terça-feira, 16 de junho de 2015

Nada é mais repugnante do que a maioria, pois ela compõe-se de uns poucos antecessores enérgicos; velhacos que se acomodam; de fracos, que se assimilam, e da massa que vai atrás de rastros, sem nem de longe saber o que quer.
( Johann Goethe).


Limitado mas Completo

O indivíduo mais limitado pode ser completo, se se move dentro das fronteiras das suas capacidades e das suas disposições pessoais. Pelo contrário, acontece que aquilo que noutros são qualidades incomparáveis, podem ser obscurecidas, apagadas ou mesmo aniquiladas, se se desfaz aquele equilíbrio imprescindível. E este mal há-de tornar-se ainda mais evidente nos tempos modernos; pois quem será capaz de satisfazer as exigências de um presente que não pára de crescer e que aliás cresce cada vez mais depressa? 

Johann Wolfgang von Goethe, in "Máximas e Reflexões" 

A Idade não nos Torna mais Sábio

As pessoas imaginam que precisamos de chegar a velhos para ficarmos sábios, mas, na verdade, à medida que os anos avançam, é difícil mantermos-nos tão sábios como éramos. De facto, o homem torna-se um ser distinto em diferentes etapas da vida. Mas ele não pode dizer que se tornou melhor, e, em alguns aspectos, é igualmente provável que ele esteja certo aos vinte ou aos sessenta. Vemos o mundo de um modo a partir da planície, de outro a partir do topo de uma escarpa, e de outro ainda dos flancos de uma cordilheira. De alguns desses pontos podemos ver uma porção maior do mundo que de outros, mas isso é tudo. Não se pode dizer que vemos de modo mais verdadeiro de um desses pontos que dos restantes. 


Johann Wolfgang von Goethe, in 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Não lamento os homens, os homens refazem-se; não lamento o ouro destes tesouros, os tesouros voltam a encher-se; mas quem restituirá a estes povos os anos que vão passando?  

Denis Diderot 

O Ateu é Deus


Deus não existe (...) A salvação de todos consiste agora em provar essa ideia a toda a gente, percebes? Quem é que há-de prová-la? Eu! Não entendo como é que até agora um ateu podia saber que Deus não existe e não se suicidava logo. Reconhecer que Deus não existe e não reconhecer ao mesmo tempo que o próprio se tornou deus é um absurdo, pois de outra maneira suicidar-se-ia inevitavelmente. Se tu o reconheces, és um rei e não te matarás, mas viverás na maior glória. Mas só o primeiro a perceber isso é que deve inevitavelmente matar-se, senão o que é que principiaria e provaria? 

Sou eu que me vou suicidar para iniciar e para provar. Ainda só sou deus sem querer e sofro porque tenho o DEVER de proclamar a minha própria vontade. Todos são infelizes porque todos têm medo de afirmar a sua vontade. Se o homem até hoje tem sido tão infeliz e tão pobre, é precisamente porque tem tido medo de afirmar o ponto capital da sua vontade, recorrendo a ela às escondidas como um jovem estudante. 

Eu sou profundamente infeliz porque tenho medo profundamente. O medo é a maldição do homem... Mas hei-de proclamar a minha vontade, tenho o dever de crer que não creio. E serei salvo. Só isto salvará todos os homens e há-de transformá-los fisicamente, na geração seguinte; porque, no seu estado físico actual (reflecti nisso muito tempo), o homem não pode, de modo algum, passar sem o seu velho Deus. 

Durante três anos procurei o atributo da minha divindade e achei-o: o atributo da minha divindade é a minha vontade, é o livre arbítrio. É com isso que posso manifestar sobre o ponto capital a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova. Porque é terrível! Mato-me para afirmar a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova. 

Fiodor Dostoievski, in 'Os Possessos' (discurso do personagem Kirilov)

Os Pensamentos Intraduzíveis

É sabido que comboios completos de pensamento atravessam instantaneamente as nossas cabeças, na forma de certos sentimentos, sem tradução para a linguagem humana, menos ainda para uma linguagem literária... porque muitos dos nossos sentimentos, quando traduzidos numa linguagem simples, parecem completamente sem sentido. Essa é a razão pela qual eles nunca chegam a entrar no mundo, no entanto toda a gente os tem. 

Fiodor Dostoievski, in 'Uma Anedota Sórdida' 
Achar graça do que os outras acham...
 Rir, com dentes alheios. 
Com o riso, cobrir nossas mágoas, nosso desespero, nossa humanidade medíocre e mortal.

Com o riso alheio viver nossa vida social e, feliz
interagir
 e esconder nossas fraquezas, nós mesmos...

 Os seres resolvidos, inteiros... Verdadeiros.

Será?

Quando mostramos aos outros o que eles precisam, nos tornamos felizes? Melhores e
 distantes de julgamentos. 
Talvez, só numa alma com conhecimento da escuridão, seja possível, trazer chamas a uma vela...

Sorrisos, têm vindo de nosso âmago ou através das perspectivas dos outros?

Nós, os eternos seres felizes, descontentes...

Usemos a ferramenta de aproximação social. Afinal, Como diz o enunciado:


- Sorria você esta sendo filmado.
                                                                             ( E.A.A)
Passa o tempo para felicidades alheias
e de finais de semana...

