terça-feira, 23 de março de 2010

Cícero.

"É preciso escolher homens firmes, sólidos e constantes; mas a especie é rara e é difícil conhecê-los antes de
experimentá-los. Ora, esta experiência só poderá ser feita dentro da amizade. Assim, a amizade precederá o julgamento; tornará, pois, impossível a experiência. É próprio de um homem prudente conter o primeiro ímpeto de seu afeto, como o de um coche, que usamos, e experimentar os amigos, como se experimenta um cavalo novo, afim de conhecer seu carater
por todas as faces. Comumente um pouco de ouro basta para mostrar como é frágil a amizade de alguns; outros, que puderam resistir a um pouco de ouro, sucumbem diante de uma soma considerável. Se encontrarmos quem prefira a amizade ao dinheiro, onde achar aquele que não prefira as honras, as
magistraturas, os comandos, o poder, a autoridade? Colocai de um lado todos esses bens, do outro os direitos da amizade, e contai os que se declaram por estes. A natureza humana é fraca para resistir à tentação do poder e, se para obtê-lo, precisarmos sacrificar um amigo, acreditamos que a falta se justifica pela grandeza do interesse.
Muito dificilmente encontraremos amigos verdadeiros entre os homens que se ocupam dos negócios públicos ou que procuram honras. Onde está o homem que prefere à sua, a elevação de um amigo? E sem ir muito longe, porque a companhia na desgraça parece à maioria dos homens, um fardo pesado e penoso? Não é fácil encontrar quem consinta em repartir o infortúnio! Ennio disse com razão: ?O amigo
fiel se reconhece nas infidelidades da sorte?. Entretanto duas coisas acusam a fraqueza e a leviandade de
quase todos os homens: a arrogância na prosperidade e o abandono da infelicidade, ou melhor, desprezam-nos quando se acham numa situação feliz, ou nos abandonam quando nos encontramos em má situação."

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