sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A POLÍTICA DA EXPERIÊNCIA E A AVE DO PARAISO - de R.D. Laing.

Vivemos numa época em que os fundamentos se alteram e se abalam as fundações. Não posso responder por outros tempos e locais. Talvez tenha sido sempre dessa forma. Sabemos que hoje é assim.Nestas circunstâncias temos toda a razão de nos sentirmos inseguros. Quando os fundamentos do nosso mundo são postos em dúvida, procuramos os nossos refúgios, recorremos a funções, status, identidades, relações interpessoais. Tentamos viver em castelos que só podem ser fantásticos, uma vez que não existe terra firme no cosmos social em que foram construídos. Somos todos testemunhas deste estado de coisas. Cada qual vê às vezes o mesmo fragmento de uma situação total de maneira diversa; com freqüência preocupamo-nos com diferentes apresentações da catástrofe original. Desejo relacionar neste capítulo as experiências transcendentais que às vezes ocorre na psicose com aquelas experiências do divino que constituem a fonte viva de toda religião.
No capítulo anterior esbocei o modo pelo qual alguns psiquiatras estão começando a desfazer suas categorias clínico-médicas de compreensão de loucura. Se conseguirmos principiar a entender sanidade e loucura em termos sociais existenciais, seremos mais aptos a ver claramente a medida pela qual todos nós enfrentamos problemas e partilhamos dilemas comuns. A experiência pode ser considerada louca de maneira inválida, ou verdadeiramente mística. A distinção não é fácil. Em ambos os casos, do ponto de vista social, tais julgamentos caracterizam diferentes formas de comportamento consideradas desvios em nossa sociedade. As pessoas portam-se assim porque sua experiência de si próprias é diferente. É o sentido existencial dessa experiência fora do comum que desejo focalizar.
A experiência psicótica ultrapassa os horizontes do nosso senso comum, isto é, comunal.
A que regiões de experiência conduz? Acarreta a perda das costumeiras bases do "senso" do mundo que partilhamos uns com os outros. Velhos propósitos já não parecem viáveis: velhos sentidos deixam de ter sentido; as distinções entre imaginação, sonho, percepções externas já não parecem ter as antigas aplicações. Ocorrências externas parecem conjuradas por magia. Os sonhos talvez pareçam comunicações diretas dos outros, a imaginação, realidade objetiva.
Mas, o que é mais importante, os próprios fundamentos ontológicos estão abalados. O ser dos fenômenos e os fenômenos do ser talvez não se apresentem a nós como antes. Não existem apoios, nada a que se agarrar, exceto talvez alguns fragmentos de naufrágio, algumas lembranças, nomes, sons, um ou dois objetos que conservam um elo com o mundo há muito perdido. Este vácuo talvez não esteja vazio. Pode estar povoado de visões e vozes, fantasmas, formas estranhas e aparições. Ninguém que não tenha sentido o quanto pode ser insubstancial o desfile da realidade exterior, que não saiba como é capaz de empalidecer, compreenderá plenamente as presenças sublimes e grotescas que talvez a substituam ou existam paralelas a ele.
Quando a pessoa enlouquece, ocorre uma profunda transposição de sua posição em relação a todos os domínios do ser. Seu centro de experiência desloca-se do ego para o Self. O tempo mundano torna-se uma simples anedota, só importa o que é eterno. Contudo, o louco está confuso. Misturam ego com self, interior com exterior, natural com sobrenatural. No entanto, pode ser com freqüência pra nós, mesmo através de sua profunda infelicidade e desintegração, o hierofante do sagrado. Exilado do cenário do ser como conhecemos, ele é um estranho, um alienígena, acenando para nós do vácuo onde está mergulhado, um vácuo povoado de presenças que nem sequer suspeitamos. No passado eram chamadas demônios e espíritos, eram conhecidas e nomeadas. A pessoa perdeu o senso do self, os sentimentos, seu lugar no mundo como o conhecemos. Declara estar morta. Mas nós somos forçados a sair de nossa confortável segurança por esse louco fantasma que nos persegue com suas visões e vozes aparentemente tão insensatas que nos sentimos impelidos a libertá-lo, limpá-lo, curá-lo.
