segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Frases Do livro “A Desobediência Civil”

“[...] o governo é uma conveniência pela qual os homens conseguem, de bom grado, deixar-se em paz uns aos outros, e, como já se disse, quanto mais conveniente ele for, tanto mais deixará em paz seus governados.”

“Penso que devemos ser homens, em primeiro lugar, e depois súditos. Não é desejável cultivar pela lei o mesmo respeito que cultivamos pelo direito. A única obrigação que tenho o direito de assumir é a de fazer a qualquer tempo aquilo que considero de direito.”

“A grande maioria de homens serve ao Estado desse modo, não como homens propriamente, mas como máquinas, com seus corpos.”

“Estamos acostumados a dizer que a massa dos homens é despreparada, mas o progresso é lento porque a minoria não é substancialmente mais sábia ou melhor do que a maioria.”

“Há novecentos e noventa e nove defensores da virtude para cada homem virtuoso.”

“Vim a este mundo não, principalmente, para fazer dele um bom lugar para se viver, mas para viver nele, seja bom ou mau.”

“[...] não importa quão limitado possa parecer o começo: aquilo que é bem feito uma vez está feito para sempre.”

“Num governo que aprisiona qualquer pessoa injustamente, o verdadeiro lugar de um homem justo é também uma prisão.”

“Deves viver contigo e depender só de ti, sempre arrumado e pronto para partir, e não ter muitos negócios.”

“[...] o Estado nunca enfrenta intencionalmente a consciência intelectual ou moram de um homem, mas apenas seu corpo, seus sentidos. Não está equipado com inteligência ou honestidade superiores, mas com força física superior.”

“Se uma planta não consegue viver de acordo com sua natureza, ela morre, e assim também um homem.”

Henry David Thoreau. foi um filósofo, naturalista e poeta estadunidense. Caminhante solitário e defensor da Natureza, se isolou do convívio social por parte de sua vida. Sua obra antecipa preocupações ambientais e ecológicas. Ativista anti-impostos, foi preso por sonegação. Na prisão, escreveu esse livro em 1849, defendendo a desobediência civil como oposição legítima a um Estado injusto e autoritário. Nas mãos de Gandhi, esse livro o influenciou a derrubar um império. Embora os escritos de Thoreau tenham influenciado de anarquistas a ecologistas, o autor preferia não se definir sob nenhuma classificação política.
Desejo e Dor: A Perda do Futuro*

O filósofo francês Gilles Deleuze, conhecido entre outros outros ¨títulos¨ como o ¨filósofo do desejo¨, afirma que nunca se deseja um objeto ou uma pessoa, mas um agenciamento. Para ele, por exemplo, nunca se deseja uma mulher, mas deseja-se uma mulher e uma paisagem por trás da mesma. Se deseja-se uma pessoa, deseja-se toda uma situação em que essa pessoa se insere. Talvez se trocássemos a paisagem, o desejo sumiria. Mais do que pessoa ou objeto, deseja-se um agenciamento, uma situação, um contexto.

Quando se deseja um objeto, cria-se automaticamente uma imagem do uso, mesmo que contemplativo, desse objeto. Obviamente que os marketeiros de plantão devem ter entendido esse recado, pois para vender o carro do ano, criam propagandas de indivíduos felizes dentro do carro, com uma bela mulher ao lado, em paisagens ou situações agradáveis. Não se deseja o carro, deseja-se uma situação que só poderia ser possível com o carro. Pelo menos essa é a mensagem subliminar das propagandas. Mas não é meu objetivo, pelo menos nessa reflexão, me debruçar criticamente sobre essas estratégias de marketing. Vale a pena apenas entender que não se vendem mais apenas produtos, tenta-se vender estilos de vida e situações em que os produtos/serviços são fundamentais para ocorrerem, ou pelo menos quer se fazer crer que são.

O budismo afirma que é o desejo que leva ao sofrimento. Onde estaria a verdade dessa afirmação partindo dessa concepção deleuziana de desejo? Deixando os objetos de lado, porque será então que a perda de alguém que se gosta nos gera tanto sofrimento? Porque quando se perde um amor dói tanto? Porque quando se perde um ente querido o sofrimento é tão grande? Simplesmente porque se perde um pedaço do futuro. O futuro é um mar de possibilidades. Nessa variedade de possibilidades, muitas portas se fecham quando se perde alguém especial. Imagina-se uma multiplicidades de situações em que a presença de uma pessoa faria toda a diferença. Sem essa pessoa, nem valeria a pena a situação em si, pois não seria a mesma situação. Os planos do futuro que povoam o imaginário é que ficam destruídos sem determinada presença: não se perde só a pessoa, perde-se o futuro desejado com a pessoa.

