terça-feira, 28 de outubro de 2008

FERNANDO PESSOA

NO ENTARDECER DOS DIAS DE VERÃO,
AS VEZES, AINDA QUE NÃO HAJA BRISA NENHUMA,
PARECE QUE PASSA UM MOMENTO UMA LEVE BRISA...
MAS AS ÀRVORES PERMANECEM IMÓVEIS
EM TODAS AS FOLHAS DAS SUAS FOLHAS
E NOSSOS SENTIDOS TIVERAM UMA ILUSÃO,
TIVERAM A ILUSÃO DO QUE LHES AGRADARIA...
AH, OS SENTIDOS, OS DOENTES QUE VÊEM E OUVEM!
FOSSEMOS NÓS COMO DEVÍAMOS SER
E NÃO HAVERIA EM NÓS NECESSIDADE DE ILUSÃO...
BASTAR-NOS-IA SENTIR COM CLAREZA A VIDA.
E NEM REPARARMOS PARA QUE HÁ SENTIDOS...
MAS GRAÇAS A DEUS QUE HÁ IMPERFEIÇÕES NO MUNDO
PORQUE A IMPERFEIÇÃO É UMA COUSA,
E HAVER GENTE QUE ERRA É ORIGINAL.
E HAVER GENTE DOENTE TORNA O MUNDO ENGRAÇADO.
SE NÃO HOUVESSE IMPERFEIÇÃO, HAVERIA UMA COUSA A MENOS,
E DEVE HAVER MUITA COUSA PARA TERMOS MUITO
QUE VER E OUVIR.

E.A

# FAÇO SILÊNCIOS, COMO QUEM FAZ UMA PRECE.
QUANDO CALO, CALO MEU ÂMAGO.
BUSCO A COMUNHÃO DE ESTAR COMIGO MESMO...
PENSO QUE FICAR EM SILÊNCIO É TÃO DIFÍCIL... TENDO HOJE EM DIA,
O CONSTANTE USO DESMEDIDO DAS PALAVRAS... UM SUBTERFÚGIO.
SÃO TANTAS VOZES, QUE FALAM DENTRO DE NÓS, VOZES DESCONHECIDAS, QUE SABEM DE NÓS... E AS PERCEBEMOS AO FAZERMOS SILÊNCIO.
QUE BUSCA SOLITÁRIA É ESTAR COM OS HOMENS...
POR ISSO, QUANDO FAÇO SILÊNCIO, FAÇO COMO QUEM FAZ UMA PRECE!!!

E.A

" TE PERCEBO, COMO O DESAVISADO. QUE TEM A VISÃO O TEMPO TODO, MAS, ESTRANHAMENTE, SUBITAMENTE, PONHA-SE A VER... E AO VER, ENCONTRA MARAVILHAS NO MUNDO. "

E.A

ENGRAÇADO, MAS QUANDO EU MORRER, NÃO HAVERÁ PARA MIM, EM MINHA HOMENAGEM UM MINUTO DE SILÊNCIO RESPEITADO NOS ESTÁDIOS...
NÃO TEREI UM GRANDE CORTEJO FUNERAL, OU FALARÃO DE MEU VELÓRIO EM ALGUM NOTICIÁRIO, COMO ALGO QUE O VALHA... NÃO HAVERÁ DEZ MIL PESSOAS ACOMPANHANDO A MATÉRIA, QUE DURANTE ALGUM TEMPO ANDOU POR AI... O SER ERRANTE.
MAS, AINDA QUEREREI SEU VIÇO QUANDO MORRER!!!
SABER QUE UM DIA PASSASTE POR MIM. ME DESTE O QUE DE MELHOR POSSUIAS. QUE ESTEVE PARA MIM POR INTEIRO, COMO EU PRÓPRIO. QUE MESMO DE FORMA ESFACELADA, BUSQUEI TAMBÉM ESTAR POR INTEIRO PARA TI.
QUEM SABE, LEMBRARÁS DE MOMENTOS, OS PEQUENOS... POIS SÃO ESTES QUE ME TORNARÁ DIFERENTE , DOS BELOS MANCEBOS QUE LHE CAUSAM BRILHO NO OLHAR, QUANDO EU MORRER!
POR ISSO, QUERO MESMO SEU VIÇO, SENTIR SUA MÃO PASSAR POR MEU ROSTO UMA ÚLTIMA VEZ. SABER QUE EM TEUS OLHOS FICA MINHA IMAGEM... E EM TUA COMPANHIA SEGUE MEU ESPIRITO...
QUANDO EU, O RELES MORTAL AQUI MORRER!!!

O QUE SOBROU / CÁSSIA R.A.

O QUE SOBROU DE VOCÊ NESTE APARTAMENTO
FORAM AS SUAS ROUPAS´
QUE LOGO VÃO SER DADAS,
OS SEUS LIVROS,
ALGUNS DOS QUAIS SERÃO MEUS,
AQUELES QUE COMPRAMOS JUNTOS.
AS LEMBRANÇAS...

O QUE SOBROU FORAM SEUS RETRATOS E,
QUANDO VI UMA FOTO SUA, SORRIDENTE E SAUDÁVEL,
LEMBREI-ME DE QUE NÃO ME PREPAREI PARA A SUA VINDA,
MAS PUDE ME PREPARAR PARA SUA IDA.
MAS QUANDO VOCÊ FOI,
AH MEU DEUS!
O QUE SOBRO?!?
O QUE SOBROU
FUI EU.

