é expressar diretamente para a outra pessoa o que pensamos, sentimos e desejamos, e permitir que o outro também se expresse livremente. Colocando assim as cartas sobre a mesa, podemos então tentar chegar a um consenso, a um acordo, cada um cedendo um pouco, sem se anular. Às vezes, isso é possível; às vezes, o melhor consenso a que conseguimos chegar é “Concordamos que discordamos...”
Se houver um afeto genuíno e um verdadeiro respeito e aceitação pela individualidade do outro, poderemos continuar nos relacionando. Se, no entanto, constatarmos que o abismo entre as minhas expectativas e as do outro é muito grande, talvez seja melhor reconhecer isso, nos despedirmos com gratidão e cada um trilhar o seu caminho, com outros companheiros de viagem.

Engenheiros do Hawaii - Terra de Gigantes/ Numeros (Acustico MTV)




"Não fiques nos baixios./ Não subas às alturas./ O mais belo mirante do mundo/ está no meio da encosta".
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, 12 de março de 2014

" ACHAR CULPADOS É FÁCIL... DIFICIL É ACEITAR QUE ELES NÃO EXISTEM. "
Todo conhecimento exige um conceito, por mais imperfeito ou obscuro que ele possa ser.
Kant

terça-feira, 11 de março de 2014

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,que já tem a forma do nosso corpo,e esquecer os nossos caminhos,que nos levam sempre aos mesmos lugares.É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la,teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
(Fernando Pessoa)
"nós vivemos num ambiente de lassitude moral que se estende a todas as camadas da sociedade e que esse negócio de dizer que as elites são corruptas mas que o povo é honesto é conversa fiada. Nós somos um povo de comportamento desonesto de maneira geral, ou pelo menos um comportamento pouco recomendável".

( JOÃO UBALDO RIBEIRO).

O MEDO CAUSADO PELA INTELIGÊNCIA



  Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estreia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembleia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: "Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta." E ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pode dar ao pupilo que se inicia numa carreira difícil. A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência. Isso na Inglaterra. Imaginem aqui no Brasil... Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa: "Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma Ciência."
Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder. Mas é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar. Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos. Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do "Elogio da Loucura", de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se quiser vencer na vida. É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social. Assim como um grupo de senhoras burguesas, bem casadas, boicota automaticamente a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar. Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas, enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender. É um paradoxo angustiante. Infelizmente temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida. Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues: "Finge-te de idiota e terás o céu e a terra." O problema é que os inteligentes brilham sem perceber, sendo assim, que Deus os proteja!
Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.

(Gabriel García Márquez)
(Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74)
"A natureza e a educação são algo semelhante. Porque a educação transforma o homem, mas através desta transformação, cria uma natureza".
DEMÓCRITO


"A amizade de um único homem compreensível é melhor que a de todos os que não têm entendimento".
DEMÓCRITO

segunda-feira, 10 de março de 2014

Serão os filósofos, que nos propõem, como todo bem, os bens que estão em nós? Será esse o verdadeiro bem? Descobriram eles o remédio para os nossos males? Será curar a presunção do homem igualá-lo a Deus? Os que nos igualaram às feras, e os maometanos, que nos deram como todo bem os prazeres da terra, até mesmo na eternidade, trouxeram, o remédio para as nossas concupiscências? Levantai vossos olhos para Deus, dizem uns; olhai para aquele ao qual vos assemelhais e que vos fez para adorá-lo; podeis tornar-vos semelhante a ele; a sabedoria vos igualará a ele, se quiserdes segui-lo. Dizem outros: Baixai vossos olhos para a terra, mísero verme que sois, e olhai para as feras, das quais sois o companheiro.
Pascal


A tragédia é a imitação de uma ação importante e completa, de certa extensão; deve ser composta num estilo tornado agradável pelo emprego separado de cada uma de suas formas; na tragédia, a ação é apresentada, não com a ajuda de uma narrativa, mas por atores. Suscitando a compaixão e o terror, a tragédia tem por efeito obter a purgação dessas emoções.
Aristóteles


A mais bela tragédia é aquela cuja composição deve ser, não simples, mas complexa; aquela cujos fatos, por ela imitados, são capazes de excitar o temor e a compaixão (pois é essa a característica deste gênero de imitação). Em primeiro lugar, é óbvio não ser conveniente mostrar pessoas de bem passar da felicidade ao infortúnio (pois tal figura produz, não temor e compaixão, mas uma impressão desagradável).
Aristóteles