Determinadas pessoas nos são tão especiais que fazem qualquer momento ser especial. Imagina-se que nunca mais os almoços serão alegres, pois era essa pessoa que deixava o almoço divertido. Imagina-se que assistir um filme nunca mais será a mesma coisa, pois era a companhia dessa pessoa que importava mais do que o filme em si. Imagina-se que as viagens planejadas não seriam mais prazerosas, pois não era a viagem em si que fazia a diferença, mas a viagem com aquela pessoa.

Nesse sentido, não se deseja um objeto ou uma pessoa isolada de um contexto, deseja-se uma multiplicidades de contextos em que pessoas e objetos se inserem. E quando se perde pessoas – e ao contrário dos objetos, pessoas são insubstituíveis – perde-se um pedaço do futuro. Para alguns, perde-se o futuro. Ou pelo menos aquele futuro que embora estivesse vivo apenas em projeções mentais, alimentava a vida no presente.

Por isso dói tanto perder alguém que se ama, já que mais do que simplesmente uma pessoa, perde-se a possibilidade de situações futuras que só seriam válidas ou desejáveis com aquela pessoa. Como nossa única certeza é o presente, vale a pena valorizar as pessoas, momentos e situações que nos fazem felizes, já que nada garante que isso perdure por muito tempo. E muitas coisas só são valorizadas quando perdidas, especialmente determinados momentos que só existem porque certas pessoas fazem serem únicos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Frases e Trechos de Gilles Deleuze – Livro: “Conversações”*

“A lógica de um pensamento é o conjunto das crises que ele atravessa, assemelha-se mais a uma cadeia vulcânica do que a um sistema tranquilo e próximo do equilíbrio.”

“O fênomeno é comum: cada vez que se morre um grande pensador, os imbecis sentem-se aliviados e fazem um estardalhaço dos infernos.”

“Jamais interprete, experimente…”

“Cada vez que se ouve: ninguém pode negar…,todo mundo há de reconhecer que…, sabemos que vem uma mentira ou um slogan.”

“Os mal-entendidos são frequentemente reações de bobagem raivosa. Há pessoas que não se sentem inteligentes senão quando descobrem “contradições” em um pensador.”

“E, se o homem foi uma maneira de aprisionar a vida, não será necessário que, sob uma outra forma, a vida se libere no próprio homem?”

¨Há pessoas que não se sentem inteligentes senão quando descobrem “contradições” em um pensador.¨”

¨O que me interessa são as relações entre as artes, a ciência e a filosofia. Não há nenhum privilégio de uma dessas disciplinas em relação a outra. Cada uma delas é criadora.¨

¨Escreve-se sempre para dar a vida, para liberar a vida aí onde ela está aprisionada, para traçar linhas de fuga.¨

¨São organismos que morrem, não a vida.¨

¨A arte é o que resiste: ela resiste à morte, à servidão, à infâmia, à vergonha.¨

“[...] trata-se da constituição de modos de existência, ou da invenção de possibilidades de vida que também dizem respeito à morte, a nossas relações com a morte: não a existência como sujeito, mas como obra de arte. Trata-se de inventar modos de existência, segundo regras facultativas, capazes de resistir ao poder bem como se furtar ao saber, mesmo se o saber tenta penetrá-los e o poder tenta apropriar-se deles. Mas os modos de existência ou possibilidades de vida não cessam de se recriar, e surgem novos.”

* Gilles Deleuze foi um filósofo francês que participou ativamente do movimento de 68 na França. É considerado um dos maiores nomes do movimento que ficou conhecido na filosofia e ciências sociais como pós-estruturalismo, ao lado de pensadores como Michel Foucault, Jaques Derrida, Felix Guattari, entre outros. Se Deleuze pode não ser tão conhecido e referenciado como Foucault, sua originalidade de pensamento e o brilho de seus conceitos filosóficos são exaltados por muitos que se debruçam sobre sua obra. O livro “Conversações” é uma compilação de várias entrevistas que Deleuze deu ao longo de sua vida.
Frases e Trechos de Fiodor Dostoiévski – Livro: “Memórias da Casa dos Mortos”*

“[...] no presídio havia tempo de sobra para se aprender a ser paciente [...]“

“O homem é um ser que a tudo se habitua, e essa é, a meu ver, a melhor das suas qualidades.”

