segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A terra


A terra verde se entregou a tudo o que é amarelo, ouro, colheitas, torrões, folhas e grão, quando, porém, o outono se levanta com seu longo estandarte és tu a quem eu vejo, é para mim a tua cabeleira a que reparte as espigas.


Eu vejo os monumentos de antiga pedra rota, porém se toco a cicatriz de pedra teu corpo me responde, meus dedos reconhecem de pronto, estremecidos,tua quente doçura.



Passo por entre heróis recém-condecorados pela pólvora e a terra e detrás deles, muda,com teus pequenas passos,és ou não és?


Ontem, quando arrancaram com raiz, para vê-lo,a velha árvore anã,te vi sair me olhando de dentro das sedentas,torturadas raízes. E quando o sono veme me estende e me leva a meu próprio silêncio,há um grande vento branco que derruba meu sono e dele caem as folhas, caem como punhais, punhais que me dessangram.

Cada ferida toma forma de tua boca.

Pablo Neruda in Versos do Capitão
Tradução de Thiago de Mello

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