A loucura não precisa ser um colapso total. Pode ser também uma abertura. É potencialmente libertação e renovação, assim como escravização e morte existencial.Existe um número crescente de narrativas feitas por pessoas que viveram a experiência da loucura.
Apresento a seguir parte de narrativas contemporâneas mais antigas, registradas por Karl Jaspers em sua "Psicopatologia Geral":
"Creio que eu próprio causei a doença. Na tentativa de penetrar o outro mundo encontrei seus guardiões naturais, a personificação de minha própria fraqueza e falhas. Julguei a princípio que esses demônios fossem habitantes desprezíveis do outro mundo, que podiam brincar comigo como se eu fosse uma bola, porque penetrei naquelas regiões despreparado e me perdi. Mais tarde pensei serem partes isoladas de minha própria mente (paixões) que existiam próximo de mim no espaço livre alimentando-se de meus sentimentos. Acreditava que todos os demais os possuíssem também, embora sem percebê-lo, graças à ilusão protetora e bem sucedida do sentimento de existência pessoal. Julguei que a última fosse um artifício da memória, complexos de idéias, etc..., uma boneca bonita de se olhar, mas sem qualquer conteúdo real.
No meu caso, o self pessoal tornara-se poroso por causa do consciente obscurecido. Por seu intermédio eu queria aproximar-me das fontes mais sublimes da existência. Deveria ter-me preparado para isto durante um período prolongado de tempo, invocando em mim mesmo um self mais elevado, impessoal, já que o "néctar" não é para os lábios mortais. Agia de modo destrutivo sobre o self do animal humano, dividindo-o em partes que gradualmente se desintegravam. A boneca estava quebrada de fato e o corpo dilacerado. Eu forçara acesso em momento inconveniente à "fonte vital" e a ira dos "deuses" caíra sobre mim.
Percebi demasiado tarde a intervenção de elementos escusos. Passei a reconhecê-los depois que já haviam adquirido demasiado poder. Impossível recuar. Eu possuía então o mundo dos espíritos que desejara ver. Os demônios subiram dos abismos, como o guardião Cérbero, negando entrada aos não iniciados. Resolvi encetar a luta de vida ou morte. Isto significava para mim, ao final, a decisão de morrer, já que precisava renunciar a tudo que mantinha o inimigo, mas isto era também tudo o que me conservava a vida. Eu queria penetrar a morte sem enlouquecer e coloquei-me diante da Esfinge: "Ou entras no abismo, ou entro eu".
Ocorreu me então uma iluminação. Jejuei e assim penetrei na verdadeira natureza dos meus sedutores. Eram proxenetas e enganadores do meu querido self pessoal, que pareciam, tanto quanto eles, uma coisa do nada. Um self mais amplo e mais compreensivo emergiu e eu pude abandonar a anterior personagem com todo o seu séqüito. Vi que essa personalidade jamais poderia penetrar nas regiões transcendentais e senti uma dor terrível, um golpe aniqüilador, mas fui salvo, os demônios encolheram-se, desapareceram, pereceram. Uma nova vida começou para mim e de então em diante senti-me diferente das outras pessoas. Um self consistindo de mentiras convencionais, enganos, auto-ilusões, imagens da memória, um self exatamente como o dos outros tornou a crescer em mim, mas por detrás e acima erguia-se um self mais amplo e mais compreensivo, que me impressionou, sendo dotado de algo eterno, imutável, imortal e inviolável e que desde então tem sido meu protetor e refúgio. Acredito que seria bom para muitos conhecerem esse self mais elevado e saberem que há gente que alcançou este objetivo por meios mais tranqüilos”.

Este paciente descreveu, com uma lucidez que eu não saberia melhor, uma busca muito antiga, com suas armadilhas e perigos. Jaspers refere-se ainda a esta experiência como mórbida e inclina-se a menosprezar a interpretação do paciente. Contudo, tanto a experiência como a interpretação podem ser válidas em seus próprios termos.