"A capacidade de nos surpreendermos é a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos (...) E agora tens que te decidir, Sofia: és uma criança que ainda não se habituou ao mundo? Ou és uma filósofa que pode jurar que isso nunca lhe acontecerá?... Não quero que tu pertenças à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que vivas a tua vida de forma consciente." ( JUSTEIN GARDEN IN O MUNDO DE SOFIA ).

NIETZSCHE

" O FATO É QUE VOCÊS NÃO SE SUPORTAM. SEU TRABALHO É FUGA, UM DESEJO DE SE ESQUECER DE VOCÊS MESMOS. MAS VOCÊS NÃO TEM CONTEÚDO NEM PARA A PREGUIÇA. "
" A DOR É REAL QUANDO VOCÊ CONSEGUE QUE OUTRAS PESSOAS ACREDITEM NELA. SE NINGUÉM, EXCETO VOCÊ, NELA CRÊ, SUA DOR É LOUCURA OU HISTERIA. "
(NAOMI WOLF IN O MITO DA BELEZA ).
VIOLETA BRANCA

O frio cambaleia diante da luz
Muralhas são erguidas ao vento
subindo em euforia até o
ventre prometido

Os vasos demonstram serenidade
Os lustres fascinam com sua realidade
A janela não pondera o vago,
com seus longos fios de
cabelos solares

Anjos nos tocam na flor da face verdadeira,
Momento incauto de beleza e energia
onde nos despimos atrás do espelho de magia

Cheques colherão flores, cartões de créditos
se transformarão em crianças dormindo ao
vento, o lar da utopia se encontra a dois passos
e alguns centímetros

O divino está aqui, entre sua pele e o universo,
entre nossos rostos quando estão próximos
e entro no seu inconsciente através dos seus olhos...
( IDEM DIOGO CINTRA ).
Planalto distante


No inverno de destruição
caminhei sobre a rua de mercúrio
lembrando-me da noite onde éramos
pequenos deuses

A luz estava negra
Joaquim beijava aquela lata
melancólica, poesia soava
dos poros da realeza
abatida por carne e pelos anos 80

Nós e lágrimas....
Espíritos enobrecidos pela
sórdida noite vivaz, que morava
em sua casa de libertinagem
no topo do Aconcágua

Meu amigo de luz
brilhando em pedras
reais, enquanto de fantasia
construí incensos e um lar artificial

Meus pequenos pedaços de fantasia
perdidos em milímetros de realidade
Abraços em forma de sonhos
Solidão coletiva das rosas
suburbanas.

( MY FRIEND DIOGO CINTRA ).


DOIS EXCESSOS:

- EXCLUIR A RAZÃO E ADIMITIR APENAS A RAZÃO.

( BLAISE PASCAL ).

" A RAZÃO É UM SOL IMPIEDOSO; ELA ILUMINA , MAS CEGA. "

( ROMAIN-ROLAND ).

" NADA É MAIS OPRESSIVO QUE A MAIORIA: É QUE ELA É COMPOSTA DE UM NÚMERO DE CHEFETES ENÉRGICOS, DE PATIFES QUE SE ACOMODAM, DE FRACOS QUE SE ASSIMILAM E DA MASSA QUE LÁ VAI NEM BEM NEM MAL, SEM SABER DE MODO ALGUM AQUILO QUE QUER.
" ( GOETHE).

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

domingo, 26 de outubro de 2008

"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e, às vezes, receber amor em troca."
(Clarice Lispector)

sábado, 25 de outubro de 2008

QUISERA EU , SER O ASCESSÍVEL E DONO DE MISTÉRIOS UNIVERSAIS ... SE SEQUER ME CONHEÇO, COMO POSSO PEDIR PARA CREREM EM MIM ???

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

FERNANDO PESSOA

Palavras de Pórtico


"Navegadores Antigos tinham uma frase gloriosa:


"Navegar é preciso; viver não é preciso.

"Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar".

Não conto gozar a vida; nem em gozá-la penso.

Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça."

A POLÍTICA DA EXPERIÊNCIA E A AVE DO PARAISO - de R.D. Laing.

