segunda-feira, 30 de abril de 2012

Quando Está Frio no Tempo do Frio

Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável, Porque para o meu ser adequado à existência das cousas O natural é o agradável só por ser natural. Aceito as dificuldades da vida porque são o destino, Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno — Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita, E encontra uma alegria no fato de aceitar — No fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável. Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida? O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço, Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime, Da mesma inevitável exterioridade a mim, Que o calor da terra no alto do Verão E o frio da terra no cimo do Inverno. Aceito por personalidade. Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos, Mas nunca ao erro de querer compreender demais, Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência, Nunca ao defeito de exigir do Mundo Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo. Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

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