Certas experiências transcendentais parecem-me a fonte original de todas as religiões. Algumas pessoas psicóticas passam por experiências transcendentais. Com freqüência (que se lembrem), jamais passaram anteriormente por elas e muitas vezes não as tornarão a viver. Não digo, porém, que a experiência psicótica contenha necessariamente esse elemento de maneira mais manifesta que a sã experiência.
Experienciamos de diferentes maneiras. Percebemos as realidades exteriores, sonhamos, imaginamos, entregamo-nos a devaneios semiconscientes. Há quem tenha visões, alucinações, fique transfigurado, veja auras, etc... A maioria das pessoas sente a sim mesma e aos outros, quase todo o tempo, de um modo que chamarei egóico, isto é, centralmente ou periferalmente sentem o mundo e a si mesmas em termos de uma identidade consistente, um eu-aqui contra você-aí, dentro de uma estrutura de espaço e tempo partilhada por outros membros de sua sociedade.
Esta experiência de identidade-ancorada, limitada por tempo e espaço, foi filosoficamente estudada por Kant e mais tarde por fenomenologistas como Hursserl e Merleau-Ponty. Sua relatividade histórica e ontológica deveria ser plenamente percebida por qualquer estudante contemporâneo do cenário humano. Sua relatividade social e sócio-econômica tornou-se um lugar-comum entre os antropólogos e uma banalidade para os marxistas e neomarxistas. Contudo, oferecendo uma confirmação consensual e interpessoal, proporciona-nos um senso de segurança ontológica, cuja validade experienciamos como autoconfirmadora, embora saibamos que, do ponto de vista metafísico-ontológico-sócio-econômico-cultural, sua aparente validade absoluta seja uma ilusão.
Na verdade, todas as filosofias religiosas e existenciais concordam em que essa experiência egóica é uma ilusão preliminar, um véu – um sonho para Heráclito e Lao- Tzu, a ilusão fundamental de todo o budismo, um estado de sono, de morte, de loucura socialmente aceita, um estado vegetativo ao qual é preciso morrer e do qual é necessário nascer.
A pessoa que passa pela perda do ego, ou por experiências transcendentais pode tornar-se ou não confusa de diferentes maneiras. E talvez seja legitimamente considerada louca. Mas para ser louco não é obrigatório estar doente, embora em nossa cultura as duas categorias se confundam. Supõe-se que uma pessoa louca(seja qual for o sentido da palavra) ipso facto está doente (seja qual for o sentido da palavra). A experiência em que a pessoa se encontra absorvida, enquanto para os outros parece simplesmente doentia, talvez seja para ela um verdadeiro maná do céu. Toda a sua vida pode transformar-se, mas é difícil não duvidar da validade de tal visão. Além do mais, nem todos voltam para nós.
Serão tais experiências a simples efulgência de um processo patológico, ou de determinada alienação? Não o creio.
Em certos casos, um homem cego de nascença pode submeter-se a uma operação que lhe devolva a visão. O resultado é com freqüência infelicidade, confusão, desorientação. A luz que ilumina o louco é uma luz não-terrena. Nem sempre é uma refração de sua situação no mundo. Pode ser irradiada de outros mundos e talvez o consuma.
Esse “outro” mundo não é essencialmente um campo de batalha onde as forças psicológicas, derivadas ou desviadas, deslocadas ou sublimadas de sua cathexes-objeto, empenham-se numa luta ilusória – embora tais forças possam obscurecer essas realidades, assim como podem obscurecer as chamadas realidades externas. Quando Ivan, dos Irmãos Karamazov, diz: “Se Deus não existe, tudo é permissível.”, não está dizendo: “Se o meu superego projetado pode ser abolido, posso fazer o que quiser de consciência tranqüila.” E sim: “Se existe apenas a minha consciência, então há validade para a minha vontade”.
