sábado, 22 de janeiro de 2011

O poeta russo Joseph Brodsky, em seu monumental “Discurso Inaugural”, afirma que sobre o bem devemos falar sempre entre poucas pessoas. Sobretudo porque, quando falamos para muitas pessoas, a chance de que muitas delas sejam más é enorme, justamente porque são muitas. Mesmo que jurem sinceridade, ainda assim devemos desconfiar, pois os sentimentos falsos são comuns nas pessoas e, quando multiplicamos seu número, multiplica-se exponencialmente a possibilidade de falsos sentimentos. Mas não vou falar aqui do bem nem do mal. Talvez haja, afinal, alguma relação entre o pequeno objeto deste ensaio e o bem e o mal, do contrário não teria assim pensado. Mas deixemos isso para lá. Corramos o risco. O que nesta analogia conscientemente me importa é o número de pessoas: espero que apenas umas três ou quatro pessoas leiam este ensaio. E por que esse meu desejo de ser lido por poucos? Porque pretendo falar de algo que não se deve falar para multidões. A delicadeza, a sofisticação da alma, o amor ao detalhe e a vontade de entender não são atributos das multidões, e aqui reside grande parte de toda a miséria moderna, ser um mundo de grandes números, dedicado a muitos idiotas.

(Luis Felipe Pondé “No Sinai”, Contra um Mundo Melhor, Ed. LeYa, 2010, p. 214-215)

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