terça-feira, 4 de março de 2014



O após-guerra converteu o homem de ciência no novo pária social. E conste que me refiro a físicos, químicos, biólogos - não aos filósofos -. A filosofia não necessita de proteção, nem de atenção, nem de simpatia da massa. Cuida de seu aspecto de perfeita inutilidade, e como isso se liberta de toda submissão do homem médio. Sabe que é por essência problemática, e abraça alegre seu livre destino de pássaro do bom Deus, sem pedir a ninguém que conte com ela, nem recomendar-se, nem defender-se. Se alguém de boa mente a aproveita para algo, regozija-se por simples simpatia humana; mas não vive desse proveito alheio, nem o premedita, nem o espera. Como vai pretender que alguém a tome em sério, se ela começa por duvidar de sua própria existência, se não vive mais que na medida em que se combata a si mesma, em que se desvie a si mesma? Deixemos, pois, de lado a filosofia, que é aventureira de outro nível.
Ortega Y Gasset

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