“[...] a instrução fomenta no povo o espírito de suficiência.”

“É vulgar que um homem suporte alguns anos, se resigne, suporte os castigos mais duros, e de repente fique colérico só por alguma futilidade, por uma ninharia, quase sem motivo.”

“É certo que os presídios e o sistema dos trabalhos forçados não melhoram os delinquentes, aos quais castigam, mas põem a sociedade a salvo das suas ulteriores tentativas de praticarem danos e provêem à sua própria tranquilidade.”

“O homem não pode viver sem trabalho e sem condições legais e normais: degenera-se e converte-se numa fera.”

“[...] se me desse alguma vez para perder-me completamente, para abater um homem, para castigá-lo com o mais horrível castigo, o criminoso mais valente, não precisava senão de dar ao seu trabalho o caráter de uma inutilidade e total e absoluta carência do sentido.”

“Não há nada mais difícil do que adquirir prestígio sobre as pessoas (principalmente sobre pessoas como aquelas) e ganhar o seu afeto.”

“[...] a impressão direta é sempre mais forte do que a que se recebe através de uma simples narrativa.”

“Pode ser que eu esteja enganado, mas parece-me que se pode conhecer os homens pela maneira de rir e que, quando surpreendemos um riso afetuoso na boca de alguém que não conhecemos, podemos afirmar que se trata de uma boa pessoa.”

“[...] não é possível fazer do homem vivo um cadáver, pois conserva os seus sentimentos, a sua sede de vingança e de vida, as suas paixões e a necessidade de satisfazê-las.”

“[...] era evidente que devia considerar-se um homem muito esperto, o que sucede a todos os indivíduos de vistas curtas.”

“Há naturezas tão naturalmente belas, a tal ponto favorecidas por Deus, que o pensamento só de que alguma vez possam corromper-se nos parece impossível.”

“Quando não se tem experiência, não se pode julgar sobre coisa alguma.”

“[...] as privações morais são mais difíceis de sobrelevar do que todos os tormentos físicos.”

“[...] uma mescla dessa maliciosa impressão que às vezes degenera na necessidade de remexermos propositadamente na ferida, pelo desejo de nos distrairmos com o nosso próprio sofrimento, reconhecendo precisamente que no exagero de toda infelicidade há também um prazer.”

“[...] é muito difícil compreender os homens, mesmo em longos anos de convívio.”

“O presidiário, de presidiário não passa; uma vez que se encontra nessa situação, já uma pessoa pode descer a tudo sem se envergonhar.”

“[...] a realidade produz sempre uma impressão muito diferente daquilo que se ouviu dizer.”

“Dizem alguns (já o tenho ouvido e sei) que o maior amor pelo próximo é, ao mesmo tempo, o maior egoísmo. Mas que egoísmo poderia haver nisto… nunca cheguei a compreender.”

“Sentia e compreendia que todo aquele ambiente era totalmente novo; que estava mergulhado numa treva completa e que não podia viver na treva tantos anos. Era pois necessário preparar-me. É claro que decidi que, em primeiro lugar, deveria guiar-me conforme os meus sentimentos e a consciência me ordenassem. Mas também sabia que isso era apenas um preceito moral e que a realidade me era completamente desconhecida.”

“[...] os presos, a princípio, censuravam-me pelo meu amor ao trabalho e durante muito tempo olharam-me com desprezo e troça. Mas eu me fazia de desentendido e aplicava-me com firmeza a todas as coisas.”

“Nos indivíduos como Pietrov a razão só impera até o momento em que o desejo não os tenta. Não há freio possível que possa detê-los neste mundo.”

“Como não tem o dom da palavra, não podem ser os principais inspiradores e promotores dos acontecimentos; mas são os principais executores e os que primeiro os põem em prática.”

“Todos os homens, sejam quem forem, ainda mesmo inferiores, precisam, ainda que seja uma necessidade só instintiva, inconsciente, de que respeitem a sua dignidade de homem.”