"O ato espiritual, tal como o homem pode realizá-lo, está em contradição com a simples resposta do esquema corpóreo do animal e com o seu conteúdo essencialmente vinculado a uma segunda dimensão e a um segundo estágio do ato reflexo. O animal tem consciência, diferentemente das plantas, mas não tem nenhuma autoconsciência... Ele não possui a si mesmo, não detém o poder sobre si mesmo - e por isso também não é consciente de si". (A posição do Homem no Cosmos)
MAX SCHELER

sábado, 8 de março de 2014

Os homens nunca revelam os verdadeiros objetivos pelos quais atuam. Intimamente, exageram os motivos baixos, materiais: publicamente, anunciam os motivos nobres, espirituais. Mentem em ambos os casos. Os homens não conhecem os outros nem a si próprios.A maior parte dos homens vive de instinto, hábito e imitação, animalmente - por vezes, com intermédios de felicidade...
Papini (os reais motivos)



A fantasia é a mãe da satisfação, do humor, da arte de viver. Apenas floresce alicerçada num íntimo entendimento entre o ser humano e aquilo que objetivamente o rodeia. Esse ambiente envolvente não tem de ser belo, singular ou sequer encantador. Basta que tenhamos tempo para a ele nos habituarmos, e é sobretudo isso que hoje em dia nos falta.
Hermann Hesse (a respeito do devaneio)



Os homens que conheceram a profundidade da tristeza, se traem quando são felizes, têm um certo modo de compreender a felicidade que parece mostrar que querem comprimi-la e sufocá-la, por ciúmes ? porque sabem que, infelizmente, essa logo fugirá,
Nietzsche (sobre a tristeza)




A educação atual e as atuais conveniências sociais premiam o cidadão e imolam o homem. Nas condições modernas, os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades socialmente valiosas. A existência do resto da personalidade ou é ignorada ou, se admitida, é admitida somente para ser deplorada, reprimida ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada.
Huxley (sobre a educação)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Ética e trapaça



O sociólogo Peter Berger escreveu livrinho delicioso:
"Introdução à Sociologia". Um dos seus capítulos tem um título estranho: "Como trapacear e se manter ético ao mesmo tempo". Estranho à primeira vista. Mas logo se percebe que, na política, é de suma importância juntar ética e trapaça. Para explicar vou contar uma historieta :

Havia numa cidade dos Estados Unidos uma igreja Batista. Os batistas, como se sabe, são um ramo do cristianismo muito rigoroso nos seus princípios éticos.
Havia na mesma cidade uma fábrica de cerveja que, para a igreja Batista, era a vanguarda de Satanás.
O pastor não poupava a fábrica de cerveja nas suas pregações. Aconteceu, entretanto, que, por razões pouco esclarecidas, a fábrica de cerveja fez uma doação de 500 mil dólares para a dita igreja. Foi um auê. Os membros mais ortodoxos da igreja foram  unânimes em denunciar aquela quantia como dinheiro do Diabo e que não poderia ser aceito.
Mas, passada a exaltação dos primeiros dias, acalmados os ânimos, os mais ponderados começaram a analisar os
benefícios que aquele dinheiro poderia trazer: uma pintura nova para a igreja, um órgão de tubos, jardins mais bonitos, um salão social para festas. Reuniu-se então a igreja em assembléia para a decisão democrática.

Depois de muita discussão registrou-se a seguinte decisão no livro de atas:
"A Igreja Batista Betel resolve aceitar a oferta de 500 mil dólares feita pela Cervejaria na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que o seu dinheiro vai ser usado para a glória de Deus."

Rubem Alves

terça-feira, 4 de março de 2014



Eu pertenço à raça daqueles benditos ou malditos que precisam conhecer melhor os recursos de sua consciência para viver.
Samuel Rawet


O após-guerra converteu o homem de ciência no novo pária social. E conste que me refiro a físicos, químicos, biólogos - não aos filósofos -. A filosofia não necessita de proteção, nem de atenção, nem de simpatia da massa. Cuida de seu aspecto de perfeita inutilidade, e como isso se liberta de toda submissão do homem médio. Sabe que é por essência problemática, e abraça alegre seu livre destino de pássaro do bom Deus, sem pedir a ninguém que conte com ela, nem recomendar-se, nem defender-se. Se alguém de boa mente a aproveita para algo, regozija-se por simples simpatia humana; mas não vive desse proveito alheio, nem o premedita, nem o espera. Como vai pretender que alguém a tome em sério, se ela começa por duvidar de sua própria existência, se não vive mais que na medida em que se combata a si mesma, em que se desvie a si mesma? Deixemos, pois, de lado a filosofia, que é aventureira de outro nível.
Ortega Y Gasset
"Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que nos dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei". 
 ( Aurélio Agostinho )


"Um modo de fazer filosofia não se relaciona com outros modos de fazer filosofia do mesmo modo que um tipo de dança se relaciona com outros. Os tipos de dança não se excluem ou incluem mutuamente. Pode-se, em uma mesma noite, e com igual entusiasmo, dançar um tango, um boogie e um rock in roll, sem nos preocupar com a valsa, mas não se pode filosofar de um modo sem ter rejeitado ou incorporado os outros modos".  
ERNST TUGENDHAT