Galho Seco - Zé Geraldo Acústico 1998

sábado, 6 de junho de 2015

Cursos de vivência indígena: Valorização da cultura ou um Produto para o mercado?

05 de Junho de 2015
A demanda pela busca de cursos de vivência indígena cresceu, com a popularidade de algumas iniciativas e encontros multiétnicos espalhados não apenas pelo Brasil mas no mundo.

O que mais chama atenção do público é a oportunidade de conhecer diferentes culturas indígenas. As cores, fotos e convites em cenários com paisagens naturais deslumbrantes desperta curiosidade de consumidores culturais que em sua maioria desconhecem os impactos causados nas culturas. Existe muita diversidade de povos e culturas no Brasil, povos com diferentes tempos de contato, alguns séculos outros apenas poucos anos.

Iniciativas autônomas realizadas pelos próprios indígenas são importantes para autonomia, mas até que ponto as iniciativas de não indígenas em realizar pacotes de vivência é positiva para as populações ? Uma pergunta que vem sendo feita por muitas pessoas.

Em 2013 o agente agroflorestal, realizador indígena da etnia Huni Kuin e Associação do Povo Indígena do Rio Humaita (ASPIRH), Nilson Saboia, Tuwe Huni Kuin, escreveu um texto com depoimentos reflexivos sobre o que ocorre com os saberes espirituais de seu povo quando algumas pessoas em outras partes do país realizam cerimonias não autorizadas, realizadas por indígenas aliciados ou não indígenas.  

"São muitos os charlatões que tentam falar falsamente em nome de meu povo. Chega-se, inclusive, a criar um grande misticismo, falsas filosofias, biopirataria, rituais e vários outros artifícios para enganar pessoas que sentem um vazio nas suas vidas e tem um respeito pelos povos indígenas. O resultado é muito longe do esperado, tanto para as pessoas que procuram esse tipo de resposta que não resolvem seus problemas, quanto para os índios que são aliciados por gente mal intencionada.

Isso é parte de um enquadramento via mercado de meu povo. Onde isso deu certo com os Povos da Natureza? Na Ásia, na África, nas Américas, na Oceania? Existe um só lugar nesse vasto mundo que isso não resultou em escravidão (ou assalariamento precário), enganação, roubo de terras, mortes e perda de identidade dos povos originários?

Por trás disso tudo várias motivações: a intolerância, a ambição pelo lucro, a ignorância, a desfaçatez e etc. Sentimentos que meu povo originariamente não está acostumado a viver e sentir, frutos de uma sociedade baseada na exploração do homem pelo homem que nos impedem de alcançar a felicidade e a harmonia com nosso meio.

Nossa cultura não cabe num lugar que não seja nosso próprio mundo. Precisamos simplesmente ser nós mesmos em nossa própria Aldeia. Quando saímos desse universo é para mostrar que precisamos ser respeitados e não virar mercadoria ou peça de exposição. Nossa cultura fora de nosso próprio mundo só pode ser apresentado como uma resistência ao seu extermínio.

(There are many charlatans who try to speak falsely on behalf of my people. You reach the create a great mysticism, false philosophies, biopiracy, rituals and several other tricks to fool people who feel a void in their lives and have a respect for indigenous peoples. The result is far from the expected, both for people seeking this type of response that do not solve their problems, and the Indians who are enticed by malicious people. This is part of a framework via the market of my people. Where it worked with people of nature? In Asia, Africa, the Americas, Oceania? There is one place in this vast world that it did not result in slavery (or part-time wages), deception, theft, deaths and loss of identity of native peoples? Behind this several reasons: intolerance, greed for profit, the ignorance, the nerve and etc. Feelings that my people originally is not accustomed to live and feel, fruit of a society based on the exploitation of man by man that prevent us from achieving the happiness and harmony with our environment. Our culture does not fit in a place other than our own world. We need to just be ourselves in our own Village. When we came out of this universe is to show that we need to be respected and not to turn the goods or part of the exhibition. Our culture out of our own world can only be presented as a resistance to their extermination)", depoimento de Tuwe Huni Kuin em texto de sua autoria vinculado nas redes sociais em 2013.

O saber ancestral é sagrado para os povos indígenas, cerimonias não apenas religiosas mas também culturais vem sendo realizadas em muitos locais mas nem todas são autorizadas pelas comunidades ou lideranças dos povos. Mostrar a cultura por meio de vivências organizadas por não indígenas muitas vezes acaba atropelando em algum momento não apenas costumes mas a própria essência cultural indígena. É um tema polêmico e pouco exposto mas extremamente necessário para reflexão do público.

A banalização das culturas por meio de não indígenas é vista com preocupação por anciões que temem que indígenas não preparados passem a ver suas próprias culturas como meras representações teatrais no palco e mercado exótico não indígena. Mostrar a cultura é uma importante forma de difusão cultural mas é de extrema responsabilidade.

Muitos grupos de dança indígena realizam trabalhos de difusão cultural autorizados por suas comunidades ou lideranças. Em sua maioria indígenas e grupos autônomos realizam o trabalho de forma a contribuir para seus povos, o alvo de críticas vem sendo a apropriação de não indígenas e indigenistas como mentores de indígenas ou interlocutores em determinados projetos. É fundamental que aqueles que pagam valores muitas vezes elevados para viver essas vivências saibam como elas estão sendo realizadas e o que as comunidades, indígenas ou povos envolvidos ganham com isso ou não.

Redação Yandê