quarta-feira, 25 de novembro de 2009

sono/vigília
teeteto: certamente não posso me comprometer a demonstrar que os loucos ou os que sonham acreditam no que pensam quando imaginam, alguns deles, que são deuses, e outros que podem voar, e estão voando em seus sonhos

sócrates: vês uma outra pergunta que pode ser suscitada sobre esses fenômenos, em especial sonhar e estar desperto?


teeteto: que pergunta?

sócrates: uma pergunta que, me parece, deves ter ouvido pessoas fazerem dezenas de vezes: como podes tu determinar se neste momento estamos dormindo, e todos os nossos pensamentos são um sonho; ou se estamos despertos, e conversando um com outro no estado de vigília:

teeteto: realmente, sócrates, não sei como provar nem uma coisa nem outra; pois em ambos os casos os fatos correspondem precisamente; e não há dificuldade alguma em supor que durante toda esta discussão estivemos falando um com o outro em sonho; e quando num sonho parecemos estar narrando sonhos, a semelhança entre os dois estados é realmente espantosa.

sócrates: vês, portanto, que uma dúvida sobre a realidade dos sentidos é facilmente suscitada, já que pode haver dúvida até quanto estarmos despertos ou num sonho. E como nosso tempo é igualmente dividido entre o sono e a vigília, em ambas as esferas da existência a alma sustenta que os pensamentos presentes em nossas mentes no momento são verdadeiros; e durante uma metade de nossa vidas afirmamos a verdade de uma, e, durante a outra metade, da outra; e temos plena confiança em ambas.

teeteto: a mais pura verdade.

sócrates: e não pode o mesmo ser dito da loucura e das outras desordens? a única diferença é que os tempos não são iguais.

[alice no país das maravilhas - edição comentada. pág. 64-65, nota 9.]

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