terça-feira, 8 de setembro de 2009

O que Nietzsche chamou de "ressentido" é retratado magistralmente nesse texto de Dostoiévski. Seguem trechos selecionados:


"Sou um homem doente... um homem mau. Um homem desagradável."

"Sou desconfiado e me ofendo com facilidade."


"Afinal de contas, eu provavelmente nunca saberia o que fazer com minha magnanimidade – nem perdoar, porque meu ofensor pode ter me esbofeteado em obediência às leis da natureza; nem esquecer, pois, mesmo que se trate das leis da natureza, ainda assim é ofensivo."


"Em toda a minha vida, não pude começar nem acabar coisa alguma. Admitamos, admitamos que eu seja um tagarela, um tagarela inofensivo, magoado, como todos nós. Mas que fazer, se a destinação única de todo homem inteligente é apenas a tagarelice, uma intencional e vazia tagarelice."


"Ali, no seu ignóbil e fétido subsolo, o nosso camundongo, ofendido, machucado, coberto de zombarias, imerge logo num rancor frígido, envenenado e, sobretudo, sempiterno. Há de lembrar, quarenta anos seguidos, a sua ofensa, até os derradeiros e mais vergonhosos pormenores; e cada vez acrescentará por sua conta novos pormenores, ainda mais vergonhosos, zombando maldosamente de si mesmo e irritando-se com a sua própria imaginação. Ele próprio se envergonhará dessa imaginação, mas, assim mesmo, tudo lembrará, tudo examinará, e há de inventar sobre si mesmo fatos inverossímeis, com o pretexto de que também estes poderiam ter acontecido, e nada perdoará."


"Podeis cobri-lo de todo os bens terrestres, afogá-lo em felicidade, de tal modo que apenas umas bolhazinhas apareçam na superfície desta, como se fosse a superfície da água: dar-lhe tal fartura, do ponto de vista econômico, que ele não tenha mais naa a fazer a não ser dormir, comer pão-de-ló e cuidar da continuação da história universal - pois mesmo neste caso o homem, unicamente por ingratidão e pasquinada, há de cometer alguma ignomínia."

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