Vivemos numa época em que os fundamentos se alteram e se abalam as fundações. Não posso responder por outros tempos e locais. Talvez tenha sido sempre dessa forma. Sabemos que hoje é assim.Nestas circunstâncias temos toda a razão de nos sentirmos inseguros. Quando os fundamentos do nosso mundo são postos em dúvida, procuramos os nossos refúgios, recorremos a funções, status, identidades, relações interpessoais. Tentamos viver em castelos que só podem ser fantásticos, uma vez que não existe terra firme no cosmos social em que foram construídos. Somos todos testemunhas deste estado de coisas. Cada qual vê às vezes o mesmo fragmento de uma situação total de maneira diversa; com freqüência preocupamo-nos com diferentes apresentações da catástrofe original. Desejo relacionar neste capítulo as experiências transcendentais que às vezes ocorre na psicose com aquelas experiências do divino que constituem a fonte viva de toda religião.
No capítulo anterior esbocei o modo pelo qual alguns psiquiatras estão começando a desfazer suas categorias clínico-médicas de compreensão de loucura. Se conseguirmos principiar a entender sanidade e loucura em termos sociais existenciais, seremos mais aptos a ver claramente a medida pela qual todos nós enfrentamos problemas e partilhamos dilemas comuns. A experiência pode ser considerada louca de maneira inválida, ou verdadeiramente mística. A distinção não é fácil. Em ambos os casos, do ponto de vista social, tais julgamentos caracterizam diferentes formas de comportamento consideradas desvios em nossa sociedade. As pessoas portam-se assim porque sua experiência de si próprias é diferente. É o sentido existencial dessa experiência fora do comum que desejo focalizar.
A experiência psicótica ultrapassa os horizontes do nosso senso comum, isto é, comunal.
A que regiões de experiência conduz? Acarreta a perda das costumeiras bases do "senso" do mundo que partilhamos uns com os outros. Velhos propósitos já não parecem viáveis: velhos sentidos deixam de ter sentido; as distinções entre imaginação, sonho, percepções externas já não parecem ter as antigas aplicações. Ocorrências externas parecem conjuradas por magia. Os sonhos talvez pareçam comunicações diretas dos outros, a imaginação, realidade objetiva.
Mas, o que é mais importante, os próprios fundamentos ontológicos estão abalados. O ser dos fenômenos e os fenômenos do ser talvez não se apresentem a nós como antes. Não existem apoios, nada a que se agarrar, exceto talvez alguns fragmentos de naufrágio, algumas lembranças, nomes, sons, um ou dois objetos que conservam um elo com o mundo há muito perdido. Este vácuo talvez não esteja vazio. Pode estar povoado de visões e vozes, fantasmas, formas estranhas e aparições. Ninguém que não tenha sentido o quanto pode ser insubstancial o desfile da realidade exterior, que não saiba como é capaz de empalidecer, compreenderá plenamente as presenças sublimes e grotescas que talvez a substituam ou existam paralelas a ele.
Quando a pessoa enlouquece, ocorre uma profunda transposição de sua posição em relação a todos os domínios do ser. Seu centro de experiência desloca-se do ego para o Self. O tempo mundano torna-se uma simples anedota, só importa o que é eterno. Contudo, o louco está confuso. Misturam ego com self, interior com exterior, natural com sobrenatural. No entanto, pode ser com freqüência pra nós, mesmo através de sua profunda infelicidade e desintegração, o hierofante do sagrado. Exilado do cenário do ser como conhecemos, ele é um estranho, um alienígena, acenando para nós do vácuo onde está mergulhado, um vácuo povoado de presenças que nem sequer suspeitamos. No passado eram chamadas demônios e espíritos, eram conhecidas e nomeadas. A pessoa perdeu o senso do self, os sentimentos, seu lugar no mundo como o conhecemos. Declara estar morta. Mas nós somos forçados a sair de nossa confortável segurança por esse louco fantasma que nos persegue com suas visões e vozes aparentemente tão insensatas que nos sentimos impelidos a libertá-lo, limpá-lo, curá-lo.
A loucura não precisa ser um colapso total. Pode ser também uma abertura. É potencialmente libertação e renovação, assim como escravização e morte existencial.Existe um número crescente de narrativas feitas por pessoas que viveram a experiência da loucura.
Apresento a seguir parte de narrativas contemporâneas mais antigas, registradas por Karl Jaspers em sua "Psicopatologia Geral":
"Creio que eu próprio causei a doença. Na tentativa de penetrar o outro mundo encontrei seus guardiões naturais, a personificação de minha própria fraqueza e falhas. Julguei a princípio que esses demônios fossem habitantes desprezíveis do outro mundo, que podiam brincar comigo como se eu fosse uma bola, porque penetrei naquelas regiões despreparado e me perdi. Mais tarde pensei serem partes isoladas de minha própria mente (paixões) que existiam próximo de mim no espaço livre alimentando-se de meus sentimentos. Acreditava que todos os demais os possuíssem também, embora sem percebê-lo, graças à ilusão protetora e bem sucedida do sentimento de existência pessoal. Julguei que a última fosse um artifício da memória, complexos de idéias, etc..., uma boneca bonita de se olhar, mas sem qualquer conteúdo real.
No meu caso, o self pessoal tornara-se poroso por causa do consciente obscurecido. Por seu intermédio eu queria aproximar-me das fontes mais sublimes da existência. Deveria ter-me preparado para isto durante um período prolongado de tempo, invocando em mim mesmo um self mais elevado, impessoal, já que o "néctar" não é para os lábios mortais. Agia de modo destrutivo sobre o self do animal humano, dividindo-o em partes que gradualmente se desintegravam. A boneca estava quebrada de fato e o corpo dilacerado. Eu forçara acesso em momento inconveniente à "fonte vital" e a ira dos "deuses" caíra sobre mim.
Percebi demasiado tarde a intervenção de elementos escusos. Passei a reconhecê-los depois que já haviam adquirido demasiado poder. Impossível recuar. Eu possuía então o mundo dos espíritos que desejara ver. Os demônios subiram dos abismos, como o guardião Cérbero, negando entrada aos não iniciados. Resolvi encetar a luta de vida ou morte. Isto significava para mim, ao final, a decisão de morrer, já que precisava renunciar a tudo que mantinha o inimigo, mas isto era também tudo o que me conservava a vida. Eu queria penetrar a morte sem enlouquecer e coloquei-me diante da Esfinge: "Ou entras no abismo, ou entro eu".
Ocorreu me então uma iluminação. Jejuei e assim penetrei na verdadeira natureza dos meus sedutores. Eram proxenetas e enganadores do meu querido self pessoal, que pareciam, tanto quanto eles, uma coisa do nada. Um self mais amplo e mais compreensivo emergiu e eu pude abandonar a anterior personagem com todo o seu séqüito. Vi que essa personalidade jamais poderia penetrar nas regiões transcendentais e senti uma dor terrível, um golpe aniqüilador, mas fui salvo, os demônios encolheram-se, desapareceram, pereceram. Uma nova vida começou para mim e de então em diante senti-me diferente das outras pessoas. Um self consistindo de mentiras convencionais, enganos, auto-ilusões, imagens da memória, um self exatamente como o dos outros tornou a crescer em mim, mas por detrás e acima erguia-se um self mais amplo e mais compreensivo, que me impressionou, sendo dotado de algo eterno, imutável, imortal e inviolável e que desde então tem sido meu protetor e refúgio. Acredito que seria bom para muitos conhecerem esse self mais elevado e saberem que há gente que alcançou este objetivo por meios mais tranqüilos”.