Entre médicos e padres deveria haver alguns orientadores que retirassem a pessoa deste mundo e a introduzissem no outro. Que a orientassem dentro dele e a conduzissem de volta.
Penetra-se no outro mundo quebrando uma concha, ou transpondo um limiar, atravessando uma repartição, erguendo ou afastando-se cortinas, descerrando um véu. Sete véus, sete selos, sete céus.
O “ego” é o instrumento para se viver neste mundo. Se ele se romper, ou for destruído (pelas invencíveis contradições de certas situações na vida, por meio de toxinas, alterações químicas, etc.., então a pessoa talvez fique exposta a outros mundos, “reais” de diferentes maneiras, da esfera mais familiar dos sonhos, da imaginação, da percepção ou da fantasia.
O mundo que se penetra, a nossa capacidade para experiência-lo, parece em parte estar condicionado ao estado do nosso próprio “ego”.
Nossa época distinguiu-se, mais do que por qualquer outra coisa, por um impulso a controlar o mundo exterior e pelo quase total esquecimento do mundo interior. Se calcularmos a evolução humana do ponto de vista do conhecimento do mundo exterior, então estaremos, em vários sentidos, progredindo.
Se o nosso cálculo for feito do ponto de vista do mundo interior e da unidade interno-externo, então o juízo precisa ser muito diferente.
Fenomenologicamente, os termos “interior” e “exterior” tem pouca validade. Mas em toda esta esfera a pessoa está reduzida a expedientes verbais – palavras não passam do dedo apontando para a lua. Uma das dificuldades de se falar de tais assuntos nos dias de hoje é que a própria existência das realidades interiores encontra-se agora posta em dúvida.
Por “interior” refiro-me a nossa maneira de ver o mundo exterior e todas as realidades que não possuem presença “externa”, “objetiva” – imaginação, sonhos, fantasias, transes, as realidades dos estados contemplativos e meditativos, realidades de que o homem moderno, na maioria, não possui a mais leve percepção direta.
Por exemplo: em parte alguma da Bíblia existe qualquer debate relativo à existência de deuses, demônios, anjos. As pessoas não “crêem em” Deus, para começar: sentem a sua Presença, como ocorre com outros agentes espirituais. A questão não era a existência de Deus, mas se este Deus em particular era o maior de todos, ou o único, e qual a relação dos vários agentes espirituais, uns com os outros. Existe hoje um debate público, não com respeito à autenticidade de Deus, ao lugar atribuído na hierarquia espiritual aos diferentes espíritos, etc., mas se Deus ou esses espíritos chegam a existir, ou jamais existiram.
A sanidade parece repousar amplamente, hoje, na capacidade para adaptar-se ao mundo exterior – o mundo interpessoal e o reino da coletividade humano.
Como esse mundo exterior humano está quase completamente separado do interior, qualquer percepção pessoal direta desse mundo interior já apresenta graves riscos.
Mas, desde que a sociedade, sem saber, encontra-se esfaimada pelo que há de interior, as exigências para se evocar a sua presença de maneira “segura”, de modo que não precisa ser levado a sério, etc., são tremendas, e a ambivalência igualmente intensa. Não admira que seja tão grande o número dos artistas que naufragaram nesses rochedos nos últimos 150 anos – Hoelderlin, John Clare, Rimbaud, Van Gogh, Nietzsche, Antonin Artaud. . .
Os que sobreviveram possuem qualidades excepcionais – capacidade para o segredo, o disfarce, a astúcia – um cálculo totalmente realista dos riscos que correm, não só na esfera do espiritual que freqüentam, como na do ódio dos seus semelhantes por quem quer que esteja empenhado nesta busca.
Vamos curá-los. O poeta que confunde uma mulher real com a sua Musa e age de acordo . . . O jovem que embarca e m um iate em busca de Deus . . .
O exterior divorciado de qualquer luz interior é um estado de escuridão. Vivemos numa época de obscurantismo. O estado de escuridão exterior é um estado de pecado - isto é – alienação ou afastamento da luz interior. Certos atos conduzem a um afastamento maior; outros ajudam a pessoa a não se afastar tanto. O primeiro era chamado, antigamente, pecaminoso.
