segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

IDEM CRISTIAN RIBAS

LUAR EM BRANCO E PRETO

Deixo as roupas atiradas. Não reparo nos objetos que abandonaram seu lugar. A TV não me diz nada em seu silêncio. As panelas ecoam por uma refeição. O relógio corre distante dos meus olhos. Hoje, nesse mero instante em que o destino traça novos rumos para meu caminho, não me importo com o que me cerca.
Estou aqui sentado. Busco palavras na minha cabeça que combinem com os ecos do meu coração. Sem teorias cristãs ou rimas politicamente corretas. Apenas, me liberto. Faz algum tempo que abandonei o calendário. Deixo que o tempo corra livre, para que meu coração se liberte também. Não há queixas, brigas, lamentações entre nós. Tão somente, respeito. Um consentimento voluntário do que nos falta. E o que nos sobra, derramamos ao solo. Na esperança de acalentar os corações partidos que necessitam de nossa fé.
Minha mente fica vaga. As palavras que somem. Os traços que não continuam. Os pontos distantes das vírgulas. Mas nada sem final. Uma mera pausa de descanso. Um instante em que meus olhos procuram os céus. Contando as estrelas como os amores perdidos. E refaço a contagem pelos tantos outros que irei encontrar. Desejo que não seja um amor para cada mulher, mas sim, todas em uma só. Da mesma forma que reinventarei a lógica dos amantes. Na minha devoção. Na minha entrega. Na minha admiração. Nas formas e nos contornos. Nas danças sem melodia. Nos acordes sem instrumentos. Nos gritos sem voz. Tão somente amor. Nada mais.
Cada dia, eu me surpreendo. Nada de vangloriar-se, soberba ou vaidade. Mas sim, na multiplicidade do amor e suas nuances. Independente dos corpos, das formas, das vozes, dos olhos, mas na alma. Na esperança. Na voracidade. Na luxúria. No desejo colorido no luar em branco e preto. Onde meus olhos não vêem as cores, mas meu coração, na sua molequice, inventa matizes, descobre traços, decanta versos que jamais conheci, mas que sinto, tão intenso quanto seu nobre pulsar.

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