Este paciente descreveu, com uma lucidez que eu não saberia melhor, uma busca muito antiga, com suas armadilhas e perigos. Jaspers refere-se ainda a esta experiência como mórbida e inclina-se a menosprezar a interpretação do paciente. Contudo, tanto a experiência como a interpretação podem ser válidas em seus próprios termos.
Certas experiências transcendentais parecem-me a fonte original de todas as religiões. Algumas pessoas psicóticas passam por experiências transcendentais. Com freqüência (que se lembrem), jamais passaram anteriormente por elas e muitas vezes não as tornarão a viver. Não digo, porém, que a experiência psicótica contenha necessariamente esse elemento de maneira mais manifesta que a sã experiência.
Experienciamos de diferentes maneiras. Percebemos as realidades exteriores, sonhamos, imaginamos, entregamo-nos a devaneios semiconscientes. Há quem tenha visões, alucinações, fique transfigurado, veja auras, etc... A maioria das pessoas sente a sim mesma e aos outros, quase todo o tempo, de um modo que chamarei egóico, isto é, centralmente ou periferalmente sentem o mundo e a si mesmas em termos de uma identidade consistente, um eu-aqui contra você-aí, dentro de uma estrutura de espaço e tempo partilhada por outros membros de sua sociedade.
Esta experiência de identidade-ancorada, limitada por tempo e espaço, foi filosoficamente estudada por Kant e mais tarde por fenomenologistas como Hursserl e Merleau-Ponty. Sua relatividade histórica e ontológica deveria ser plenamente percebida por qualquer estudante contemporâneo do cenário humano. Sua relatividade social e sócio-econômica tornou-se um lugar-comum entre os antropólogos e uma banalidade para os marxistas e neomarxistas. Contudo, oferecendo uma confirmação consensual e interpessoal, proporciona-nos um senso de segurança ontológica, cuja validade experienciamos como autoconfirmadora, embora saibamos que, do ponto de vista metafísico-ontológico-sócio-econômico-cultural, sua aparente validade absoluta seja uma ilusão.
Na verdade, todas as filosofias religiosas e existenciais concordam em que essa experiência egóica é uma ilusão preliminar, um véu – um sonho para Heráclito e Lao- Tzu, a ilusão fundamental de todo o budismo, um estado de sono, de morte, de loucura socialmente aceita, um estado vegetativo ao qual é preciso morrer e do qual é necessário nascer.
A pessoa que passa pela perda do ego, ou por experiências transcendentais pode tornar-se ou não confusa de diferentes maneiras. E talvez seja legitimamente considerada louca. Mas para ser louco não é obrigatório estar doente, embora em nossa cultura as duas categorias se confundam. Supõe-se que uma pessoa louca(seja qual for o sentido da palavra) ipso facto está doente (seja qual for o sentido da palavra). A experiência em que a pessoa se encontra absorvida, enquanto para os outros parece simplesmente doentia, talvez seja para ela um verdadeiro maná do céu. Toda a sua vida pode transformar-se, mas é difícil não duvidar da validade de tal visão. Além do mais, nem todos voltam para nós.
Serão tais experiências a simples efulgência de um processo patológico, ou de determinada alienação? Não o creio.
Em certos casos, um homem cego de nascença pode submeter-se a uma operação que lhe devolva a visão. O resultado é com freqüência infelicidade, confusão, desorientação. A luz que ilumina o louco é uma luz não-terrena. Nem sempre é uma refração de sua situação no mundo. Pode ser irradiada de outros mundos e talvez o consuma.
Esse “outro” mundo não é essencialmente um campo de batalha onde as forças psicológicas, derivadas ou desviadas, deslocadas ou sublimadas de sua cathexes-objeto, empenham-se numa luta ilusória – embora tais forças possam obscurecer essas realidades, assim como podem obscurecer as chamadas realidades externas. Quando Ivan, dos Irmãos Karamazov, diz: “Se Deus não existe, tudo é permissível.”, não está dizendo: “Se o meu superego projetado pode ser abolido, posso fazer o que quiser de consciência tranqüila.” E sim: “Se existe apenas a minha consciência, então há validade para a minha vontade”.
Entre médicos e padres deveria haver alguns orientadores que retirassem a pessoa deste mundo e a introduzissem no outro. Que a orientassem dentro dele e a conduzissem de volta.
Penetra-se no outro mundo quebrando uma concha, ou transpondo um limiar, atravessando uma repartição, erguendo ou afastando-se cortinas, descerrando um véu. Sete véus, sete selos, sete céus.
O “ego” é o instrumento para se viver neste mundo. Se ele se romper, ou for destruído (pelas invencíveis contradições de certas situações na vida, por meio de toxinas, alterações químicas, etc.., então a pessoa talvez fique exposta a outros mundos, “reais” de diferentes maneiras, da esfera mais familiar dos sonhos, da imaginação, da percepção ou da fantasia.
O mundo que se penetra, a nossa capacidade para experiência-lo, parece em parte estar condicionado ao estado do nosso próprio “ego”.
Nossa época distinguiu-se, mais do que por qualquer outra coisa, por um impulso a controlar o mundo exterior e pelo quase total esquecimento do mundo interior. Se calcularmos a evolução humana do ponto de vista do conhecimento do mundo exterior, então estaremos, em vários sentidos, progredindo.
Se o nosso cálculo for feito do ponto de vista do mundo interior e da unidade interno-externo, então o juízo precisa ser muito diferente.
Fenomenologicamente, os termos “interior” e “exterior” tem pouca validade. Mas em toda esta esfera a pessoa está reduzida a expedientes verbais – palavras não passam do dedo apontando para a lua. Uma das dificuldades de se falar de tais assuntos nos dias de hoje é que a própria existência das realidades interiores encontra-se agora posta em dúvida.
Por “interior” refiro-me a nossa maneira de ver o mundo exterior e todas as realidades que não possuem presença “externa”, “objetiva” – imaginação, sonhos, fantasias, transes, as realidades dos estados contemplativos e meditativos, realidades de que o homem moderno, na maioria, não possui a mais leve percepção direta.