As maneiras de perder-se são legião. A loucura não é com certeza a menos ambígua. A contraloucura da psiquiatria de Kraepelin é a exata contrapartida da “psicose” oficial. Literalmente, e com absoluta seriedade, é igualmente louca, se por loucura entendermos qualquer afastamento radical da totalidade do que quer que seja. Recordemos a loucura objetiva de Kierkegaard.
Agimos da maneira como experenciamos o mundo. Conduzimos-nos à luz de nossa opinião daquilo que é, ou não é o caso. Isto é, cada pessoa é um ontologista mais ou menos ingênuo. Cada qual tem suas opiniões sobre aquilo que é, ou não é.
Não há dúvida, na minha opinião, de que tem havido profundas mudanças na experiência humana, nos últimos mil anos. De certo modo isto é mais evidente do que as alterações nos padrões de comportamento. Tudo sugere que o homem sentia a Deus. A fé jamais foi uma questão da crença na sua existência e sim na confiança na presença que era sentida e que se sabia existir como um dado autêntico por si mesmo. Parece provável que muita gente da nossa época nem sinta a presença de Deus, nem a presença de sua ausência, e sim a ausência de sua presença.
Precisamos de uma história dos fenômenos e não apenas mais fenômenos históricos.
No estado em que estão as coisas, o psicoterapeuta secular encontra-se com freqüência no papel do cego orientando o meio-cego.
A fonte não se esgotou, a chama brilha ainda, o rio corre, a fonte ainda borbulha, a luz não se apagou.. Mas entre nós e Ele existe um véu, que será provavelmente quinze metros de concreto sólido. Deus Absconditus. Ou fomos nós que o escondemos.
No nosso tempo, tudo se inclina a categorizar e segregar esta realidade dos fatos objetivos. É isto precisamente a parede de concreto. Intelectual, emocional, interpessoal, organizacional, intuitiva, teoricamente precisamos abrir à força o nosso caminho através da parede sólida, mesmo com o risco de criar o caos, a loucura e a morte. Deste lado do muro é este o risco. Não há tranqüilidades, garantias.
Muita gente está disposta a ter fé no sentido da crença cientificamente indefensável de uma hipótese não comprovada. Poucos têm bastante confiança para testá-la. Muita gente imagina o que sente. Poucos são levados a crer, graças ao que sentem. Paulo de Tarso foi agarrado pela nuca, atirado ao chão e ficou cego durante três dias. Esta experiência direta era autocomprovante.
Vivemos num mundo secular. Pra adaptar-se a este mundo a criança renuncia ao seu êxtase. (L”enfant abdique son êxtase” – Mallarmé). Tendo perdido a nossa experiência do espírito, esperamos ter fé. Mas esta fé vem a ser crença numa realidade que não é auto-evidente. Uma profecia de Amós diz que virá um tempo de penúria na terra, “não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a palavra do Senhor”. Este tempo chegou. É a época presente.
Do ponto de partida alienado de nossa pseudo-sanidade, tudo é equívoco. A nossa sanidade não é “verdadeira”. A loucura deles não é “verdadeira”. A loucura de nossos pacientes é um artefato de destruição que desencadeamos sobre eles, e eles sobre nós. Que ninguém suponha que encontramos “verdadeira” loucura, ou que somos verdadeiramente sãos. A loucura que encontramos nos “pacientes” é um grosseiro travesti, um gracejo, uma grotesca caricatura daquilo que poderia ser a cura natural daquela integração alienada a que chamamos sanidade. A verdadeira sanidade acarreta, de um modo ou de outro, a dissolução do ego normal, daquele falso self competentemente ajustado à nossa alienada realidade social: o aparecimento dos mediadores arquetipais “interiores” do poder divino, e, por intermédio desta morte, o renascimento e eventual restabelecimento de uma nova espécie de funcionamento do ego, sendo este agora servo do divino e não mais seu traidor.

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