*Fiodor Dostoiévski foi um escritor russo que nasceu em 1821 e faleceu em 1881. Por debater idéias consideradas revolucionárias, foi condenado à morte em 1849. Pouco tempo antes da execução, sua pena foi alterada e foi enviado à uma prisão na Sibéria em regime de trabalho forçado, onde ficou 4 anos. O livro do qual foram retiradas esses trechos é uma espécie de relato documental da época em que esteve preso. Nesse texto, o autor descreve o cotidiano da prisão, suas impressões e sentimentos, bem como faz profundas análises psicológicas das personagens com qual teve contato. Essa obra é considerado um marco na vida do autor, já que é após essa experiência que ele escreve suas obras primas, como “Crime e Castigo”. Dostoiévski é considerado um dos maiores nomes da história da literatura.

FERNANDO PESSOA

DE REPENTE COMO SE UM DESTINO MÉDICO ME HOUVESSE OPERADO DE UMA CEGUEIRA ANTIGA COM GRANDES RESULTADOS SÚBITOS, ERGO A CABEÇA, DA MINHA VIDA ANONIMA, PARA O CONHECIMENTO CLARO DE COMO EXISTO. E VEJO QUE TUDO QUANTO TENHO FEITO, TUDO QUANTO TENHO PENSADO, TUDO QUANTO TENHO SIDO, É UMA ESPÉCIE DE ENGANO E DE LOUCURA. MARAVILHO-ME DO QUE CONSEGUI NÃO VER. ESTRANHO QUANTO FUI E QUE VEJO QUE AFINAL NÃO SOU.

OLHO, COMO NUMA EXTENSÃO DO SOL QUE ROMPE NUVENS, A MINHA VIDA PASSADA; E NOTO, COMO UM PASMO METAFISICO, COMO TODOS OS NEUS GESTOS MSIS CERTOS, AS MINHAS IDÉIAS MAIS CLARAS, E OS MEUS PROPÓSITOS MAIS LÓGICOS, NÃO FORAM AFINAL, MAIS QUE BEBEDEIRA NATA, LOUCURA NATURAL, GRANDE DESCONHECIMENTO. NEM SEQUER REPRESENTEI. REPRESENTARAM-ME. FUI NÃO O ACTOR, MAS OS GESTOS DELE.

TUDO QUANTO TENHO FEITO, PENSADO, SIDO, É UMA SOMA DE SUBORDINAÇÕES, OU A UM ENTE FALSO QUE JUGUEI MEU, PORQUE AGI DELE PARA FORA, OU DE UM PESO DE CIRCUNSTÂNCIAS QUE SUPUS SER O AR QUE RESPIRAVA. SOU, NESTE MOMENTO DE VER, UM SOLITÁRIO SÚBITO, QUE SE RECONHECE DESTERRADO ONDE SE ENCONTROU SEMPRE O CIDADÃO. NO MAIS INTIMO DO QUE PENSEI NÃO FUI EU...

PESA-ME, REAMENTE ME PESA, COMO UMA CONDENAÇÃO A CONHECER, ESTA NOÇÃO REPENTINA DA MINHA INDIVIDUALIDADE VERDADEIRA, DESSA QUE ANDOU SEMPRE VIAJANDO, SONOLENTA ENTRE O QUE SENTE E O QUE VÊ.

É TÃO DIFICIL DESCREVER O QUE SE SENTE QUANDO SE SENTE QUE REALMENTE EXISTE, E QUE A ALMA É UMA ENTIDADE REAL, QUE NÃO SEI QUAIS SÃO AS PALAVRAS HUMANAS COM QUE POSSA DEFINI-LO. NÃO SEI SE ESTOU COM FEBRE, COMO SINTO, SE DEIXEI DE TER A FEBRE DE SER DORMIDOR DA VIDA. SIM, REPITO, SOU COMO O VIAJANTE QUE DE REPENTE SE ENCONTRA NUMA VILA ESTRANHA SEM SABER COMO ALI CHEGOU; E OCORREM-ME ESSES CASOS DE QUEM PERDE A MEMÓRIA, E SÃO OUTROS DURANTE MUITO TEMPO. FUI OUTRO DURANTE MUITO TEMPO – DESDE A NASCENÇA E A CONSCIÊNCIA - E ACORDO AGORA NO MEIO DA PONTE, DEBRUÇADO SOBRE O RIO, E SABENDO QUE EXISTO MAIS FIRMEMENTE DO QUE FUI ATÉ AQUI. MAS A CIDADE É ME INCÓGNITA, AS RUAS NOVAS, E O MAL SEM CURA. ESPERO, POIS, DEBRUÇADO SOBRE A PONTE, QUE ME PASSE A VERDADE, E EU ME RESTABELEÇA NULO E FICTICIO, INTELIGENTE E NATURAL...