Por exemplo: em parte alguma da Bíblia existe qualquer debate relativo à existência de deuses, demônios, anjos. As pessoas não “crêem em” Deus, para começar: sentem a sua Presença, como ocorre com outros agentes espirituais. A questão não era a existência de Deus, mas se este Deus em particular era o maior de todos, ou o único, e qual a relação dos vários agentes espirituais, uns com os outros. Existe hoje um debate público, não com respeito à autenticidade de Deus, ao lugar atribuído na hierarquia espiritual aos diferentes espíritos, etc., mas se Deus ou esses espíritos chegam a existir, ou jamais existiram.
A sanidade parece repousar amplamente, hoje, na capacidade para adaptar-se ao mundo exterior – o mundo interpessoal e o reino da coletividade humano.
Como esse mundo exterior humano está quase completamente separado do interior, qualquer percepção pessoal direta desse mundo interior já apresenta graves riscos.
Mas, desde que a sociedade, sem saber, encontra-se esfaimada pelo que há de interior, as exigências para se evocar a sua presença de maneira “segura”, de modo que não precisa ser levado a sério, etc., são tremendas, e a ambivalência igualmente intensa. Não admira que seja tão grande o número dos artistas que naufragaram nesses rochedos nos últimos 150 anos – Hoelderlin, John Clare, Rimbaud, Van Gogh, Nietzsche, Antonin Artaud. . .
Os que sobreviveram possuem qualidades excepcionais – capacidade para o segredo, o disfarce, a astúcia – um cálculo totalmente realista dos riscos que correm, não só na esfera do espiritual que freqüentam, como na do ódio dos seus semelhantes por quem quer que esteja empenhado nesta busca.
Vamos curá-los. O poeta que confunde uma mulher real com a sua Musa e age de acordo . . . O jovem que embarca e m um iate em busca de Deus . . .
O exterior divorciado de qualquer luz interior é um estado de escuridão. Vivemos numa época de obscurantismo. O estado de escuridão exterior é um estado de pecado - isto é – alienação ou afastamento da luz interior. Certos atos conduzem a um afastamento maior; outros ajudam a pessoa a não se afastar tanto. O primeiro era chamado, antigamente, pecaminoso.
As maneiras de perder-se são legião. A loucura não é com certeza a menos ambígua. A contraloucura da psiquiatria de Kraepelin é a exata contrapartida da “psicose” oficial. Literalmente, e com absoluta seriedade, é igualmente louca, se por loucura entendermos qualquer afastamento radical da totalidade do que quer que seja. Recordemos a loucura objetiva de Kierkegaard.
Agimos da maneira como experenciamos o mundo. Conduzimos-nos à luz de nossa opinião daquilo que é, ou não é o caso. Isto é, cada pessoa é um ontologista mais ou menos ingênuo. Cada qual tem suas opiniões sobre aquilo que é, ou não é.
Não há dúvida, na minha opinião, de que tem havido profundas mudanças na experiência humana, nos últimos mil anos. De certo modo isto é mais evidente do que as alterações nos padrões de comportamento. Tudo sugere que o homem sentia a Deus. A fé jamais foi uma questão da crença na sua existência e sim na confiança na presença que era sentida e que se sabia existir como um dado autêntico por si mesmo. Parece provável que muita gente da nossa época nem sinta a presença de Deus, nem a presença de sua ausência, e sim a ausência de sua presença.
Precisamos de uma história dos fenômenos e não apenas mais fenômenos históricos.
No estado em que estão as coisas, o psicoterapeuta secular encontra-se com freqüência no papel do cego orientando o meio-cego.
A fonte não se esgotou, a chama brilha ainda, o rio corre, a fonte ainda borbulha, a luz não se apagou.. Mas entre nós e Ele existe um véu, que será provavelmente quinze metros de concreto sólido. Deus Absconditus. Ou fomos nós que o escondemos.
No nosso tempo, tudo se inclina a categorizar e segregar esta realidade dos fatos objetivos. É isto precisamente a parede de concreto. Intelectual, emocional, interpessoal, organizacional, intuitiva, teoricamente precisamos abrir à força o nosso caminho através da parede sólida, mesmo com o risco de criar o caos, a loucura e a morte. Deste lado do muro é este o risco. Não há tranqüilidades, garantias.
Muita gente está disposta a ter fé no sentido da crença cientificamente indefensável de uma hipótese não comprovada. Poucos têm bastante confiança para testá-la. Muita gente imagina o que sente. Poucos são levados a crer, graças ao que sentem. Paulo de Tarso foi agarrado pela nuca, atirado ao chão e ficou cego durante três dias. Esta experiência direta era autocomprovante.
Vivemos num mundo secular. Pra adaptar-se a este mundo a criança renuncia ao seu êxtase. (L”enfant abdique son êxtase” – Mallarmé). Tendo perdido a nossa experiência do espírito, esperamos ter fé. Mas esta fé vem a ser crença numa realidade que não é auto-evidente. Uma profecia de Amós diz que virá um tempo de penúria na terra, “não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a palavra do Senhor”. Este tempo chegou. É a época presente.
Do ponto de partida alienado de nossa pseudo-sanidade, tudo é equívoco. A nossa sanidade não é “verdadeira”. A loucura deles não é “verdadeira”. A loucura de nossos pacientes é um artefato de destruição que desencadeamos sobre eles, e eles sobre nós. Que ninguém suponha que encontramos “verdadeira” loucura, ou que somos verdadeiramente sãos. A loucura que encontramos nos “pacientes” é um grosseiro travesti, um gracejo, uma grotesca caricatura daquilo que poderia ser a cura natural daquela integração alienada a que chamamos sanidade. A verdadeira sanidade acarreta, de um modo ou de outro, a dissolução do ego normal, daquele falso self competentemente ajustado à nossa alienada realidade social: o aparecimento dos mediadores arquetipais “interiores” do poder divino, e, por intermédio desta morte, o renascimento e eventual restabelecimento de uma nova espécie de funcionamento do ego, sendo este agora servo do divino e não mais seu traidor.
Você pode ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não se esqueça de que sua vida é a maior empresa do mundo. E você pode evitar que ela vá a falência.

Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por você. Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas, relacionamentos sem desilusões.

Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros.

Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas refletir sobre a tristeza. Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos. Não é apenas ter júbilo nos aplausos, mas encontrar alegria no anonimato.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de cada um de nós. É ter maturidade para falar eu errei. É ter ousadia para dizer me perdoe. É ter sensibilidade para expressar eu preciso de você. É ter capacidade de dizer eu te amo. É ter humildade da receptividade.

Desejo que a vida se torne um canteiro de oportunidades para você ser feliz . .

E, quando você errar o caminho, recomece. Pois assim você descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita.
Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Usar as perdas para refinar a paciência. Usar as falhas para lapidar o prazer. Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.

Jamais desista de si mesmo.

Jamais desista das pessoas que você ama. Jamais desista de ser feliz, pois a vida é um obstáculo imperdível, ainda que se apresentem dezenas de fatores a demonstrarem o contrário.

Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo . . .

Fernando Pessoa

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O RAPPA

Vapor Barato



Composição: Jards Macalé / Waly Salomão


Uauau! Uauauauau!Uauau! Uauauauau!
Sim!Eu estou tão cansado
Mas não prá dizer
Que eu não acredito
Mais em você
Minhas calças vermelhas
Meu casaco de general
Cheio de anéis...

Eu vou descendoPor todas as ruas
E vou tomar aqueleVelho navio
E vou tomar aqueleVelho navio
Aquele velho navio...

Eu não preciso
De muito dinheiro
Graças a Deus!
E não me importa
E não me importa não...
A Minha Honey Baby!
Baby! Baby!Honey BabyOh!
Minha Honey Baby!Baby!
Baby!Honey Baby...

Sim!Eu estou tão cansado
Mas não prá dizer
Que eu estou indo embora
Talvez eu volte
Um dia eu volto
Quem sabe!
Mas eu preciso
Eu preciso esquecê-la...
A minha grande
A minha pequena
A minha imensa obsessão
A minha grande obsessão...A Minha Honey Baby!Baby! Baby!Honey BabyOh!
Minha Honey Baby!Baby! Baby!Honey Baby...
Uauau! Uauauauau!Uauau! Uauauauau!...(2x)

Sim!Eu estou tão cansado
Mas não prá dizer
Que eu não acreditoMais em você
Com minhas calças vermelhas
Meu casaco de general
Cheio de anéis...Eu vou descendoPor todas as ruas
E vou tomar aqueleVelho navio
E vou tomar aqueleVelho navio
Aquele velho navio...

Eu não precisoDe muito dinheiro
Graças a Deus!E não me importa
E não me importa não...A Minha Honey Baby!Baby! Baby!
Honey Baby Oh! Minha Honey Baby!Baby! Baby!
Honey Baby...
Uauau! Uauauauau!Uauau! Uauauauau!Uauau! Uauauauau!Uauau! Uauauauau!...(3x)
PRECISA-SE DE LOUCOS!

Madalena Carvalho





Precisa-se de loucos De loucos uns pelos outros! Que em seus surtos de loucura tenham habilidades suficientes para agir como treinadores de um mundo melhor. Que olhem a ética, o respeito às pessoas e a responsabilidade social não apenas como princípios organizacionais, mas como verdadeiros compromissos com o Universo.

Precisa-se de loucos de paixão. Não só pelo trabalho, mas principalmente por gente, que vejam em cada ser humano o reflexo de si mesmo, trabalhando para que velhas competências dêem lugar ao brilho no olhar e a comportamentos humanizados. Precisa-se de loucos de coragem para aplicar a diversidade em suas fileiras de trabalho, promovendo igualdade de condições sem reservas, onde as minorias possam ter seu lugar, em um ambiente de satisfação e crescimento pessoal, independente do tamanho do negócio,segmento ou origem do capital.
Precisa-se de loucos visionários que, além da prospecção de cenários futuros, possam assegurar um novo amanhã, criando estratégias de negócios que estejam intrinsecamente ligadas à felicidade das pessoas. Primeiro a gente é feliz, depois a gente faz sucesso, não se pode inverter esta ordem. Precisa-se de loucos pelo desconhecido que caminhem na contramão da história, ouvindo menos o que os gurus tem a dizer sobre mobilidade de capitais, tecnologia ou eficiência gerencial e ouvindo mais seus próprios corações. Precisa-se de loucos poliglotas que não falem inglês, espanhol, francês ou italiano, mas que falem a língua universal do amor, do amor que transforma, modifica e melhora. Palavras não transformam empresas e sim atitudes.
Precisa-se simplesmente de loucos de amor. De amor que transcende toda a hierarquia, que quebra paradigmas; Amor que cada ser humano deve despertar e desenvolver dentro de si e pôr a serviço da vida própria e alheia; Amor cheio de energia, amor do diálogo e da compreensão, amor partilhado e divino, do jeito que Deus gosta. As organizações precisam urgentemente de loucos, capazes de implantar novos modelos de gestão, essencialmente focados no SER, sem receios de serem chamados de insanos, que saibam que a felicidade consiste em realizar as grandes verdades e não somente em ouvi-las… Ou resgatamos a inocência perdida ou teremos que desistir de vez da condição de HUMANOS. Qual vai ser a sua atitude?

domingo, 5 de outubro de 2008

meus velhos olhos cansados...



REFUGIOS LONGÍQUOS...
Camilla
“Que ótimo seria se um congressista pegasse febre aftosa.Aí seriamos obrigados a sacrificar todo o rebanho.”



Heráclito
"A pedra que no papel nem serve para desenhar uma reta, dentro d'água faz círculos perfeitos."


Friedrich Nietzsche
"O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são... "



HAMMED
"Fincar-se numa só linha de pensamento ou corrente filosófica pode parecer a maneira mais segura de se viver, contudo é a mais infantil delas!"


HAMMED
Perdoar não significa esquecer as marcas profundas que nos deixaram, ou mesmo fechar os olhos para a maldade alheia. Perdoar é desenvolver um sentimento profundo de compreensão, por saber que nós e os outros ainda estamos distantes de agir corretamente. Por não estarmos, momentaneamente, em completo contato com a intimidade de nossa criação divina, é que todos nós temos, em várias ocasiões, gestos de irreflexão e ações inadequadas. É sempre importante saber que: Perdoar é o modo mais sublime de crescer , pedir perdão é o modo mais sublime de se levantar ...

( P. S: POR ISSO PERDOEM-ME ).

Ave Fênix




Mitologia grega.
Origem egípcia, partindo-se do nome da ave Benu, espécie de “garça real”.
O primeiro escritor da Hélade a falar dessa ave foi Heródoto, que afirma não tê-la visto, a não ser em pintura, mas acrescenta que a mesma visitava o Egito somente a cada quinhentos anos, segundo os habitantes de Heliópolis.
Trata-se de uma ave fabulosa, originária da Etiópia, mas cujo mito está relacionado, no país dos faraós, com o culto de Ra-Herakheit, isto é, o Sol vivo.
Após Herodoto, poetas, mitógrafos e astrólogos apoderaram-se de Fênix, cuja plumagem era uma combinação de vermelho, azul-claro, púrpura e ouro, embora o historiador grego, na passagem supracitada, só mencione as asas que possuíam a cor do ouro e adianta que as outras penas refletiam um vermelho muito intenso.
De porte imponente como a águia, era a única ave existente de sua espécie, não podendo, assim, reproduzir como as demais. O mito, por isso, centrou-se em sua morte e renascimento.
Sentindo que o fim era eminente, Fênix reunia plantas aromáticas, incenso, amomo e formava uma espécie de ninho. Os mitógrafos introduziram duas versões a partir desse ponto.
Uns asseveram que ela mesma põe fogo em sua pira perfumada ou a incendeia com seu próprio calor, renascendo das cinzas uma nova Fênix.
Outros são pouco mais prolixos. Deitando-se no ninho, deixa cair sobre ele seu sêmen e morre.
Da semente depositada nasce a nova Fênix. Esta escolhe o cadáver paterno e guarda-o num tronco oco de mirra. Transporta-o, em seguida, para Heliópolis, onde é cremado sobre o altar de Ra, o Sol. Era a única oportunidade em que ela visitava o Egito, o que acontecia a cada quinhentos anos, como se frisou.
Sua chegada a Heliópolis era triunfal. Sobrevoava majestosamente a cidade , escoltada por um bando de aves, que lhe prestavam homenagem. Pairava sobre o alto do Deus Ra e aguardava a aproximação de um sacerdote, que a comparava com a pintura existente nos livros sagrados e só então o tronco de mirra era solenemente cremado.
Terminada a cerimônia, a nova Fênix retornava a Etiópia, onde se alimentava de pérolas de incenso até o cumprimento de um novo ciclo de morte e renascimento.
Os astrólogos relacionaram o ciclo cronológico de Fênix com a grande revolução sideral, que se repetia a cada renascimento da ave aurirrubra da Etiópia.
Símbolo da regeneração e da vida, Fênix é a montaria dos imortais. Tradução de um desejo inconteste de sobrevivência e de ressurreição, a mais bela das aves é o triunfo da vida sobre a morte.

sábado, 4 de outubro de 2008

RIMBAUD

O saisons, ô châteaux!
Quelle âme est sans défauts?
J' ai fait la magique
étudeDu Bonheur, qu' aucun n' élude.
Salut à lui,
chaque foisQue chante le coq gaulois.
Ah! je n' aurai plus d' envie:Il s' est chargé de ma vie.
Ce charm a pris âme et corps,Et dispersé les efforts.
O saisons, ô châteaux!L' heure de sa fuite,
hélas!Sera l' heure du trépas.
O saisons, ô châteaux!


Oh estações, oh castelos!
Que alma é sem defeitos?
Eu estudei a alta magia
Do Amor, que nunca sacia.
Saúdo-te toda vez
Que canta o galo gaulês.
Ah! Não terei mais desejos:
Perdi a vida em gracejos.
Tomou-me corpo e alento,
E dispersou meus pensamentos.
Ó estações, ó castelos!
Quando tu partires, enfim
Nada restará de mim.
Ó estações, ó castelos!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

EXIGÊNCIA POLITICA :


- QUEREMOS MENTIRAS NOVAS !!!

REINALDO FERREIRA

O Futuro


Aos Domingos, iremos ao jardim.
Entediados, em grupos familiares, Aos pares,
Dando-nos ares
De pessoas invulgares,
Aos Domingos iremos ao jardim.
Diremos nos encontros casuais
Com outros clãs iguais,
Banalidades rituais Fundamentais.
Autómatos afins, Misto de serafins Sociais
E de standardizados mandarins,
Teremos preconceitos e pruridos,
Produtos recebidos na herança
De certos caracteres adquiridos.
Falaremos do tempo, Do que foi, do que já houve...
E sendo já então Por tradição
E formação Antiburgueses - Solidamente antiburgueses-,
Inquietos falaremos
Da tormenta que passa
E seus desvarios.
Seremos aos domingos, no jardim,
Reaccionários

Manuel Bandeira

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
PolíticoRaquíticoSifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras
de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare-
Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

( Luís de Camões ).
** A MAIORIA DE NÓS, ACHAMOS COMPLICADO " SENTIR", COMO FORMA TOTAL DE ENTREGA, COMUNHÃO E BUSCA. TALVEZ ISSO SE DÊ, POR SABERMOS TÃO POUCO SOBRE NÓS...


** FAZ TEMPO , MUITOS BUSCAM SE ENCONTRAR . EMBORA , GRANDE PARTE DESSES
" MUITOS "; NÃO ACREDITAM MESMO ESTAREM PERDIDOS ...

** ME ADMIRO DE NÓS OS PEQUENOS SERES E , NOSSO OTIMISMO DESENFREADO . NA MAIORIA DAS VEZES , ELE SEQUER É REFLEXO DE NOSSAS AÇÕES ...

** AINDA BEM QUE NÃO SOU UM SER FINALIZADO . DESSA FORMA , POSSO ME DAR AO LUXO DE ERROS CONSTANTES . QUE ME TRAGAM FORMAS DIFERENTES DE OLHAR , APRENDENDO UM POUCO , PARA QUE ME TORNE ALGO MELHORADO!!!

( E . A ).

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Cântico Negro
Cântico Negro
José Régio

‘Vem por aqui» — dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.

Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por ai! Só vou por onde Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, fdi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: <(vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!
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ANTOLOGIA POÉTICA
José Régio – Edições Quasi - Lisboa – Portugal - 2001